sábado, 16 de maio de 2015

Notas sobre as eleições britânicas (4): quem ri por último...

Convidado para participar num debate sobre as eleições britânicas do passado dia 7 de Maio, tive que analisar os seus resultados com atenção. Partilho algumas conclusões a que cheguei, contrariando nalguns casos algumas análises superficiais que ouvi na noite eleitoral e no dia seguinte e que não levavam em conta as particularidades do sistema eleitoral britânico.

É a vez de olhar a vitória conservadora.


O Partido Conservador ganhou. Não há dúvida nenhuma. Foi o partido mais votado e subiu quer em percentagem eleitoral (mais 0,8 pontos percentuais), quer em número votos (mais 600.000 votos). Conquistou a maioria absoluta dos mandatos, com alguma folga (6 lugares acima da metade) e superando as projecções das exit polls. Isto é o que conta. David Cameron foi o último a rir.

Mas este triunfo só foi possível naquele específico sistema eleitoral britânico, não podendo ser extrapolado para países de sistema proporcional como o nosso. Fosse o sistema britânico proporcional e estaríamos nesta altura com um hung Parliament - tal como se receava. Ou ter-se-ia renovado a coligação Conservadores/LibDem, com outra relação de forças; e, se esta não fosse suficiente, também com o DUP norte-irlandês.

A surpreendente vitória conservadora com maioria absoluta, foi facilitada por dois factores conjugados: por um lado, o aparente "voto útil" de muitos eleitores LibDem, como já destaquei em post anterior; por outro lado, o facto de haver mais pequenos partidos com votações relevantes (UKIP e Green, sobretudo), o que levou a repartições diferentes dos votos, favorecendo mais, nessa repartição, os candidatos conservadores. Nestas eleições, concorreram mais de 25 partidos e foram numerosas as circunscrições onde os votos eram disputados por mais de 10 candidatos; assim, por exemplo, no sistema britânico, se três partidos repartirem o grosso dos votos num determinado círculo e estiverem muito perto uns dos outros, o deputado vencedor pode ser eleito mesmo com menos de 30% dos votos. 

Este "benefício" aos candidatos conservadores foi particularmente nítido no País de Gales, em que o Labour subiu 0,7 pontos percentuais, mas perdeu 1 deputado, enquanto os Tories subiram apenas 1,1 pontos percentuais, mas conquistaram mais 3 mandatos. E também é muito flagrante em Inglaterra, onde os trabalhistas cresceram bem mais do que os conservadores, mas não subiram tanto em mandatos: Milliband teve mais 1,05 milhão de votos, enquanto Cameron só subiu 0,55 milhão de votos; Milliband alcançou mais 3,5 pontos percentuais e Cameron apenas mais 1,4; mas Milliband só ganhou mais 15 mandatos ingleses, enquanto Cameron foi arrecadar mais 21.

Numa palavra, Cameron e os seus votos foram mais produtivos. Há dias assim.


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