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segunda-feira, 24 de abril de 2017

Sondagens que acertam




Evolução das sondagens em França
 (1ª volta das eleições presidenciais 2017)

De França, vem uma aparente novidade contra-corrente: as sondagens acertam!

Os resultados eleitorais desta 1.ª volta das eleições presidenciais francesas não tiveram qualquer surpresa face ao que as últimas sondagens já indicavam, com o decorrer da campanha, e as projecções logo apontaram, ao fecho das urnas. Um facto que merece ainda maior realce, se levarmos em conta a significativa alteração de dados de ponderação e análise, pela “débacle” de partidos tradicionais e a emergência de significativos factores novos.

É um gosto confirmá-lo pela comparação da última sondagem IPSOS (sond.) no fim da campanha, com a primeira projecção IPSOS da noite eleitoral (proj.) e com os resultados finais completos, aqui apresentados pelo Le Monde (res.).

Assim:
  • Emmanuel MACRON (sond. 24%; proj. 23,9%; res. 24,01%)

  • Marine LE PEN (sond. 22%; proj. 21,7%; res. 21,30%)

  • François FILLON (sond. 19%; proj. 20,0%; res. 20,01%)

  • Jean-Luc MÉLENCHON (sond. 19%; proj. 19,2%; res. 19,58%)

  • Benoît HAMON (sond. 7,5%; proj. 6,3%; res. 6,36%)

  • Nicolas DUPONT-AIGNAN (sond. 4%; proj. 4,8%; res. 4.70%)

Os mais estudiosos poderão verificar como as sondagens e projecções acertaram até quanto aos candidatos com votações mais baixas. E podem analisar toda a evolução numa exaustiva página Wikipédia. Limpinho, limpinho!

Ils sont fous ces français



As eleições presidenciais francesas consolidam a Alemanha como a única referência digna desse nome no sistema europeu. É esta a principal conclusão de hoje à noite.

A Itália está como sabemos. O Reino Unido marcha pelos solavancos do Brexit. E a França acaba de fazer implodir o seu sistema partidário diante do olhar surpreendentemente festivo da generalidade dos comentadores e observadores. O que sobra de pilar é a Alemanha de Angela Merkel (e de Martin Schulz) - ou seja, da CDU/CSU e do SPD.

Com Marine Le Pen declarada como a intragável oficial, Emmanuel Macron tem a eleição presidencial garantida a 7 de Maio. A Europa suspira de alívio e saúda Macron, o renovador. Mas a festa é capaz de ser demasiado precoce. Marine é um perigo, mas Macron tem qualquer coisa que não inspira, nem merece confiança - ou seja, é outro perigo.

O banqueiro socialista parece-se demasiado com tudo e o seu contrário para nos deixar imaginar o que vai realmente ser, o que irá fazer, o que vai dar. Para já, cresceu, à esquerda, sobre os cacos do PSF e, no centro e direita, em cima da fragilidade provocada pelos escândalos Fillon. E vai ganhar o Eliseu unicamente por ser o sobrante anti-Le Pen. Maria José Nogueira Pinto diria que "até o Rato Mickey" venceria a Le Pen. Dizendo de outro modo: a sua eleição será mais o resultado de uma sortuda gincana táctica do que o fruto de uma grande esperança, nova. Vai ter bem menos votos do que Chirac contra o papá Le Pen, em 2002. E, por conseguinte, Marine vai ter muitos mais votos do que o pai Jean-Marie, como já aconteceu nesta primeira volta - e as sondagens apontam, em ainda maior volume, para a segunda.

As incógnitas são, portanto, demasiadas na noite de hoje, para conseguir ver quaisquer motivos de festejos ou de confiança. O discurso de vitória de Macron, perante os seus entusiasmados apoiantes, confirmou a sua impressionante vacuidade, com o bornal cheio do habitual chorrilho de lugares-comuns brilhantes e de banalidades luminosas. Ganhará certamente a eleição, mas, a seguir, virá tudo o resto.

A 11 e 18 de Junho, teremos as legislativas. A direita afunda-se de vez? Ou recupera no pós-Fillon? E o PSF desaparece ou reergue-se? Reergue-se com quem? O movimento de Macron consegue uma maioria parlamentar folgada ou fica a meio-caminho? Ficando a meio-caminho, alia-se a quem e como? E o Front National, com a embalagem de Marine, consegue finalmente irromper pelo Parlamento ou voltará a ser travado pelo sistema eleitoral francês? Como é um Parlamento e uma sociedade que não têm deputados de um movimento antigo que tenha ultrapassado os 30% nas presidenciais? A democracia aguenta-se assim?

Macron precisará de muito mais do que palavreado para governar a França na difícil situação em que está, cheia de desafios financeiros, económicos, sociais e de segurança. E o seu novel movimento ainda não mostrou capacidade e consistência para preencher o vazio de um sistema partidário em implosão à esquerda e à direita. Macron não é um De Gaulle. Não tem nem a sua estatura, nem o seu carisma, nem a sua densidade, nem o seu mito. Também ainda não mostrou pensamento. Apenas estilo e ambição, o que é pouco.

Por hoje, passados os suspiros e os festejos, parece que França só merecerá interesse nos próximos cinco anos pela curiosidade. Será provavelmente uma enorme e prolongada incógnita.

Os franceses terão aberto as portas para saírem da V República; mas, com Macron, não vão conseguir chegar à VI. Emmanuel Macron tem toda a aparência de um intervalo. Veremos se se apresentam outras companhias para conseguirem acabar a viagem até à VI República.

Como diria o grande e imortal Obélix, esse, sim, um grande sábio, "ils sont fous ces français!"

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

November surprise

"A Europa, os países e os cidadãos europeus terão que fazer-se à vida, pois o guarda-chuva americano irá provavelmente acabar."

A surpresa

November surprise


O ambiente é de “day after”. Da euforia dos prosélitos “trumpistas” à incredulidade esmagada dos adeptos “clintonianos”, passando pela geral perplexidade dos observadores, mais ou menos terceiros, as reacções falam por si. Ninguém estava à espera. A não ser talvez Donald Trump, ele próprio. Mesmo os apoiantes mais fervorosos não creio que acreditassem – queriam muito que ganhasse, o que é coisa diferente de acreditar.

Este 8 de Novembro fica como o DTPF, o Dia em que Todas as Previsões Falharam. Realmente, falharam todas, mesmo ao fecho das urnas e já com a contagem a decorrer. A mais significativa é a que se precipitou a interpretar a muito elevada afluência às urnas como um sinal positivo para Hillary: os americanos acorriam a votar para barrar o caminho a Trump. Isso terá talvez acontecido com muitos. Mas também aconteceu ao contrário; e em maior número. Foram muitos que afluíram a votar para assegurar que a mudança iria mesmo produzir-se e não voltariam a uma administração Clinton, uma espécie de “kirchnerismo” norte-americano.

Talvez se tenha dito demasiado mal de Trump. E é bem possível que isso o tenha beneficiado. Com o profundo desprestígio do “sistema” – na Europa, nos Estados Unidos, no mundo, no Ocidente – é bem possível que muitos tenham concluído: «Se dizem tão mal dele, então deve ser bom.» E votaram em consequência.

Trump representou eleitoralmente o campo à direita. Num sistema completamente bipolarizado, era o único que o fazia. E, por conseguinte, não posso estar horrorizado ou totalmente desagradado com a sua vitória. Há qualquer coisa ali que me interpela e me chama para o benefício da dúvida.

O discurso de vitória – bem pensado – deu surpreendentes bons sinais. Mas não é possível fazer de conta que quem venceu é, por exemplo, um John McCain. Não, não é: foi Donald Trump quem ganhou, não outro. Trump com os seus excessos, com propostas inaceitáveis, com uma perigosa atracção pela provocação. Um personagem que inquieta e assusta. A mim também.

Se calhar, era preciso isso para ganhar. Se calhar, foi por isso que John McCain não ganhou e ele sim. Se calhar, o sistema é tão poderoso que só um boxeur coriáceo o bateria. Se calhar... É preciso rejeitar e detestar muito o “sistema” para eleger um Presidente que fez a campanha que vimos. Possivelmente era necessário cabedal de granito para resistir a todo o tipo de golpes baixos e sujos como desenterrar uma gravação pirata de 2005 carregada de conversa grosseira. O mesmo também quanto a Hillary, sejamos justos, que teve de enfrentar um FBI que desenterra e arquiva e-mails na recta final da campanha, ora prejudicando, ora favorecendo. Que sistema é este que a isto chegou?

Os tempos são de prudência e de atenção. Muita atenção. Viva a democracia, sempre, é certo. E há o famoso sistema dos “checks and balances” – com um Congresso que, continuando Republicano, não é “trumpista”. Todavia, convém não esquecer a substância e o conteúdo da campanha, fazendo de conta que é tudo rosas e que estas rosas não têm espinhos. Sim, é verdade que “tudo está bem, quando acaba bem” – mas não acabou; em verdade, ainda não começou sequer.

Estando à direita, celebrarei que não se confirmem as piores previsões que tantos fizeram sobre o futuro Presidente dos Estados Unidos da América. Também me inquietam. Detestaria que fossem verdade. Espero ser surpreendido – e dizer que me enganei. Mas não estou só com um pé atrás. Estou com os dois.

Na agenda americana, incomoda-me a política quanto à aquisição livre de armas ou a ideia de partir a galope para fazer revogar o Obamacare. E agrada-me o empenho (positivo, a vários títulos) que manifestou quanto à obra pública e à modernização e reconstrução da infraestrutura. Mas isso é menos da minha conta. Tocam-me mais aspectos que têm a ver a segurança mundial. E também o efeito Trump na política global. Tenho muitos pontos de interrogação, a que só o tempo concreto dará respostas.

Uma coisa parece certa: a Europa, os países e os cidadãos europeus terão que fazer-se à vida, pois o guarda-chuva americano irá provavelmente acabar. Se formos capazes de o perceber a tempo e formos inteligentes e lestos na forma de o fazer, menos mal. Esta é uma percepção urgente. Estamos sempre melhor com as nossas próprias forças. Os amigos e aliados são bons para nos socorrer, não para nos sustentar ou levar ao colo.

Não podemos continuar, como nas últimas décadas, a dizer sempre mal dos americanos, mas a viver sistematicamente à custa dos seus riscos, das suas perdas e do seu orçamento. Temos de assumir a coragem do nosso destino. Temos de parar de alimentar os nossos fantasmas e de viver de prosápia, sobranceria e indolência. Chegou o tempo de assumir mesmo os nossos sonhos – e servi-los. Ora, os sonhos só se servem com a realidade. Sem esta, desfazem-se – e morrem. 

9 de Novembro de 2016

José Ribeiro e Castro

quarta-feira, 16 de março de 2016

Um país de faz-de-conta

Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de José António Girão, hoje saído no jornal i.

É preciso saber dizer... basta! Enfrentemos a realidade. E comecemos por encontrar um desígnio nacional, inspirando-nos para isso na nossa história dos Descobrimentos, altura em que efetivamente fomos grandes.
Cabo da Roca

Um país de faz-de-conta
Há muito que o país sabe e tem consciência da enorme crise que atravessa. Trata-se de um problema de natureza reconhecidamente estrutural, com durabilidade preocupante e sérias implicações na esfera económica, social e política. Não o reconhecer implica não ser capaz de o ultrapassar e resolver cabalmente. 
Com efeito, baixas taxas de crescimento, conjugadas com significativos (quando não elevados) défices público e externo, baixos níveis de investimento, elevado desemprego conjugado com baixos salários (médios), fortes desigualdades na repartição do rendimento, geradores de desequilíbrios e elevada tensão social, traduzem indiscutivelmente um problema cuja persistência temporal tem de ser motivo de grande preocupação e atuação determinada. Caímos assim, em pleno, no domínio da política (pura e dura).
Mas porquê, então, este estado de coisas? Quais as verdadeiras causas para esta longevidade dos problemas? A resposta sintética para estas perguntas é simples, mas extremamente difícil de concretizar. Com efeito, a verdadeira solução passa por um conjunto de reformas (incluindo a da estrutura da economia) que assentam e implicam a remoção inexorável de privilégios fortemente entrincheirados (rendas excessivas, estatutos de favor, capitalismo “de benesses”, etc.). Reside aqui a grande dificuldade. 
Daqui se infere imediatamente o papel decisivo que o sistema político terá de desempenhar com vista a ultrapassar essas dificuldades. Sem um sistema político que verdadeiramente represente os cidadãos e com o qual estes largamente se identifiquem, não será possível ganhar a sua confiança, o que constitui factor decisivo de sucesso. Reside aqui a justificação para o aparecimento do manifesto “Por Uma Democracia de Qualidade”, o qual pugna por uma reforma do sistema eleitoral que dê maior voz aos eleitores na escolha dos seus representantes, em detrimento do papel determinante que atualmente é dado aos directórios partidários e aos grupos de interesses. 
Não obstante o enorme contributo que um sistema eleitoral que assegure maior representatividade daria para melhorar o nível de responsabilidade (accountability) e a prática política, é óbvio que tal não seria suficiente para assegurar uma maior eficácia do sistema de governança. Esta pressupõe, como já tem sido afirmado, a existência de um desígnio largamente partilhado para o país, uma estratégia que lhe dê corpo e regras de atuação criteriosas e transparentes, assentes na análise correcta e verdadeira da realidade. Em contrapartida, actuações com base em visões parcelares, enviesadas e deturpadoras da realidade são incompatíveis com um tal desiderato, e mais não visam que preservar os interesses instalados. 
Não é, porém, somente por recurso a meias verdades que o status quo é mantido. Maior contributo é-lhe indiscutivelmente fornecido pela política do “faz-de-conta”, traduzida na prática de que, muito embora os factos respeitantes a situações reprováveis, condenáveis e quando não criminosas se tornam públicos, os mesmos ficam impunes, por “obscuras” razões. Ou será por bem “claras” motivações? 
O volume de casos vindos a público, denotando comportamentos ilícitos, práticas de corrupção, fraudes e outros comportamentos criminosos, sem que ocorram e sejam conhecidas as penas em que incorreram os seus autores, é não só desprestigiante para o nosso sistema político, como altamente preocupante. Como é assim possível falar de democracia e Estado de direito?
Megaprocessos judiciais (aliás, com nomes sugestivos e reveladores) que nunca chegam ao fim, ou entretanto prescrevem, enquanto os visados continuam incólumes na praça pública, não obstante os prejuízos causados às suas empresas, ao sistema financeiro e ao país! Há mesmo quem tenha dado chorudos presentes a banqueiros entretanto falidos, sem que o caso tenha sido imediatamente julgado e os incriminados condenados, se fosse caso disso. Como é tudo isto possível num país ocidental, europeu e da Zona Euro? Ninguém se interroga, ninguém actua... fazemos todos de conta? No entanto, continuamos a ouvir e até a ser confrontados por governantes com a interrogação: se os portugueses são tão competentes, produtivos e eficientes quando emigram, porque é o seu desempenho distinto no seu país? Ingénua pergunta, ou será que continuamos todos a querer fazer de conta? Não conhecemos nós todos as razões e o compadrio que permitem este estado de coisas, incluindo nele a conivência dos órgãos de soberania? 
É preciso saber dizer... basta! Enfrentemos a realidade. E comecemos por encontrar um desígnio nacional, inspirando-nos para isso na nossa história dos Descobrimentos, altura em que efetivamente fomos grandes. Defina-se uma estratégia de compromisso credível e uma forma de governança pragmática, orientada para a resolução dos problemas e susceptível de a pôr em prática. Implementem-se as reformas necessárias, a começar pela do sistema eleitoral e político. O actual está caduco, assenta nos privilégios e estimula-os. 
Como sabemos, em termos de calendário político estamos no início de um novo ciclo. Esforcemo-nos, pois, para que ele nos traga também um tempo novo. De maior justiça, de maior inclusão social, de maior bem-estar e felicidade. Façamos votos para que o facto de termos agora na Presidência da República um professor de Direito faça com que a nossa República igualmente se transforme num verdadeiro Estado de direito.

José António GIRÃO
Professor da FE/UNL
Subscritor do Manifesto Por uma Democracia de Qualidade
NOTA: artigo publicado no jornal i.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Que Presidência teremos?

Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de Henrique Neto, hoje saído no jornal i.
Proponho uma primeira experiência sobre as reais expectativas que devemos ter acerca do novo Presidente da República. Oportunidade que me surgiu por força da anunciada luta entre setores da maçonaria pelo controlo dos serviços secretos da República, SIRP, como uma via de domínio dos interesses económicos que há muito caracteriza a política nacional.
Que Presidência teremos?
Marcelo Rebelo de Sousa toma hoje posse como Presidente da República e os portugueses terão as melhores expectativas sobre a sua contribuição para a solução dos graves problemas nacionais, tais como: credibilizar o sistema político, promover o crescimento económico, criar novos empregos e pagar a dívida. Ou, não menos importante, a sua contribuição para a definição de uma estratégia para o desenvolvimento de Portugal no contexto da União Europeia e da globalização. O país precisa de tudo isto, pelo menos mais que de afectos. 
Infelizmente, os portugueses deveriam também saber que os seres humanos raramente mudam e que a probabilidade é que sejam no futuro a continuidade do que foram no passado. No caso do prof. Marcelo Rebelo de Sousa, a probabilidade é que continue a ser amigo do seu amigo, comunicador emérito, criativo até ao limite e irrequieto quanto baste. Esta última qualidade já está a marcar a agenda nacional, desde o conjunto de actividades e festas do seu frenético primeiro dia em Belém até ao dia 10 de Junho, com parada militar em Lisboa e discursos em Paris. Quem estiver habituado a dormir que se cuide. 
Claro que nenhuma destas actividades contribui para resolver os grandes problemas nacionais e, por isso, para que não tenhamos de esperar muito tempo, proponho uma primeira experiência sobre as reais expectativas que devemos ter acerca do novo Presidente da República. Oportunidade que me surgiu por força da anunciada luta entre sectores da maçonaria pelo controlo dos serviços secretos da República, SIRP, como uma via de domínio dos interesses económicos que há muito caracteriza  a política nacional.  
A lista é longa: BPN, BPP, BES/GES, Banco de Portugal, Banif, casos Sócrates, vistos gold, Ongoing e Angola, entre muitos outros. 
Segundo o semanário “Expresso”, Marcelo Rebelo de Sousa  já recebeu o secretário-geral dos Serviços de Informação da República (SIRP), Júlio Pereira, e resta saber agora o que fará como  Presidente da República: 
Actuará no sentido da transparência do sistema político e dos actos da governação, contribuindo para limpar os serviços secretos da República da influência de todas as  instituições secretas, contribuindo para a nomeação de dirigentes com provas dadas de honradez, independência e convicções democráticas; 
Ou 
Fará de conta que não se passa nada, que não se sabe de nada e com os mesmos dirigentes, ou com outros semelhantes, permitirá que ao secretismo natural dos serviços de informação da democracia portuguesa se some, como até aqui, o secretismo dos interesses políticos e económicos que estão a destruir a Nação portuguesa. 
Espero que este tema seja considerado suficientemente importante de forma a justificar a intervenção do Presidente da República.  Por mim, espero para ver.
Henrique NETO
Empresário
Subscritor do Manifesto Por uma Democracia de Qualidade

NOTA:
artigo publicado no jornal i.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Soube-me a pouco, ou da irrelevância em política

Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de João Luís Mota Campos, ontem saído no jornal i.
Para mim, das frases desta campanha que merecem ficar na história, pelas piores razões, é aquela de Marcelo quando disse a propósito das críticas dos adversários “não vou responder a nada, vou contar até 100 e, quando chegar a 100, estou eleito”.
Soube-me a pouco, ou da irrelevância em política

Parece que foi há uma eternidade mas, na verdade, foi há dias que ocorreu a primeira e última volta das eleições presidenciais. 
Juro que nunca esperei que o próximo Presidente fosse Marcelo Rebelo de Sousa. Parecia-me uma improbabilidade completa mas, dado o quadro de candidatos presidenciais, acabou por ser o desfecho mais lógico e, depois da eleição, dirão todos, o mais previsível… 
Pensei, porque me apetecia pensar isso em relação ao meu país, que as eleições presidenciais iriam pôr face a face duas visões diferentes sobre Portugal: uma de caráter mais “humanista”, cujo eixo fossem os direitos das pessoas a uma vida melhor, protagonizada por António Guterres; e outra cujo fundamento fosse o de defender a necessidade de tornar o país mais competitivo e com contas públicas em ordem, protagonizada por José Manuel Durão Barroso. 
Em vez disso, tivemos direito a um concurso de retórica digno da Roma Antiga, um festival de lugares-comuns e algumas denúncias apressadas dos malefícios do “neoliberalismo”, alguns palhaços para abrilhantar a festa e o verdadeiro buraco negro ideológico chamado Marcelo. 
O resultado foi a completa ausência de debate público durante a campanha, como se Portugal tivesse ficado entre parênteses e a eleição para Presidente da República fosse uma coisa de somenos. 
Quer Marcelo quer os seus adversários autoproclamados de esquerda contribuíram fortemente para diminuir a eleição a que se candidataram. Todos (com a honrosa exceção de Henrique Neto, que não por acaso teve um resultado miserável) recusaram discutir os problemas do país, aqueles problemas de ciclo mais longo - uma década, pelo menos - de que só um Presidente, cujo horizonte é esse, se pode ocupar sem pensar nas eleições seguintes. 
Havia outras opções? Havia, mas pelos vistos os portugueses têm a sorte de dispor de homens políticos tão bons que podem dispensar a experiência política e as provas dadas de Durão Barroso ou Guterres… 
Aquilo que ouvimos ao longo de um mês de campanha foi o que não competia ao Presidente fazer, as competências que não tinha, as razões por que não teria de se ocupar de nada que fosse relevante, em vez de termos um debate sério sobre a forma como os candidatos viam o país e o mundo que o rodeia e, sobretudo, qual era o projeto que os animava na sua candidatura. 
Esta campanha fez-me ter saudades de outra campanha presidencial, em que a eleição ocorreu um dia depois de eu ter nascido, a de Humberto Delgado contra Tomás, em 1958: numa época em que os poderes do Presidente eram menores do que hoje, Delgado pronunciava-se em termos lapidares sobre o estado do país e sobre o então primeiro-ministro, Salazar, para dizer que se fosse eleito, “obviamente que o demitiria”, e, fazendo-o, correu riscos, o primeiro dos quais o exílio. 
Em tempos de democracia, compare-se a cobardia intelectual, a demissão da responsabilidade, a falta de compromisso com Portugal de quem assenta uma campanha inteira no mero facto de ser conhecido e se considera dispensado de dizer ao que vem. 
Mas essa não é a parte lastimável, não. A parte lastimável é o facto de os portugueses terem achado tudo isso suficiente e terem elegido à primeira quem por eles tem tão pouca consideração, como é também lastimável que quem tem ou tinha verdadeiras responsabilidades no regime vigente possa ter achado que estava abaixo da sua dignidade candidatar-se ou meter-se numa refrega com o Tino de Rans… 
Para mim, das frases desta campanha que merecem ficar na história, pelas piores razões, é aquela de Marcelo quando disse, a propósito das críticas dos adversários, “não vou responder a nada, vou contar até 100 e, quando chegar a 100, estou eleito”. 
Sem dúvida, tinha toda a razão e até teve piada. Era mesmo assim e isso diz tudo sobre a campanha eleitoral.
Mas isso diz tudo sobre a nossa democracia? Em boa verdade, quem pode queixar-se dos poderes instituídos que temos se nos demitimos permanentemente das nossas obrigações democráticas, a primeira das quais, básica, é votar? Mas, por outro lado, podemos levar a mal aos nossos compatriotas que se demitiram da democracia, nem votando nem assumindo qualquer compromisso, quando verificam que os mecanismos da representação política foram capturados pelos diretórios dos partidos políticos e pelos fazedores encartados de opinião? 
Dir-me-ão que este momento baixo do país não é o melhor para discutir estas questões fundamentais. A minha resposta é que se não é agora, é quando?

João Luís MOTA CAMPOS
Advogado, ex-secretário de Estado da Justiça
Subscritor do Manifesto Por uma Democracia de Qualidade

NOTA:
artigo publicado no jornal i.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República em Janeiro de 2016


Desde o primeiro momento que quem escreve estas linhas esteve com Marcelo Rebelo de Sousa, candidato a Presidente da República, e, sendo de esquerda com ideias em alguns aspectos um pouco distantes de Marcelo Rebelo de Sousa, tinha a certeza, ”certa”, de que Marcelo Rebelo de Sousa seria um bom PR. E, assim, agora eleito democraticamente, será um bom PR. 

Não será um PR da direita ou da esquerda, mas o PR que se espera para este nosso País tão desnorteado em tantos aspectos, mormente de civismo, ou falta deste.

Desde o primeiro momento em que Marcelo Rebelo de Sousa se candidatou a PR, teve todos a “bater em Marcelo”. Isto escreveu na ocasião quem isto agora escreve. E, hoje, podem muitos achar que não foi bem assim, mas foi uma realidade, dura e crua. E, com tantos e tantas a bater em Marcelo, mesmo assim Marcelo ganhou.

E, como andou a ter que se defender de todos os que o atacavam, foi muito bom a fazê-lo. E, se os outros, que tanto lhe bateram, tivessem começado por expor ideias e ideais e não bater em Marcelo, independentemente de este ser à mesma o vencedor, ter-se-iam discutido, com mais civismo, temas do nosso País que ficaram esquecidos, por haver interesses em que assim acontecesse.

Quem escreve estas linhas, que pode ser lido por quase nenhuns, mas por vezes incomoda esses alguns, mas a outros poucos não desagrada, não o faz por ter caminhos/obrigatórios a escrever, e nem deve favores ao fazê-lo, mas fá-lo por achar que ainda o consegue fazer, e por ter algum gosto nisto.

Assim, pelo que conhece há muitos anos de Marcelo Rebelo de Sousa, e há muito lhe permite chamar de Amigo e como tal ser correspondido, sabe-o boa Pessoa, sabe-o Humano. E, como humano, também tem defeitos, mas, como humano, tem muitas virtudes e equilíbrios que fazem a diferença positiva e fazem ser alguém com que se possa contar.

Ter conseguido fazer uma campanha contra todos e com pouco espectáculo e de tantos se descomprometendo, não vai amanhã ter que agradar a quem o (não) ajudou a ser Presidente. Assim, dentro do que é possível ser independente, por certo, sê-lo-á. E, por certo, nos próximos 5 anos, teremos um melhor, muto melhor tempo em Belém do que nos últimos 10 anos.

Só “isto” nos faz ter confiança num futuro melhor que iremos ter na Presidência da República, com um PR que não irá de imediato “atirar a baixo “ o actual Governo legal, legitimo e bem formado que temos e que deve continuar, a não ser que não consiga, mas só por isso e por nada mais. 

Será um PR culto, que nos fazia falta, com uma Cultura abrangente, como se norteou sempre na Faculdade de Direito em Lisboa, na Fundação que até agora presidiu, no que falou sempre em todo o lado, até à candidatura à PR, bem como pela Biblioteca, com milhares de Livros seus, que aconteceu em Celorico, pela disponibilidade por estar “aberto” ao mundo, aos jornais, à informação.

Por certo será agora o tempo de esquecer o bota abaixo a Marcelo que aconteceu neste últimos meses e sentir o País a querer unir-se, um País que está muito mal de finanças, que não cresceu na Economia, que não criou Empregos e que, apesar de ter 9 séculos de boa existência, não está bem, até no civismo, no respeito de uns pelos outros.

E, num tempo em que todo o Mundo anda um pouco sem orientação e em que deixámos de ter políticos de qualidade, fará por certo Marcelo Rebelo de Sousa a diferença positiva e salutar para o País, para a População, na Presidência da República.

Augusto KÜTTNER DE MAGALHÃES
24 de Janeiro de 2016

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Sondagens para domingo

Assim estão as sondagens para a votação para as eleições presidenciais, no próximo dia 24 de Janeiro. Domingo à noite, já saberemos.


CESOP/U.Católica: DN/RTP/JN
 
Intercampus: Público/TVI
 
Aximage: Correio da Manhã/Jornal de Negócios

Eurosondagem: EXPRESSO
 
 


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O imprescindível contributo do Presidente da República para a qualidade da nossa democracia

Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de Fernando Teixeira Mendes, saído ontem no jornal i.
Lamento imenso que os diretórios partidários façam tudo o que está ao seu alcance para reduzir o impacto da ligação profunda que deveria existir entre os eleitores e os candidatos presidenciais.


O imprescindível contributo do Presidente da República para a qualidade da nossa democracia

Em época de campanha eleitoral, assiste-se a um afastamento preocupante da camada mais jovem da sociedade civil, o que é altamente preocupante e, só por si, a prova de que o nosso regime democrático tem de ser rapidamente fortalecido.

Os diretórios da maioria dos partidos “assobiam para o ar” de contentamento com a situação. Assim, vejamos:

– Não legislam para que sejam estabelecidos círculos uninominais para aproximarem os eleitores dos eleitos para a Assembleia da República. A Constituição, já desde 1997, permite a implementação destes círculos uninominais.

– Não permitem que sejam apresentadas candidaturas independentes das estruturas dos partidos para a eleição de deputados à Assembleia da República.

– Não legislam sobre o chamado enriquecimento ilícito.

– Andam radiantes com as opções legislativas associadas ao financiamento de particulares aos partidos, que rápida e facilmente se transforma em financiamento por parte de empresas.

Para a eleição de Presidente da República podem apresentar-se candidatos independentes das estruturas partidárias. Foi o que aconteceu. Que fizeram os partidos políticos? Recusaram debater estas eleições antes das eleições legislativas, empurrando em muitos casos os candidatos a iniciarem as suas atividades mais tarde, tendo muitas dificuldades na obtenção das pelo menos 7500 proposituras e obrigando-os a reduzir drasticamente o número dos encontros com a sociedade civil.

O estrangulamento que mencionei foi o causador de debates televisivos em cima uns dos outros em que cada candidato apenas tinha 11 (onze) minutos para se expressar. E para responder a perguntas de jornalistas, a meu ver, impreparados, pois muitos não deram a devida atenção à importância da variável crescimento económico de Portugal na eleição do próximo Presidente da República.

Lamento imenso que a maioria dos diretórios partidários façam tudo o que está ao seu alcance para reduzir o impacto da ligação profunda que deveria existir entre os eleitores e os candidatos presidenciais, porque só assim os eleitores podem, em consciência, escolher em quem vão votar.

Revolta-me ainda ouvir muitos dizerem que quem tem de resolver os problemas económicos do país é o governo. Considero ridículo que quem pensa assim não valorize a ação do Presidente da República no desenvolvimento da marca Portugal e no estabelecimento de acordos entre todas as instituições da concertação social. Alguém duvida de que estas sejam tarefas de grande relevo para o desenvolvimento económico do país e muito ligadas ao desempenho de um exemplar Presidente da República?

Considero de grande importância para Portugal que o próximo Presidente da República assuma como relevantes os princípios associados à reforma do sistema eleitoral para a Assembleia da República e à alteração do sistema de financiamento dos partidos políticos, tal como apresentado no manifesto “Por uma Democracia de Qualidade”. O manifesto foi elaborado por profissionais com grandes conhecimentos políticos, podendo realçar, entre outros, e por ordem alfabética dos seus apelidos, João Luís Mota de Campos, José Ribeiro e Castro, Luís Campos e Cunha e Henrique Neto, e transformou-se num documento de referência sobre a reforma prioritária do sistema político em Portugal que muito ajudará a aproximar a sociedade civil dos políticos que a representam e a governam. Se implementado, contribuirá decisivamente para reduzir os níveis de abstenção nas eleições do nosso país.

Mais informações sobre o manifesto “Por uma Democracia de Qualidade”, subscrição, contactos e outras perguntas podem ser obtidas/feitas através do endereço de email porumademocraciadequalidade@gmail.com ou ainda visitando a página de Facebook www.facebook.com/DemocraciaQualidade .
Fernando TEIXEIRA MENDES
Gestor de empresas, Engenheiro
Subscritor do Manifesto Por Uma Democracia de Qualidade

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Uma democracia em crise

Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de Henrique Neto, hoje saído no jornal i.
O governo PSD/CDS, por sua vez, construiu um modelo ideológico em que a classe média paga os erros da governação.


Uma democracia em crise
A recente campanha eleitoral e o período que se lhe seguiu e agora estamos a viver mostram de forma clara todos os vícios do nosso regime político e a má qualidade da nossa democracia. Por isso, há milhões de portugueses muito preocupados com o futuro de Portugal, das suas famílias, dos seus negócios e com a manutenção dos seus postos de trabalho.

Outros, apenas porque têm mais experiência, nomeadamente de outras democracias, angustiam-se por ver com maior clareza os erros políticos, as atrocidades económicas, as oportunidades de progresso nacional desaproveitadas, e o país a afundar-se nas permanentes controvérsias entre o governo, os partidos políticos, os comentadores de serviço e o Presidente da República.

A Assembleia da República é um campo de batalha permanente onde nada se constrói e muito se destrói. Os interesses partidários e pessoais de muitos deputados, interesses próprios ou alheios, sobrepõem-se ao interesse nacional e conduzem à necessidade insensata de gerar cortinas de fumo e de manter uma retórica destinada à destruição dos oponentes, o que nega qualquer debate sério e construtivo, escondendo as soluções e as reformas de que Portugal precisa e pelas quais desespera, legislatura após legislatura.

Os anteriores governos conduziram os portugueses de olhos vendados para o desperdício, para a estagnação económica e para um endividamento monstruoso que nos tornou dependentes do exterior por muitos anos, comprometeu a vida das futuras gerações e abriu a porta à destruição dos ganhos sociais conquistados depois do 25 de Abril.

O actual governo PSD/CDS, por sua vez, construiu um modelo ideológico em que a classe média paga os erros da governação, a qual protege os interesses dos grupos económicos rendeiros do regime e os empregos dos seus apoiantes, privatiza sem critério e desperdiça a maioria das oportunidades de investimento nacional e internacional através da burocracia e de uma deplorável ausência de ideias, de soluções e de estratégia.

A recusa em investir no porto de Sines, que representa a nossa maior oportunidade de atracção de investimento estrangeiro, e a nova obsessão por construir um novo porto no Barreiro, que nunca será rentável e se juntará ao aeroporto de Beja na imensa lista das obras inúteis do regime, são exemplos, entre muitos outros, da impreparação dos decisores políticos ou, pior, da sua abertura a servir interesses económicos dos que os apoiam.

Sobre tudo isto paira um Presidente da República que conviveu ao longo de 35 anos com todos os acidentes éticos e financeiros do regime e desperdiçou uma década de oportunidades para colocar alguma ordem e decência na vida pública portuguesa.

Um Presidente que nunca serviu de guia para o progresso e para o desenvolvimento do país e que termina os seus mandatos dividindo os portugueses na obsessão de defender um dos lados da controvérsia nacional, agora sem quaisquer peias ou pudor. Um Presidente que disse ter a certeza do que iria fazer na actual conjuntura e que, com as suas decisões, apenas criou dúvidas, dissensões e angústias a todos os níveis da política nacional.

Contrariando estes cenários degradantes do nosso regime político, tenho viajado pelo país e encontrado inúmeras razões para ser optimista e acreditar nos portugueses. Visitei empresas de elevada qualidade, com empresários que trabalham incessantemente para concorrer e enviar os seus produtos para todo o mundo, vi centros de investigação capazes de atrair investigadores de sucesso e empreendedores desejosos de criar empresas que façam a diferença na economia portuguesa, e pude admirar instituições exemplares de apoio social a pobres, idosos e deficientes de todos os tipos, com pessoas que se devotam a servir os seus semelhantes, sem nada pedir em troca ou pedindo apenas que não lhes criem entraves e burocracias desnecessárias.

Até quando? Quando ganharemos consciência de que votar em eleições democráticas é um momento muito sério que não poderemos continuar a desperdiçar, votando em entertainers televisivos ou simplesmente em pessoas bem intencionadas mas comprometidas, por acção ou omissão, com o sistema que nos tem governado até aqui?

Politicamente correctos, certamente, mas incapazes de contribuir para as mudanças necessárias e que, mais tarde ou mais cedo, terão de pagar os apoios das máquinas partidárias que os irão, de forma mais ou menos clara, apoiar.
Ao escolher quem nos representa temos o direito de exigir a coragem, a experiência e a independência de quem há muito recusa e se bate contra a corrupção do sistema.

Henrique NETO
Empresário
Subscritor do Manifesto Por uma Democracia de Qualidade
NOTA: artigo publicado no jornal i.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Um Presidente, uma estratégia

Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de Henrique Neto, hoje saído no jornal i.
O cenário resultante destas eleições, com um governo de maioria relativa, serve bem a continuidade da crise e afasta a necessária clarificação das alternativas em presença.
Um Presidente, uma estratégia
Infelizmente, os partidos políticos portugueses da área da governação não aprendem com os erros e a campanha eleitoral que agora terminou é disso a demonstração mais evidente e mais trágica. Confrontados com uma crise nacional de grandes proporções, com uma dívida gigantesca, com uma economia empobrecida e com dificuldades sociais evidentes, o PS, o PSD e o CDS comportam-se como “donos do país” numa irresistível caminhada para o abismo.
Em vez de apresentarem programas para o crescimento económico e ideias claras sobre as formas de atrair o investimento, aumentar as exportações, reduzir as importações e criar empregos – para o que não faltam oportunidades –, ficaram-se por propostas feitas para gerir o curto lençol existente, que eles próprios reduziram no passado, para tapar a cabeça e deixar os pés de fora. Pior do que isso, usaram e abusaram do engano fácil e da meia-verdade, alienando no processo a inteligência, o trabalho e a capacidade de iniciativa dos portugueses. Com estes partidos, socialistas ou liberais, eles é que sabem, o Estado resolve e as instituições da sociedade existem para cumprir directivas e pagar impostos.

A campanha do Partido Socialista foi particularmente penosa, baralhada na forma e no conteúdo, incapaz de competir com a coerência táctica da coligação, que usou a consciência latente dos graves erros cometidos pelo PS no anterior governo para amedrontar os eleitores e criar um cenário idílico quanto ao futuro. “São rosas, senhor” esteve no centro das mensagens de Pedro Passos Coelho, que omitiu os espinhos que a breve trecho apresentará aos portugueses.

O cenário resultante destas eleições, com um governo de maioria relativa, serve bem a continuidade da crise e afasta a necessária clarificação das alternativas em presença. Alternativas políticas, mas também económicas e sociais, além da definição de condições destinadas a potenciar uma estratégia euro-atlântica que valorize a nossa participação na União Europeia e dê alguma margem de manobra a Portugal com vista ao investimento, ao crescimento das exportações, ao emprego e ao pagamento da dívida.

Será esse o papel do novo Presidente da República, no sentido de demonstrar a validade de um novo paradigma de acção presidencial, na prossecução de consensos estratégicos de médio prazo que evitem a actual navegação à vista e a permanente alteração das políticas e alarguem o leque das alternativas à disposição dos governos. Importa que seja um Presidente da República que não coexista com a corrupção e com a promiscuidade entre a política e os negócios, e que desenvolva a necessária pedagogia da responsabilidade, factores que ajudarão a criar um novo ambiente de cooperação estratégica e de apoio popular às reformas a fazer, muitas das quais não são de esquerda ou de direita, mas apenas as reformas necessárias.

O que devemos agora evitar são mais divergências partidárias, mais políticas de curto prazo e novas eleições que, todos sabemos por experiência, mudam muito pouco de essencial na vida dos portugueses. Ou seja, Portugal precisa de um Presidente forte, com a necessária maturidade e experiência, destinado a unir os portugueses em redor de uma visão estratégica de médio prazo e a colocar o interesse nacional e a melhoria de vida das famílias portuguesas acima de todos os interesses pessoais e de grupo.

Em resumo, um Presidente que não coexista com os vícios existentes na actividade política e com o favorecimento dos sectores rendeiros do regime à custa da competitividade da economia. Desta vez, um Presidente de todos os portugueses, independente de partidos, das corporações e dos interesses.

Henrique NETO
Empresário
Subscritor do Manifesto Por uma Democracia de Qualidade
NOTA: artigo publicado no jornal i.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

A estrela de Belém


Os primeiros comentários que apetecem são sempre para fazer graça: depois dos cartazes, a trapalhada das presidenciais; as duas candidaturas (legislativas e presidenciais) apresentadas no mesmo dia; a candidatura anunciada em cima da entrevista em directo de António Costa; a divisão dos tenores do PS; a rentrée a várias vozes… enfim, a crónica dificuldade do PS com os processos a desfocar por inteiro qualquer proposta política que tenha. E pode ser que continue assim, mal para os socialistas.

Mas deixemos as brincadeiras de lado; e vamos a leituras mais sérias.

Lendo com atenção, desde Marcelo a Manuel Alegre, as reacções a um facto que se afirmou incontornável, a candidatura de Maria de Belém (a "candidata que veio do nada") pode vir a ser para o PS um trunfo, absolutamente inesperado. Os maiores sinais de preocupação vieram de Marcelo Rebelo de Sousa e de Sampaio da Nóvoa. Por olhares iguais em espaços opostos: o primeiro, por sentir que Maria de Belém entra mais ao centro do que Nóvoa alguma vez conseguiria; o segundo, porque antecipa comprometido o apoio do PS e vê fugir a vitória com que sonhou. E o apoio mais significativo é de Manuel Alegre, entre vários outros menos óbvios.

De forma paradoxal e surpreendente, Maria de Belém pode dotar o Partido Socialista da unidade imediata de acção política que António Costa não estava a conseguir; e, sucedendo no lugar imaginário que os socialistas tinham reservado para Guterres, pode acrescentar-lhe propósito e ambição quando tudo parecia patinar. Além disso, tem condições objectivas para reunir todo o partido, entre os que a apoiam e apoiarão explicitamente e os que não poderão ir contra ela; e, com isso, congela e afasta a deriva esquerdista associada a Sampaio da Nóvoa, que só prejudicava as aspirações eleitorais do PS nas legislativas.

É cedo para ver. Mas a candidatura de Maria de Belém e este seu timing improvável podem estar muito longe de ser um tiro na água. E, se Maria de Belém ajudar o PS a estabilizar, a animar-se e a alcançar o resultado a que aspira, boa parte da história seguinte pode ficar logo escrita. Azar para Sampaio da Nóvoa. 

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Seria mais acertado o nosso Presidente estar mais recatado


Nesta fase final do seu último e segundo mandato, o ainda nosso Presidente da Republica podia ter mais recato. Se não apareceu tantas vezes quando esperávamos que o fizesse, se não falou quando esperávamos que falasse, agora terá que fazer o mesmo. 

E não se pode comparar a um Mário Soares quando era Presidente e estava em forma – hoje deveria “ser” totalmente recatado – e tinha um ar bonacheirão, que permitia fazer piadas e outras “coisas, em” que se saía bem. Algo que com o actual nunca aconteceu e cada vez menos acontece.

Não se pode comparar a Jorge Sampaio que era sério, mas ficava próximo das pessoas e compactuava bem, com todos. Quase todos!

General Ramalho Eanes era demasiado militarista, mas numa altura em que necessário era sê-lo, e para esse tempo saiu-se bem, e sem piadas.

O nosso Presidente agora em visita à Roménia, e como sempre falando mais fora do que cá dentro, e para não responder a umas perguntas ao final da noite com jornalistas, disse que era ocasião de fazer “um bom ó-ó”. Bem. Faz-nos lembrar, quando candidato, para não responder a uma questão, meteu bolo-rei na boca e falou de boca cheia.

Os tempos são difíceis, não temos em lado algum verdadeira Estadistas, e andaremos por certo, cá dentro e lá fora, a tentar encontrá-los e não está nada fácil. Em lado algum.

E claro que, nem se quer recuperar pessoas de tempos idos – se bem que, com todas se deveria mais aprender, até para não voltar a errar, sempre – nem recuar no tempo como se possível fosse. Mas de facto o ainda Presidente, não só não tem como ter piada – tantos assim somos -, como não fala ao País quando este espera que o faça, e fá-lo, quando não se conta que o deva fazer. Para além daqueles momentos formalizados e demasiado instituídos e pesados, como 1 de Janeiro, 25 de Abril, 10 de Junho e 5 de Outubro.

Quanto ao – ainda - actual PR que a História julgará com algum distanciamento, seria mais necessário neste momento, a  própria Presidência da Republica – que tantos candidatos e putativos candidatos atrai antes de tempo – ser por todos vista e entendida como independente, e acima de muitas destas querelas do dias a dia.

Temos que perspectivar em tudo, ser como somos, e em “funções”, em que a Pessoa representa esse “o cargo”, tem que com este saber lidar bem, e não banalizar quando não quer falar, ou o inverso.

Esperemos que nestes últimos tempos o PR fale quando for conveniente e se recata quando conveniente for. Esperemos não continuar a ter candidatos e recandidatos à Presidência antes das eleições para o Parlamento, e ajudemos todos o Pais, sem esperar única e exclusivamente que o Pais nos ajude. Todos do topo à base..

Augusto KÜTTNER DE MAGALHÃES
19 de Junho de 2015


quarta-feira, 11 de março de 2015

O actual PR não tem que escolher o futuro, a não ser como eleitor.


No prefácio do nono Roteiros, o ainda actual PR, lá vem com uns recados, que dificilmente são entendíveis ou necessários, hoje.

E quando ainda temos um PR em exercício que conseguiu esvaziar a Presidência da Republica, o mais que pode e soube, o que precisamos do próximo é que seja em tudo diferente do actual.

Assim, recados de perfil para o próximo é tudo o que se dispensa.

Sendo que o ainda PR não conseguiu de forma alguma deixar uma figura de Estadista no tempo que tão necessária era, pelo que se deve dispensar de fazer profecias futuras ou dar conselhos.

Talvez unicamente deva tentar ser um pouco diferente, um pouco melhor neste ano que ainda vai ser PR, para ainda ajudar o País.

Se muitas razões - e parece da facto haverem - deveria ter tido, para criticar o anterior PM, deveria tê-lo feito quando o mesmo ainda estava em exercício, em funções, e nunca em mais um prefácios dos seus Roteiros, quando o PM já era o actual, que se calhar no último Roteiros trará elogios que não merece.

Isto só o podia ter sido feito no futuro em memórias, logo, já não como PR.

E o perfil que lança para um futuro PR no que o actual não terá influência, a não ser como mero eleitor, será escusado, se não totalmente desnecessário.

A não ser que venha a fazer, depois de passados uns anos, uma terceira tentativa, no caso seria quarta, para cumprir um terceiro mandato, o que já falhou - e ainda bem - com um ex-PR que nunca o deveria ter feito, tal como hoje não deve esse mesmo, pronunciar-se sobre o que faz, e como o faz!

Há tempo para tudo em devido tempo, e nesta fase do nosso actual PR, e dado não estarmos em Monarquia não se deve meter no futuro e deve tentar dar recados a si próprio, para ser diferente.

Deveria ter um tempo concreto para falar aos Portugueses, como PR e não como comentador como vem a fazer em todas as suas últimas intervenções. Não falar nas esquinas, a entrar e sair num qualquer evento, ou ainda por quando está no Estrangeiro, cá para dentro, não tendo cá do mesmo tema falado, ou pior ainda pelo facebook. E nas datas oficiais de discurso solene, já nada é tido em atenção.

O tempo do actual PR, por muito que o próprio não queira acaba-se quando acabar este segundo mandato. E nada do que se seguir, terá a ver consigo, espera-se.

Pelo que não se entende qual o interesse nos costumeiros prefácios dos seus Roteiros, estar a falar do passado - quando o não fez em devido tempo - ou estar a dar recados para o futuro.

Pede-se uma diferente, para melhor, presença como ainda PR, não ser mais comentador, e se bem entender sê-lo-á depois.

Deve, agora, falar nos sítios adequados, e não ter que se pronunciar no que não ajuda o País, como,  a sua própria Reforma, o banco que caiu, defesa do actual PM, em temas não de politica, e mais.

E não esvaziar ainda mais do que já vem a fazer a Presidência da República, o País agradece, e por certo o próximo PR.

Augusto KÜTTNER DE MAGALHÃES
9 de Março de 2015