Ponham-me essa noite eleitoral a bombar!... Olé!
Foi o grande Paulo Portas, o
inventor da regra política do «1º, 2º e 3º» que definiu o princípio cardinal
(também no sentido do circo) das vitórias eleitorais: as eleições ganham-se nas proclamações de vitória e nos comentários
televisivos da noite eleitoral.
Da mesma forma, António Costa,
sem qualquer escrúpulo político, decidiu transformar a noite autárquica numa
«imensa vitória do partido socialista e numa retumbante derrota da direita».
Às 10 horas da noite, Costa
proclamava a imensa vitória socialista e as gigantescas vitórias em Lisboa e no
Porto. Ajudou muito a esta «narrativa» que a essa hora, o STAPE estranhamente
ainda não tivesse dado resultados fiáveis e que todas as declarações partissem
de sondagens marteladas que apenas reflectiam o desejo de quem as encomendou.
A esmagadora maioria dos
portugueses deitou-se a pensar que Fernando Medina tinha ganho Lisboa com uma
maioria absoluta reforçada e que no Porto, o … seja lá quem for que era
candidato socialista, tinha ganho, ou no mínimo… tinha ganho, uma vez que a
direita tinha sido retumbantemente derrotada!
Esta sensação percorreu os
jornais do dia seguinte em que as luminárias de esquerda aproveitaram para
verter o seu verdete: no Público, São José Almeida e David Diniz em editorial
escreviam «o PS leva quase tudo:
volta a conseguir a maioria absoluta em Lisboa…»; Francisco Loução, mais
afoito, como deve, proclamou «o PSD afunda-se e o PS ganha. Em Lisboa e Porto o PSD ronda os 10%
enquanto o PS reforça a sua maioria autárquica.»;
o inefável Rui Tavares reforça: «Fernando Medina ganhou em Lisboa com um dos melhores resultados de sempre na
capital».
O mesmo Tavares, fino e livre
pensador, dá o mote da coisa mais à frente: «de passagem, António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins são
também vencedores da noite e mesmo mais do que isso: … Boas notícias para a
esquerda, más notícias para a direita», mas «o CDS por seu lado vai clamar
vitória. Assunção Cristas teve um bom resultado em Lisboa e ultrapassou o PSD.
Mas que significa isso para lá da rivalidade fratricida com o PSD? Nada. O CDS
pode ter três vereadores … (mas) em freguesias de Lisboa o CDS contará pouco ou
nada» e mais: «o PCP pode ultrapassar o PSD em Lisboa»…
Já João Miguel Tavares, pesaroso,
lamentava ver «nem nos piores sonhos… a hipótese de Teresa Leal Coelho ficar
atrás do Partido Comunista», porque «ver o PSD aterrar abaixo dos 10% em Lisboa
e no Porto é inimaginável.»
Tavares tinha razão: era
inimaginável e, claro, não aconteceu, a não ser nas declarações do Costa às 10
da noite e nos comentários escritos do dia seguinte.
Diga-se de passagem que nem pelo
facto de estarem escritos os respectivos escribas pediram desculpa pelo monte
de mentiras e disparates que escreveram. Não! Eles têm sempre razão, afinal,
são eles que escrevem nos jornais.
Para tão distintos comentadores,
o facto de o PCP ter perdido 10 Câmaras em 34, ou seja, quase um terço, mas de
entre as maiores (Beja, Almada…) não conta: Jerónimo tinha de ser nesta guerra
justa entre a virtuosa esquerda e a malvada direita, um vencedor.
Medina perdeu a maioria absoluta,
10% dos votos e 3 Vereadores? Ninguém viu, a virtuosa esquerda teve uma vitória
retumbante.
No seu conjunto, «a direita»
subiu vários pontos percentuais em Lisboa? Passou de 4 para seis Vereadores?
Não pode ser. Toda a gente sabe que a malvada teve uma derrota nunca vista.
O facto de no Porto a «malvada»
ter tido entre o “independente” Rui Moreira, assessorado por luminárias do CDS
e do PSD, e o PSD oficialista, mais de 60% dos votos e a esquerda menos de 35%,
quer dizer alguma coisa a estes comentadeiros? Pelos vistos nada, porque a virtuosa
teve uma vitória nunca vista e a malvada uma derrota retumbante.
Cá para mim, no Porto, a direita
teve tantos votos que deu para o Moreira ter a maioria absoluta (esse sim,
cresceu!) e ainda sobrou para o PSD oficial ter tido 13%. É obra. Mas que digo
eu? Então a «virtuosa» não teve uma vitória nunca vista?
De Braga ou de Aveiro é melhor
nem falar, porque é ponto assente que com as suas 98 Câmaras o PSD passou à
irrelevância e à interioridade rural. E claro, em Oeiras, os três heterónimos
do PSD tiveram em conjunto mais de 70% dos votos, mas aí não havia maneira de o
PSD, “pour l’honneur” não apresentar
um candidato oficial.
Tudo dito, o PS ganhou, sim. O
PSD perdeu, também. Nem num caso nem no outro foram as vitórias esfuziantes nem
a derrota sombria que a noite eleitoral nos garantiu, mas, lá está, o grande
Paulo Portas é que tinha razão e os socialistas melhoram a versão da coisa:
põem o STAPE a colaborar na mentira oficial.
Este é aliás o modus operandii dos socialistas, bem
rodado pelos actuais membros do governo quando colaboravam estreitamente com
José Sócrates no saque do País: enxamear as instituições oficiais dos seus
oficiosos e garantir que a mentira oficial é corroborada por todos. Quem
desalinhar, leva.
É por isso que a compra da casa
de Fernando Medina e o concomitante ajuste directo e milhões de euros de obras
à Teixeira Duarte foi proclamado um «gato morto» pelos comentadeiros do regime.
É por isso que a compra da TVI pela Altice nunca mais é validada pela
Autoridade da concorrência; é por isso que a verdade sobre Pedrógão Grande
nunca mais sai… Sem que isso incomode, aparentemente os «powers that be» dos media portugueses.
À atenção dos jornalistas sérios:
investiguem lá essa coisa estranha de os resultados de Lisboa só terem saído às
4 da manhã…
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