quarta-feira, 25 de julho de 2018

Bolseiros pós-doc: um colapso estratégico

Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de Clemente Pedro Nunes, hoje saído no jornal i.
O Estado, para investir no recrutamento de doutorados, tem de ter chefias que os saibam gerir e enquadrar numa perspetiva estratégica de interesse nacional.
 
Bolseiros pós-doc: um colapso estratégico
Um dos mais graves sintomas da falta de uma estratégia para o desenvolvimento económico-social de Portugal que a atual solução governativa tem evidenciado é a forma como tem lidado com o problema dos doutorados que têm vivido de bolsas de pós-doutoramento, sucessivamente renovadas. E isto fora de qualquer sistema estruturado para promover a prosperidade económica e a coesão social do nosso país.

É lamentável vermos milhares de pessoas com as mais altas formações académicas e que, ao mesmo tempo, têm graves dificuldades em se inserirem no mercado de trabalho. Só que as soluções para que o atual governo aponta apenas irão agravar a situação, em termos duma estratégia nacional digna desse nome.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) tem olhado para esta questão apenas de um ângulo “político-social”, considerando os doutorados com bolsas como um problema corporativo de trabalhadores em situação de “precariedade” que têm vindo a pressionar o governo reivindicando uma situação de “estabilidade laboral”. O que, na prática, quererá dizer o terem direito a adquirir um “lugar na administração pública”.

Numa perspetiva de valorização de recursos humanos de que o país dispõe, é de facto trágico! Mas não tem de ser assim!

Desde logo porque, em termos de coordenação estratégica, não faz qualquer sentido ser apenas o MCTES a tratar duma questão tão relevante para pôr o conhecimento tecnológico ao serviço do desenvolvimento económico-social do país.

A atual Agência Nacional de Inovação articula obrigatoriamente as perspetivas de dois ministérios: o da Ciência/Ensino Superior e o da Economia. Por isso, como já referido em anterior artigo, em abril de 2017, considero prioritário que seja retomado um programa de inserção de doutorados nas empresas, semelhante àquele que foi incompreensivelmente descontinuado em 2006 e pelo qual a então ADI (a Agência de Inovação, entretanto substituída pela Agência Nacional de Inovação) suportava o custo de 50% dos vencimentos dos três primeiros anos de trabalho efetivo de doutorados contratados pela primeira vez para trabalhar nas empresas – incluindo, como é óbvio, as startups e as “novas digitais”, atualmente tão fomentadas – para os doutorados serem incentivados a ir reforçar, com as suas competências, o “músculo competitivo” do tecido empresarial.

Mas, além disso, fica-se perplexo com o facto de, mesmo em termos do setor público, o MCTES, para resolver o problema reivindicativo que tem em mãos, apenas ter ido bater à porta (nalguns casos parece querer mesmo ir arrombar a porta…) das universidades.

É que vivemos num país que tem pelo menos um organismo do Estado que soube articular com sucesso a ciência, a tecnologia e a engenharia e pô-las ao serviço do desenvolvimento económico-social da sociedade: o LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Ora, o LNEC foi criado já há cerca de 70 anos pela visão de Manuel Rocha e de Eduardo Arantes e Oliveira, mas, depois disso, os casos de sucesso não abundam nesta área.

A gestão estratégica do trabalho de pessoas altamente qualificadas em termos científicos, como é o caso dos doutorados, é sempre uma tarefa difícil que exige, simultaneamente, elevadas competências científico-tecnológicas e de gestão estratégica, incluindo a capacidade de liderança de equipas multidisciplinares.
E mesmo em áreas não tecnológicas, como é o caso das ciências sociais e políticas/relações internacionais, certamente alguns destes bolseiros pós-doc poderiam dar um contributo em termos operacionais, por exemplo apoiando a nossa diplomacia no reforço do “músculo económico e político” de Portugal na cena mundial.

Mas o Estado, para investir no recrutamento de doutorados, tem de ter chefias que os saibam gerir e enquadrar numa perspetiva estratégica de interesse nacional. Porque, se as não tiver, estará apenas a destruir os recursos que os cidadãos e as empresas lhe pagam através dos impostos para pagar “subsídios para empregos avulsos”. E estará também a destruir uma perspetiva de carreira digna aos que assim permanecem à custa do contribuinte num “limbo tolerado”.

Estamos, pois, a assistir a um colapso estratégico nesta área fundamental por parte do governo, que apenas se propõe pôr dinheiro para resolver uma reivindicação laboral. Mas uma democracia de qualidade tem de ser muito mais que isso. Tem de saber transformar os desafios em oportunidades que reforcem a sociedade no seu conjunto, e não apenas uma pequena parte em detrimento de todas as restantes.
 
Clemente PEDRO NUNES
Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico
Subscritor do Manifesto Por Uma Democracia de Qualidade

NOTA: artigo publicado no jornal i.


quarta-feira, 18 de julho de 2018

Um berro de indignação

Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de João Luís Mota de Campos, saído hoje no jornal i
Portugal tem impostos de país rico: a carga fiscal e parafiscal sobre o trabalho dependente situa-se em 41%. As classes médias foram transformadas em vacas de dar leite e mungidas até não sobrar nada. 


Um berro de indignação
Portugal tem impostos de país rico: a carga fiscal e parafiscal sobre o trabalho dependente situa-se em 41%. As classes médias foram transformadas em vacas de dar leite e mungidas até não sobrar nada

Declaração de interesses primeira: sou advogado e trato de muitos casos de estrangeiros que pretendem por razões várias instalar-se em Portugal. Declaração de interesses segunda: sou contribuinte e pago dolorosamente os meus impostos.

Posto isto, aquilo que aqui hoje me traz é uma profunda indignação com a situação que se vive no nosso País. Ao longo dos últimos anos, e sobretudo depois do início da “crise”, a classe média portuguesa tem levado golpes cada vez mais fundos e dolorosos que a estão a proletarizar e a empobrecer.

Num país sem capital disponível, as classes médias poupam o que podem, que é cada vez menos, e aplicam as suas parcas poupanças nas poucas coisas que estão ao seu alcance: alguma terra que herdaram e teimosamente não vendem, casa própria e nos melhores casos uma residência secundária de férias e títulos do tesouro. A mera ideia de investir em carteiras de ações ou fundos especulativos é anátema para quem, sucessivamente ao longo dos anos, foi roubado e ludibriado, sem que ao menos aconteça alguma coisa aos ladrões.

A outra coisa em que as classes médias investem é na educação dos filhos.

Esta escassa carteira de investimentos está sob ameaça permanente, até porque como dizem as Mortáguas desta vida, é preciso ir buscar dinheiro “a quem mais acumula”. Como em Portugal “quem mais acumula” são as classes médias, foram transformadas em vacas de dar leite e abundantemente mungidas até não lhes sobrar nada.

Para um cidadão normal, a mera ideia de enriquecer ou ao menos investir alguma coisa com base num salário ou numa remuneração profissional é uma anedota de mau gosto. Depois de pagas as despesas essenciais da família, os custos de educação dos filhos, as mil e uma taxas e corveias com que o Estado nos presenteia em permanência, o que sobra mal dá para merecer o nome de poupança.

Entretanto, o País tem impostos de país rico: de acordo com os dados da OCDE, a carga fiscal e parafiscal (impostos diretos e segurança social) sobre o trabalho dependente situa-se em 41%. Isto, antes de o dinheiro que sobra ser consumido com um IVA de 23%, um dos mais altos da Europa.

Poupando no que podem, tentando viver a sua vida com a dignidade possível, manter a cabeça à tona de água, rezando a Deus que não lhes envie uma das pragas dos 3 D’s (doença, desemprego e divórcio), as classes médias portuguesas, habituadas a ser tratadas como gado reprodutor e sem direitos, olham atónitas para o que se passa no País.

Ao contrário do que seria de supor num país em que o preâmbulo da Constituição diz que estamos a caminho do socialismo há 43 anos, Portugal transforma-se debaixo dos nossos olhos num país profundamente desigual, de alguns muito ricos, para quem há tudo, e muitos remediados ou pobres.

Acontece até que muitos dos “ricos” são estrangeiros que vieram viver para Portugal, porque para eles Portugal é um paraíso fiscal. Tomemos um exemplo ao nível mais rico para Portugal: um reformado português que receba por mês a fortuna de 5.000 €, daqueles que foram sujeitos à Contribuição Especial de Solidariedade, e um reformado francês que receba os mesmos 5.000 €. No fim do mês, o francês recebe e mete ao bolso 5.000 €, porque paga 0% de impostos sobre a sua pensão de reforma; o português recebe 3 mil e tal euros. Podem até viver no mesmo prédio, mas são cidadãos de dois mundos diferentes.

Da mesma forma, dois engenheiros, um português e um alemão, pagos ao mesmo nível, pagarão o primeiro talvez 40% de impostos e o segundo 20% de impostos. Porquê? Porque o alemão terá reclamado o estatuto de Residente Não Habitual e apenas paga 20% sobre os seus rendimentos.

Mas, o francês e o alemão pagam zero por cento sobre todos os seus outros rendimentos obtidos fora de Portugal; os portugueses, bem, nós sabemos o que pagamos quando temos o azar de ter alguma coisa a que o fisco se possa agarrar...

Como é evidente, a profunda desigualdade que progressivamente se instala no nosso País, não se resume a isto. É muito mais funda e reflete-se nos mais variados aspetos da nossa vida: tente alguém investir em imobiliário e verá a completa panóplia de problemas insolúveis que a Câmara Municipal de Lisboa lhe põe no caminho, ao ponto de um licenciamento de obra demorar anos e inviabilizar qualquer investimento; mas se porventura for um fundo poderoso, uma grande empresa bem relacionada, tiver os arquitetos e os advogados certos (sei do que falo…), tudo se torna fácil, os direitos adquiridos são para valer, a CML desdobra-se para o ajudar. Tente plantar uns hectares de eucaliptos (o texto não dá para explicar porque é que é a única produção florestal rentável) e é tratado como um criminoso. Mas, se for uma grande empresa de celulose ou uma empresa com a capacidade necessária, torce todas as regras criadas para castrar quem tem pouco e até consegue que o Estado subsidie o investimento!

É assim que alguns passeiam pelo País como se fossem donos disto tudo, vivendo num mundo maravilhoso e “chique a valer”, na expressão de um grande semanário de referência do fim de semana passado, e outros labutam diariamente para manter a cabeça à tona.

Presidindo a tudo isto, e limitei-me a aflorar sintomas daquilo que é uma doença profunda e gangrenosa do tecido social, o Estado gordo, balofo, sanguessuga e inoperante que temos limita-se a reproduzir um discurso retórico e cansativo, indiferente à vida e às necessidades reais do País, com uma câmara de eco chamada Assembleia da República que nos transmite um espetáculo que chega a parecer imbecil.

Estamos naquele limiar em que “para os amigos tudo, para os indiferentes justiça lenta e cara”. Depois da crise, Portugal está pior, mais feio, mais desigual, menos justo e com uma democracia doente e que não tem qualidade nenhuma. Convém ter presente, caro leitor, que os “indiferentes” somos nós todos… 
João Luís MOTA CAMPOS
Advogado, ex-secretário de Estado da Justiça
Subscritor do Manifesto Por uma Democracia de Qualidade

NOTA: artigo publicado no jornal i.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

O Bananal - Pantomima de rua em 10 episódios

Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de António Pinho Cardão, saído ontem no jornal i.
O turismo é que não pára de crescer, reclamando o governo para si os méritos de tão rentável invasão.

O Bananal - Pantomima de rua em 10 episódios

1. Até junho, a redução da área ardida é de 71% da média dos últimos dez anos, referiu o ministro Eduardo Cabrita no parlamento. Tem toda a razão na empáfia: uma primavera fresca e chuvosa era uma das políticas definidas para o combate aos incêndios. Ter concretizado tal medida é obra. Aplausos da geral.

2. Fixou o governo para 2018 um aumento significativo do investimento público. Mas a execução orçamental, diz a UTAO, tem sido tão baixa que, excluindo a despesa com concessões – mero pagamento de obra já feita –, o investimento realizado até maio desceu em vez de subir, com a agravante de, no período homólogo passado, ter sido insignificativo.

Erro, por certo, da UTAO, que palavra orçamentada é palavra honrada. Com intermitência, claro está: a honra governamental vai sofrendo cortes e cativações ao ritmo das que faz no Orçamento. Aclamação da plateia para uma honra assim volátil, símbolo do novo tempo. 

3. Mas, ao contrário do investimento, a carga fiscal e a dívida pública portuguesa subiram às maiores alturas de sempre. Palmas para o governo, que a subir dívida e impostos é mesmo bom, e melhor ainda a negar que tal aconteça.

4. Comentando a recusa do PC e do Bloco em aprovar a revisão da lei laboral, o ministro Vieira da Silva enfatizou que tal revisão, mesmo que rejeitada pelos próprios, se inseria no espírito desses partidos – uma afirmação de suprema coerência, daquelas que conseguem fazer o círculo quadrado. E mais quadrado e mais redondo quando juntou que tal revisão poderia ter a aceitação do PSD. Afinal, todos juntinhos, espírito e votos. Ovação da esquerda baixa à direita alta.

5. Em fins de 2017, o governo congratulou-se com o acordo com os sindicatos relativamente à recuperação do tempo de serviço dos professores, que “traduzia um modelo responsável, financeiramente sustentável, e permitia devolver a paz social às escolas e valorizar a classe”.

Agora, “não há dinheiro para pagar esta reivindicação salarial…” e “decidir fazer a reabilitação do IP3 é decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos…”.

Também tem toda a razão: neste novo tempo, a palavra não é para honrar, é cantiga para entreter, mero intermezzo de pantomina de rua. O Orçamento foi posto no seu devido lugar. Saudação para tão excelente representação.

6. Administradores hospitalares dizem que o caos instalado nos serviços se acentuará inevitavelmente com a diminuição do horário para 35 horas e que a prometida entrada de novos enfermeiros para compensar tal diminuição apenas cobre um terço das necessidades. Por isso, fecham serviços.

Sabendo há muito que 35 é igual a 40, por milagroso decreto criador de uma produtividade colossalmente imaginativa, tem de admitir-se que só por uma insanável incompetência é que os administradores hospitalares não conseguem harmonizar serviço e turnos qualquer que seja o horário, na base do mesmo pessoal. Pateada estrondosa para os administradores hospitalares. 

7. Mas assinalável produtividade manifesta a Associação Montepio, ao declarar um lucro de 831 milhões, dos quais 790 milhões se devem a sofisticada engenharia contabilístico-fiscal, capaz de transformar prejuízos efetivos em lucros contabilizados. Aplausos para o governo, ativo compère em tal magia.

8. O turismo é que não pára de crescer, reclamando o governo para si os méritos de tão rentável invasão. À míngua de políticas conhecidas que produzissem tal efeito, a situação só pode ser explicada por medidas governamentais ultrassecretas de fomento da instabilidade nos mercados turísticos da Turquia, Egito e norte de África, nossos concorrentes. Aplausos para o governo, confidenciais, para salvar a ética republicana…

9. Segundo o Conselho Nacional da Juventude, há 54 presidentes de associações juvenis que têm mais de 60 anos, metade têm mais de 41 anos e o jovem presidente mais velho tem 86 anos. Grande ovação juvenil!...

10. E é certamente neste clima que o jovem Pedro Santana Lopes ameaça pela terceira vez, mas agora de vez, criar um novo partido. As palmas ainda não terminaram…

Não, isto não é peça representada em Portugal, isto são coisas de um qualquer bananal marciano. Por cá não há pantomineiros, temos uma democracia de qualidade.

António PINHO CARDÃO
Economista e gestor
Subscritor do Manifesto por Uma Democracia de Qualidade

NOTA: artigo publicado no jornal i



quarta-feira, 4 de julho de 2018

Funcionários políticos

Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de Eduardo Baptista Correia, hoje saído no jornal i.
Uma democracia de qualidade não compactua com o funcionário político e exige novos modelos eleitorais, novos modelos de comportamento, ética e transparência. 
Funcionários políticos  
A conjuntura política é demonstrativa da falta de compreensão de que a generalidade dos partidos padece relativamente à relação que os cidadãos mantêm com a política. A evidência mostra-nos que este afastamento, bem visível à escala europeia, é agravado pela excessiva burocratização de Bruxelas, dos Estados, dos aparelhos públicos e da generalidade dos partidos, que se transformaram em plataformas de acesso a estas diversas “repartições”.
Este fenómeno é uma consequência direta da transformação dos partidos políticos em centros de emprego público para os funcionários políticos que por lá vão crescendo, na sua maioria sem noção nem sentido da essência da política e do serviço público. É dentro dos partidos, pela forma como o sistema político está organizado, que se decide quem governa. A dependência da nomeação dos candidatos à generalidade das eleições relativamente aos partidos é de tal forma vincada que o prodígio da interajuda entre pares é a condição para o acesso ao poder. É neste círculo vicioso que os partidos vivem. Uns ambicionam o poder; outros, apenas um cheque ao fim do mês numa qualquer repartição ou cargo de adjunto. A interdependência entre estes dois grupos constitui a essência do sistema político português.

Este fenómeno trouxe-nos duas terríveis consequências: o gradual afastamento dos cidadãos relativamente à política, aos políticos e aos partidos políticos, e a gradual degradação qualitativa dos políticos, asfixiando a criatividade na visão política, elemento essencial à evolução da sociedade e da pessoa humana.

São estes funcionários políticos quem, dentro dos partidos, decidem em função dos seus interesses e alinhamentos pessoais quem são os candidatos a primeiro-ministro. São também as mesmas pessoas quem decide quem dos partidos é candidato às diferentes eleições. Estas escolhas são baseadas em critérios que pouca ligação têm com os reais interesses dos eleitores. É um mundo à parte, totalmente hermético à sociedade que, em teoria, deveria representar.

A atual solução governativa de esquerda é um exemplo bem evidente dessa forma de estar na política. Dir-se-ia que a fragilidade do modelo, a ausência de reformas e criatividade política que caracterizam este governo e o PS poderiam constituir o incentivo para a renovação, há muito aguardada, do PSD no que à visão sobre o sistema político, organização do Estado e desenvolvimento económico diz respeito. Contudo, a evidência mostra um partido estagnado, sem projeto e sem ideias, também ele refém dos funcionários políticos. Espera-se do PSD, partido fundado por Francisco Sá Carneiro, muito mais. Espera-se uma JSD com intervenção social e de voluntariado para que possa ser a escola de serviço público que se exige a modelos políticos orientados para a evolução da sociedade. Esperam-se propostas concretas de reforma do sistema político e governativo, reforma da burocracia interna e da redução do Estado onde efetivamente não acrescenta valor aos cidadãos. Espera-se do PSD uma visão clara para a forma como Portugal se enquadra na Europa e para o que deve a Europa ser num séc. XXI cheio de novos desafios.

Sobre estas matérias, os funcionários políticos têm poucas convicções e o partido mantém o estilo amorfo a que nos foi habituando.

Saúdo aqui os novos responsáveis pelo Instituto Sá Carneiro pela exceção que constituem neste universo e pela forma como têm, ao longo do tempo, defendido as suas convicções, bem como a visão inovadora, reformista, ética e meritocrática que consigo carregam, bem distinta do posicionamento do comum e generalizado funcionário político.

Uma democracia de qualidade não compactua com o funcionário político e exige novos modelos eleitorais, novos modelos de comportamento, ética e transparência na vida em sociedade.

Eduardo BAPTISTA CORREIA
Activista político
Gestor e Professor da Escola de Gestão do ISCTE/IUL
Subscritor do Manifesto "Por uma Democracia de Qualidade"

NOTA: artigo publicado no jornal i