Não consigo conciliar, sentado como estou a três metros da rebentação e a receber os salpicos de mar que embate na barreira de areia, com os óculos embaciados pela poalha de ar salgado que arrasta um vento moderado mas já fresco, vendo a humidade infiltrada pelos raios de um sol declinante deste início de Outono, os 25 graus da praia com os incêndios que lavram pelo país e que alongaram a viagem de comboio dos meus Pais em três horas, parados em Pombal porque o fogo cortou a linha férrea…
É o Outono que chega, mas ainda chagado por muitos dos fervores do Verão. Os temas mudam: agora são as autárquicas, umas eleições que nada mudam mas permitirão na noite eleitoral uma breve agitação politica, proclamações de vitória, de fim do governo, de golpe de timão na governação, enfim, um “deja vu” que sabemos que vai deixar tudo na mesma como a lesma.
No Verão tivemos a agitação politica do cheque escolar, uma aparente boa noticia, que a esquerda se apressou a denunciar como mais um golpe no «estado social» e uma facada na igualdade de oportunidades. O tema, parece que morreu, nem Crato, nem os sindicatos, nem os «ideólogos» de esquerda parecem querer maçar-se mais com ele.
Para o matar de vez, Crato proclamou o fim do inglês obrigatório no 1º ciclo, uma má ideia e uma confirmação do que a esquerda pensa.
Correm discretas as discussões das 8ª e 9ª avaliações da Troika, parece que à volta de saber se o deficit deve ser de 4%, 4,5% como pretendem alguns no Governo ou 5% como quer Seguro.
Discute-se portanto o valor do deficit como se não tivessem decorrido dois anos trágicos de aperto orçamental e o Estado, em vez de encarar de frente os problemas do País, se limitasse a ponderar quantos mais euros os credores estarão na disposição de nos emprestar…
E com isto, perfila-se no horizonte mais longínquo do Inverno, um «segundo resgate» que terá outro nome qualquer mas que, em suma, se destinará a permitir ao Estado Português continuar a pagar salários e pensões, escolas e hospitais, sem conseguir do País recursos suficientes para o efeito.
Directores Gerais, sub directores gerais, administradores de empresas públicas falidas e «altos cargos» continuam a sulcar as ruas de Lisboa em carros oficiais, como se não tivessem os deles e os contribuintes fossem obrigados a fornecer-lhes transporte grátis, que a rapaziada não sabe andar de metro.
Entretanto o Governo anuncia, dois anos depois, que vai «harmonizar» os salários da FP, uma coisa que Salazar tinha feito nos anos 30, quando falou da «mentira dos vencimentos».
Razão, tem o Vasco Pulido Valente, com o seu entranhado pessimismo e a constatação de que nada muda desde o tempo das tenças e das comendas…
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