segunda-feira, 7 de abril de 2014

Fernando Ribeiro e Castro: homenagem dos camaradas da Marinha

Transcrevo o texto de homenagem em memória do meu irmão, publicado no blogue "Afonso Cerqueira", blogue colectivo do Curso Almirante Afonso Cerqueira (1969/73) da Escola Naval.

Fernando Ribeiro e Castro,
quando Capitão-de-Fragata

EM MEMÓRIA DE
FERNANDO AUGUSTO DE ALMEIDA RIBEIRO E CASTRO
31-5-1952 / 20-3-2014 
O Engenheiro Construtor Naval Fernando Augusto de Almeida Ribeiro e Castro nasceu em Lisboa, tendo falecido na mesma cidade, aos 61 anos de idade. 
Entrou para a Escola Naval em 1 de Outubro de 1969 e foi chefe do curso “Almirante Afonso Cerqueira”. 
Completado o curso de Marinha em 1973, foi nomeado Oficial Imediato do navio patrulha "Rovuma" em Angola, onde permaneceu até 1976. 
Esteve embarcado poucos anos porque, muito cedo, foi escolhido para frequentar o Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde em 30 de Janeiro de 1979 completou o curso "Naval Construction and Engeneering" com pós-graduação em "Naval Architecture and Ocean Engineering", tendo transitado para a classe de Engenheiros Construtores Navais. 
Colocado na Direcção do Serviço de Manutenção, desempenhou as funções de Chefe da Secção Técnica de Estruturas, onde deu continuidade a um projecto de conservação estrutural das querenas dos navios da Armada. 
Entre 7 de Outubro de 1988 e 31 de Outubro de 1990, com o posto de capitão-de-fragata, ao qual tinha sido promovido em 17 de Julho de 1987, foi professor da Escola Naval. 
Nesse período, para além das funções de docência, executou o primeiro anteprojecto de alteração do lugre “Creoula” para a sua adaptação como navio de treino de mar, ainda sob a tutela da Secretaria de Estado das Pescas, e foi incumbido de iniciar o projecto das lanchas costeiras, mais tarde cognominadas de classe “Argos”. 
Em Novembro de 1990 foi nomeado Chefe da Divisão de Projectos do Arsenal do Alfeite, tendo dado vida ao programa de construção nos estaleiros de Vila Real de Santo António de cinco lanchas costeiras (com nomes de constelações) que entraram ao serviço da Armada em 1991. 
Na altura, o Engenheiro Ribeiro e Castro procurou concretizar outros projectos com dimensão internacional e foi o precursor do desenvolvimento e implementação de um sistema de informação de gestão da produção (SIAGIP) com características avançadas, que muito beneficiou o funcionamento do Arsenal do Alfeite. 
O projecto das Lanchas "Argos" foi tão bem concebido que, entre 2000 e 2001, foram construídas no Arsenal do Alfeite e nos Estaleiros Navais do Mondego quatro lanchas da classe "Centauro", também conhecidas como a nova classe "Argos", cujas principais diferenças estão no armamento e na construção em alumínio do seu casco. 
O Engenheiro Fernando Ribeiro e Castro fez carreira na Marinha até ao dia 1 de Julho de 1992, data em que, com um profundo desgosto mas por incontornáveis imperativos familiares, decidiu precocemente ser abatido aos quadros, no posto de capitão-de-fragata. 
Passou a trabalhar no Banco Finantia, banco independente, onde esteve cerca de dezassete anos como Director Coordenador da Área Informática e Operações. 
Esta mudança radical de rumo na sua carreira profissional não alterou a sua maneira de ser e de estar na vida, nunca abandonando a sua profunda paixão pela Marinha e pelo Mar. 
Bem pelo contrário. Na sala de sua casa, em lugar de destaque, mantinha a espada de oficial de Marinha e as suas condecorações. Na vida civil, para além de um técnico competentíssimo, lutou arduamente pelo reconhecimento e aprofundamento do potencial estratégico do Mar e para o desenvolvimento da economia portuguesa. 
Esta sua paixão pelo mar acabou por conduzi-lo em 2010 ao cargo de Secretário-Geral do Fórum Empresarial da Economia do Mar, tendo nesta associação de empresas deixado um importante acervo de mobilização e de reflexão estratégica sobre as políticas públicas de Portugal no domínio do Mar. 
Orgulhava-se de ser Membro Correspondente da Classe de Artes, Letras e Ciências da Academia de Marinha. 
Homem de uma profunda e inabalável fé, orientou toda a sua vida de acordo com os valores da Democracia Cristã e da Doutrina Social da Igreja. Essa circunstância iluminou a sua acção como Presidente da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, pugnando pela promoção da natalidade e a defesa de melhores condições de vida para as famílias numerosas. 
A coragem e força de ânimo acompanharam-no até ao fim, contrapondo um estado de espírito altamente positivo face aos efeitos negativos da doença que contraiu. 
A sua ânsia de viver o dia-a-dia fê-lo manter a convivência com a Família e com os Amigos, sendo escrupuloso e exemplar no cumprimento dos deveres profissionais. 
Assim aconteceu no Fórum Empresarial da Economia do Mar, na Associação Portuguesa das Famílias Numerosas, nas causas pelas quais deu a cara e o tempo, no convívio com os amigos, com a sua mulher e com os seus 13 filhos e 26 netos. 
Um grande patriota dedicado à causa pública, um bom amigo, um apaixonado marido, um enorme pai, um avô sempre presente. 
Um homem de inteligência excepcional e um exemplo de dedicação às causas que abraçava. 
Uma daquelas pessoas que faz a diferença, que seguramente marcou pelo apego à Família e aos Amigos, pela sua humanidade, brilhantismo intelectual, simplicidade, desprendimento, determinação e entusiasmo por causas, que fisicamente nos deixa, mas cuja memória perdurará para sempre. 
O Fernando Ribeiro e Castro partiu seguramente em paz. 
Realça-se o facto de ter manifestado o desejo de ir fardado de Oficial de Marinha no seu caminho para a vida eterna. 
A todos os seus familiares, muito especialmente à Leonor, sua extremosa mulher, uma sentida palavra de condolências e a expressão da nossa mais profunda saudade. 
Curso Almirante Afonso Cerqueira

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