Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de Henrique Neto, hoje saído no jornal i.
Portugal é hoje um país à deriva, sem estratégia e sem futuro, e os jovens portugueses não votam e procuram no estrangeiro as oportunidades que aqui lhes são negadas.
Reforma eleitoral já
O estado geral de uma nação e o seu nível de progresso não se medem apenas pelos avanços obtidos relativamente ao seu passado - a generalidade dos países tem uma evolução positiva -, mas na comparação com as outras nações e só depois de algum tempo decorrido, cinco a dez anos, a medição se torna fiável. Por isso, sendo inegável que Portugal teve uma evolução positiva depois do 25 de Abril de 1974, com a chegada da liberdade e da democracia, mas também da educação e da saúde, globalmente Portugal deixou-se atrasar em relação à generalidade das outras nações.
Por exemplo, a Irlanda é uma pequena ilha com menos de cinco milhões de habitantes que há 40 anos se situava atrás de Portugal, mas que está hoje na linha da frente dos países europeus, apesar de ter tido de superar, em 2008, os desvarios do seu sistema financeiro. Exporta cerca de 113% do PIB (2014) contra 40% de Portugal e, nos últimos três meses, a economia cresceu ao ritmo de 8% ao ano, mais do que a China. O ordenado mínimo é de cerca de 1500 euros mensais e isso diz tudo.
Há 15 anos, na moção que apresentei ao xii Congresso do PS, previ que, no futuro, a Irlanda seria um dos países mais avançados da Europa, juízo feito com base na boa governação do país e na clareza da sua estratégia: um sistema político e eleitoral democrático, a prioridade à educação e à formação profissional, uma economia altamente exportadora, baixos impostos e baixos gastos do Estado e um forte e motivador sentimento nacional, animado por algum ressentimento contra a Inglaterra, com a qual mantém uma relação semelhante à que nós tivemos e, infelizmente, deixámos de ter com a Espanha.
E falando da Espanha, quem entre os mais velhos não se recorda do que era este país depois da guerra civil e mesmo nos anos 60 e 70 do século passado. Era um país muito menos agradável do que Portugal, com estradas pré--históricas, uma economia rural e um nível de vida inferior ao português. Tudo mudou entretanto e a Espanha possui hoje uma forte economia industrial, uma agricultura moderna e exportadora e uma ferrovia que é das mais modernas da Europa.
Neste mesmo tempo, em Portugal, a economia estagnou, uma dívida externa enorme coarta a independência nacional e limita o investimento, as exportações são mínimas para um país da nossa dimensão e desadequadas. Sobretudo, continuamos a ser um dos países mais pobres da Europa, com rendimentos das famílias muito baixos e fortemente desequilibrados entre ricos e pobres e entre o Estado e a atividade privada.
Acresce que este atraso no desenvolvimento nacional em relação aos outros países já dura há mais de uma década e que, apesar dos apoios recebidos, nos estamos a afastar dos níveis de desenvolvimento da União Europeia, além de que não se vislumbram as condições mínimas para que esta situação se altere no futuro. O sistema político é fracamente democrático e destrutivo da continuidade das políticas públicas, o Estado consome a maioria dos recursos criados pela economia, a corrupção vitima as energias nacionais e a impunidade permitida cria um clima geral de irresponsabilidade.
Portugal é hoje um país à deriva, sem estratégia e sem futuro, e os jovens portugueses não votam e procuram no estrangeiro as oportunidades que aqui lhes são negadas. Razão mais do que suficiente para justificar a publicação feita do Manifesto “Por uma Democracia de Qualidade” e a reivindicação de reformas eleitorais já.
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Henrique NETOGestor
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