Ao longo dos
anos tem-se tornado para mim numa evidência o divórcio crescente entre o
público e a classe politica portuguesa.
Esse divórcio
assenta no abismo entre as expectativas do público sobre o que o «governo» pode
fazer pelo País e aquilo que o «governo» está disposto a fazer pelo País.
É o paradoxo
democrático: as maiorias são eleitas para governar e depois governam para
ganhar eleições.
Isto tem a
ver com o sistema dos partidos. Os partidos são imprescindíveis ao
funcionamento da democracia representativa, mas só são úteis enquanto são fieis
aos seus valores.
Os partidos
formam-se à volta de núcleos matriciais de ideias e valores. É desse caldo de
cultura que decorrem os seus programas e propostas, articulados à volta de um
projecto de sociedade e de uma visão para o País.
Quando os
partidos perdem de vista aquilo que foi a causa da sua formação e passam a
tratar as opções politicas, as escolhas de fundo, como um «mercado eleitoral»
em que se vendem «produtos» em nichos de mercado de causas populares que
«rendem» votos, os cidadãos ficam privados de alternativas politicas e de
escolha de modelo de sociedade.
Uma sociedade
assim é uma sociedade bloqueada. É o caso da sociedade portuguesa, em que ao
bloqueio das opções politicas de fundo, se chamou «consenso social».
O «consenso
social» em que vivemos, baseado em mil e um grupos de interesses, sindicatos e
corporações várias, não gravita à volta do interesse público mas procura
satisfazer os muitos interesses daqueles que têm forma de pressão sobre o Estado.
Aos outros, resta viver habitualmente
e pagar impostos.
Qualquer
português mediamente informado devia saber hoje que o que pode esperar do
partido que governa o País, é o mesmo que podia esperar do partido que perdeu
as últimas eleições.
Em suma, os
portugueses votam sem opções, em partidos cada vez mais iguais na sua prática
governamental e dos quais esperam cada vez menos. Espanto seria que não se
abstivessem cada vez mais e não descressem da classe politica crescentemente.
Há 25 anos
filiei-me no CDS, um partido democrata-cristão, assente nos valores da defesa
da vida e da família, na economia social de mercado, na valorização do povo
português e na defesa inteligente da nossa soberania nacional.
Ao longo
desses 25 anos esse partido passou por altos e baixos mas guardou o essencial
dos seus valores e procurou, nos governos de que fez parte, marcar a diferença.
Hoje verifico
que esse partido, depois da sua última experiência governamental, ganhou o
gosto do poder e perdeu o sentido dos seus valores; Ao ponto de encarar agora
como normal viabilizar nas próximas eleições quem quer que as ganhe... com
maioria relativa.
Deixei de me
rever num partido cujo último objectivo é apenas o de partilhar do «consenso
nacional» à mesa do Conselho de Ministros, com os outros.
Decidi
desfilar-me do CDS. A minha esperança é que quer à direita, quer à esquerda
haja cada vez mais gente a compreender que sem opções claras e escolhas de
fundo a fazer pelo povo português, não há democracia real e um dia a casa vem
abaixo... e cai-nos em cima.
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