sábado, 1 de fevereiro de 2014

Esclarecimento a José Sócrates

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Na sua habitual coluna no EXPRESSO, João Garcia compara, hoje, afirmações recentes de António Horta Osório com a célebre tirada de José Sócrates de que «pagar a dívida é ideia de criança.» Tudo para  levar-nos a concluir, implicitamente, que Sócrates tinha razão.

Não é o primeiro a fazê-lo. O blogue socrático Câmara Corporativa já tinha marcado o mesmo ponto.

Disse Horta Osório, há uma semana: «O importante não é pagar a dívida, mas que a dívida se mantenha dentro de rácios razoáveis em relação à riqueza criada. Enquanto os privados devem pagar as dívidas ao longo do seu ciclo de vida, as empresas e os Estados, que não têm um ciclo de vida, não precisam de o fazer. Têm é de pagar o serviço de dívida.»

Disse José Sócrates, há dois anos: «Para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança. As dívidas dos Estados são por definição eternas. As dívidas gerem-se. Foi assim que eu estudei.»

Pois é... O problema é justamente esse: é que José Sócrates deixou colocar a dívida pública portuguesa para além de todos os limites; e, além disso, acumulou-a com uma dívida externa também descontrolada e insustentável. Ou seja, José Sócrates deixou que a nossa dívida pública se tornasse ingerível. Ultrapassou o limiar dos 60% do PIB e foi por aí fora... até estoirar connosco.

Continuando a frase de José Sócrates, podíamos escrever: estudou, mas não aprendeu.

O que Portugal está, agora, a fazer é a trazer a dívida de regresso a parâmetros de governabilidade, para a colocar progressivamente dentro de balizas de sustentabilidade. E, sim, tem que se ir pagando. Tem mesmo que se ir pagando.

5 comentários:

Anónimo disse...


Penso que o que o autor quer dizer é que o homem foi despedaçado na praça pública por declarações semelhantes às que agora causam a veneração habitual que esta gente tem pelo H.O. Não são os actos, portanto, mas as palavras, e a falta de inteligência/seriedade de quem comenta por cá.
Quanto ao que se está a fazer agora: desculpe lá, mas não deve conhecer a evolução da dívida ao longo do consulado passos/portas.
Nem parece seu, este post...

José Ribeiro e Castro disse...

Isso que diz está referido no post. A dívida, de facto, continuou a subir, por várias razões.
Desde logo, porque continuámos com défice, que é a fonte principal da dívida: o governo recebeu um défice de 10% e só agora conseguiu pô-lo a 5%, o que é ainda um valor obsceno.
Além disso, foi alargado o perímetro respectivo, destapando muita coisa que andava escondida - Madeira e várias habilidades continentais. Em breve, serão agregados ainda mais 10% do PIB, que andavam aí por empresas públicas várias. Uma vergonha.
E há também o efeito percentual da recessão. Baixando o PIB, sobe o peso percentual da dívida. Só agora a percentagem da dívida no PIB começou a baixar outra vez, mas a níveis inadmissíveis e lentamente: quase 130% do PIB. Mas, quando se agregarem aqueles valores escondidos nas empresas públicas, lá irá outra vez para 135% do PIB ou cerca disso.
Um cancro, na verdade.
Mas tudo começou na derrapagem inicial e em rotinas terríveis de despesa que fomos gerando, consolidando e acumulando.
Enquanto não fizermos uma reforma estrutural do Estado, a coisa não tem conserto efectivo.

Anónimo disse...

Percebo tudo isso, e estamos de acordo - para si são 10-5 e para mim 9-6, mas isso aqui é indiferente. A questão é mesmo a derrapagem inicial, e a mim parece-me que começou em 74 - antes disso eramos uns tacanhos, ou não?
Enquanto andarmos à procura das causas, não encontramos soluções, ou não é assim? O homem ainda não se candidatou a nada, e tratam-no como oposição, é frustrante para o eleitor. Eu votava cds...

José Ribeiro e Castro disse...

Não é andar à procura das causas, o que, aliás, também é preciso saber.
É apenas não as esquecer, enquanto se enfrenta o problema e se procura dar-lhe a volta.

José Ribeiro e Castro disse...

Não é andar à procura das causas, o que, aliás, também é preciso saber.
É apenas não as esquecer, enquanto se enfrenta o problema e se procura dar-lhe a volta.