domingo, 25 de maio de 2014

Europeias (2): O 2º voto de protesto


As projecções à boca das urnas, apontando para que PSD e CDS-PP, na Aliança Portugal, tenham um resultado inferior a 29% dos votos, sinalizam o 2º voto de protesto destas eleições: um voto de protesto contra os partidos da maioria e de Governo. 

A confirmar-se, será um péssimo resultado eleitoral, bem mais do que apenas desastroso. Na minha leitura histórica das eleições em Portugal, um protesto (e a sinalização de descontentamento) contra a coligação eleitoral PSD/CDS-PP medir-se-ia abaixo dos 40%; e seria tanto mais intenso, quanto mais longe ficasse deste chão, este limiar mínimo normal. E, ainda assim, já traduziria uma quebra significativa contra os 50,4% que os dois partidos, somados, alcançaram nas legislativas de 2011.

Terei ocasião de o comentar mais pormenorizadamente, mais tarde. Mas estas projecções indicam que os eleitores quiseram sinalizar os seus sentimentos de forma particularmente dura. 

Desde 1976, as primeiras eleições do regime democrático, nunca PSD e CDS tiveram, em eleições nacionais, um resultado inferior a 40%. Separados ou coligados, 40% foi sempre a maré baixa dos dois partidos que representam o centro e a direita democrática em Portugal. Isto aconteceu sempre, em dezanove eleições, com uma única excepção: a coligação para as europeias, em 2004, recolheu apenas 33,3%, o que antecipou a hecatombe do ano seguinte nas legislativas de 2005 com 36% somados (PSD - 28,8%; CDS-PP - 7,2%). Esta, em 2004/05, foi a única excepção, que confirma em absoluto aquela regra. Agora, as projecções indicam que será ainda pior. E é, de facto, muito mau: mesmo nas eleições constituintes, em Abril de 1975, em pleno PREC, com um fortíssimo condicionamento esquerdista e a revolução na rua, os dois partidos somaram heroicamente 34% (PPD - 26,4%; CDS - 7,6%).

Este protesto carece de ser lido sob vários ângulos - e a sério. Mas não creio que possa reflectir-se na estabilidade política do país, nem que se repercutisse numa queda do Governo e eleições antecipadas. Isso seria a continuação do discurso do "golpe de Estado", feito pelo PS e outras oposições, e que nada legitima - o 1º protesto, inscrito na massiva abstenção, também o afasta liminarmente.

Esse "golpe de Estado" seria uma absoluta catástrofe financeira, económica e política. que só irresponsáveis poderiam querer cavalgar. Os eleitores não querem nada disso. Mas o protesto precisa de ser lido e entendido - respondido também.

ACTUALIZAÇÃO: O resultado final ainda conseguiu ser pior para a coligação PSD/CDS-PP: 27,7% e pouco mais de 900 mil votos! Nunca se viu uma coisa assim. Uma sova e uma indiferença como não havia nem registo, nem memória. (Ver Resultados)

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