sexta-feira, 15 de maio de 2015

Notas sobre as eleições britânicas (3): subir e perder

Convidado para participar num debate sobre as eleições britânicas do passado dia 7 de Maio, tive que analisar os seus resultados com atenção. Partilho algumas conclusões a que cheguei, contrariando nalguns casos algumas análises superficiais que ouvi na noite eleitoral e no dia seguinte e que não levavam em conta as particularidades do sistema eleitoral britânico.

Vistos os números dos votos, as coisas não são o que parecem. E os mais queixosos bem podem ser os trabalhistas, que subiram... mas desceram.


Os trabalhistas, de facto, "ganharam": subiram em votos (mais 740.000 votos) e em percentagem eleitoral (mais 1,4%). Mas perderam 26 deputados, o que não é coisa pouca. Curiosamente, o Labour teve mais 8% de votos eleitorais que em 2010; mas perdeu 10% dos lugares que detinha nos Comuns. Houve uma relação inversa entre os seus votos e os mandatos obtidos. Coisas... do sistema eleitoral britânico.

À parte a sova que levaram na Escócia (onde perderam 1/3 do seu eleitorado e baixaram de 42% para 24,3%) - consequência do patriotismo britânico com que se atravessaram no referendo escocês de Setembro passado -, os trabalhistas melhoraram a sua votação em Inglaterra e em Gales. No País de Gales, passou-se, porém, a mesma curiosidade britânica: os trabalhistas ganham, mas perdem - têm mais 20.000 votos e mais 0,7 pontos percentuais, mas perdem 1 deputado. Contudo, já em Inglaterra, os trabalhistas consolidaram posições, subindo em votos (mais 1 milhão de votos), em percentagem (mais 3,5 pontos percentuais) e mais mandatos (mais 15 deputados).

Em síntese, a quebra de mandatos dos trabalhistas deveu-se unicamente à dimensão da tareia escocesa, que o sistema eleitoral britânico amplia enormemente: a perda de 1/3 de eleitores escoceses levou à perda de 40/41 dos mandatos parlamentares.

O outro grande frustrado da noite eleitoral, foi o UKIP, que galgou para o estatuto de terceiro partido britânico, com 3.881.099 votos e 12,6% de percentagem eleitoral, mas... apenas 1 deputado na Câmara dos Comuns.

E o grande perdedor acaba por ser Nick Clegg e os seus LibDem. Estes, sim, perderam tudo: perderam votos (menos 3.660.000 votos), perderam peso eleitoral (menos 16,3 pontos percentuais) e perderam mandatos em Westmisnter (menos 49 deputados).

Na minha interpretação, foi o eleitorado LibDem que foi dar a surpreendente vitória com maioria absoluta a David Cameron: assustado com as persistentes sondagens que davam empate entre conservadores e trabalhistas e com um cenário à vista de possível coligação Labour/SNP, 3/5 do eleitorado LibDem tirou-se de cuidados e foi votar direitinho no anterior parceiro de coligação. Pimba! Chorou Nick Clegg, riu-se por último David Cameron.

Foi este factor, a meu ver, o principal factor da maioria absoluta parlamentar de Cameron (não o único, obviamente). E é também esse mesmo factor - o "voto útil" dos LibDem nos candidatos Tories, decidido à boca das urnas - que explica a discrepância, tão comentada, entre as sondagens antes das eleições e logo as exit polls, confirmadas (e reforçadas) pelos resultados finais.

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