Recentemente, voltaram a sair, com grande destaque, notícias dando conta de aparentes avanços na construção do chamado "mercado único de energia" no quadro da UE, a saber: Comissão apresenta proposta legislativa para o mercado único de energia (PÚBLICO, de 24/02/2015); e “Vivemos momento único” na construção de uma união energética europeia, diz Moreira da Silva (PÚBLICO, de 25/02/2015).
Avenida da Liberdade quis ouvir a explicação de um especialista, o Eng.º Jorge Pacheco de Oliveira, e colher também a sua opinião.
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As interligações eléctricas através dos Pirenéus
As recentes notícias sobre as interligações eléctricas através dos Pirenéus revelam claramente uma intensificação das acções desenvolvidas pelos lóbis eólicos de Portugal e Espanha, fortemente interessados no reforço destas interligações por motivos cuja nobreza de intenções deixa muito a desejar. De facto, embora o projecto em si mesmo tenha méritos e não se possa considerar rejeitável, a forma como está a ser impulsionado torna-se criticável.
Em abono da verdade, diga-se que o reforço destas interligações já é reivindicado há muitos anos, ainda antes da existência de geradores eólicos. E também não faz sentido dizer, como por vezes se lê, que era a França que bloqueava esse reforço para proteger a sua indústria nuclear. Pelo contrário, a energia eléctrica de origem nuclear é mais barata do que a energia com origem nas restantes formas de produção, com a possível excepção do carvão, pelo que, se alguém poderia recear a concorrência em mercado aberto, seriam Portugal e Espanha e não a França.
Em Portugal, no início dos anos 80, o crescimento dos consumos era próximo de 10% ao ano, e sendo nesse tempo mais difícil instalar rapidamente novas centrais, pelo menos económicas, justificava-se a ideia de recorrer à energia nuclear dos franceses, abundante e barata. Quem nos levantava obstáculos era a Espanha, invocando os direitos de passagem. A questão foi resolvida comprando a Espanha a energia à França para depois a vender a Portugal.
Em consequência do anterior, justifica-se uma interrogação : por que razão insistem agora Portugal e Espanha no reforço das interligações ?
O argumento oficialmente apresentado é permitir escoar a energia renovável produzida na Península, ou seja, vender em França a energia eléctrica de origem eólica produzida em Portugal e Espanha. Acontece que os preços de venda praticados pelos produtores eólicos, sobretudo em Portugal, são de tal forma elevados em comparação com os preços que vigoram no mercado ibérico, o MIBEL, que não teriam qualquer hipótese de concorrer com a energia de origem nuclear francesa. Como compreender, então, a insistência de Portugal nestas interligações?
A explicação é relativamente simples, mas, como possui contornos inconfessáveis, tem sido ocultada do grande público. O que não é difícil, pois a generalidade dos cidadãos desconhece a complexidade destes negócios e, sobretudo, ingenuamente acredita que, sendo o vento de borla, a energia de origem eólica deve ser uma coisa boa.
Como é conhecido, os grandes embustes suportam-se sempre na ignorância dos povos e na perigosa tendência das pessoas para acreditar em mentiras, sobretudo quando as mentiras são urdidas segundo o critério apontado pelo perspicaz poeta António Aleixo : “P’ra mentira ser segura/ e atingir profundidade/ tem de trazer à mistura/ qualquer coisa de verdade”... O vento é de borla, mas o que não é de borla é a energia que as mesmas pessoas pagam com língua de palmo aos produtores eólicos, através da factura da EDP Comercial, ou de outras empresas comercializadores, uma vez que as tarifas eléctricas resultam de cálculos laboriosos efectuados por uma entidade reguladora que segue regras administrativas demasiado favoráveis aos produtores eólicos.
Na verdade, os produtores eólicos nacionais não tencionam entrar em competição com os produtores franceses. De modo algum. Nem conseguiriam, pelo que atrás ficou dito. Aliás, nem têm necessidade de entrar em competição com nenhum outro produtor. A legislação portuguesa permite-lhes produzir energia sempre que o vento soprar, podendo injectar toda essa energia na rede sem pedir autorização ao Despacho. E a preços que lhes são muito favoráveis, facultados por uma legislação conveniente elaborada ainda durante o governo de Guterres, mas prosseguida pelos governos posteriores, o que mostra bem o poder do lóbi eólico.
O Despacho não tem outro remédio senão assistir, praticamente impotente. E se a energia eólica for excessiva, como acontece em geral de madrugada, em que os consumos são muito reduzidos, a única coisa que o Despacho pode fazer é dar instruções a outros produtores para desligarem alguns dos seus geradores, seleccionando os que mais rapidamente conseguem sair da rede, em geral os geradores hidráulicos ou os geradores térmicos com turbinas a gás natural. Não importa que os regimes de pára-arranca sejam pouco saudáveis para os geradores térmicos, que perdem rendimento e aumentam os custos dos respectivos produtores, um aspecto que agrava a factura energética global do país e imputável à opção eólica.
O que chega a tornar-se caricato é que os produtores eólicos nacionais, que tanto invocam a necessidade de reforço das interligações através dos Pirenéus, nunca irão vender a sua energia em França. Nem sequer em Espanha. De forma confortável vendem localmente a sua energia aos consumidores portugueses. Não directamente, é certo, porque o seu cliente imediato é a EDP Serviço Universal, que lhes paga os preços administrativos fixados por lei. Os produtores eólicos não se sujeitam a mercado nenhum. Têm à disposição uma legião de clientes nacionais, de mãos atadas, obrigados a pagar-lhes preços exorbitantes, muito superiores aos preços de mercado das outras formas de produção.
Mas o lóbi eólico está inquieto. Na perspectiva de ver os seus preços refreados pelo constante protesto de cidadãos que não se conformam com as elevadas tarifas da electricidade (relatórios de instituições estrangeiras acreditadas pela própria Comissão Europeia apontam os preços da electricidade em Portugal como os mais altos da União, em termos da paridade do poder de compra) o lóbi eólico pretende expandir a sua capacidade instalada. Tal expansão corre o risco de vir a agravar os problemas de excesso de produção, se não houver para onde escoar toda a energia produzida a horas de menor consumo. Por sinal, até hoje, o Despacho ainda não chegou ao ponto de se ver obrigado a mandar sair grupos eólicos da rede, mas se a produção eólica aumentar em demasia, pode vir a acontecer.
O reforço das interligações com França tem o mesmo objectivo que a construção de albufeiras com grupos hidráulicos reversíveis, uma decisão do governo Sócrates. Qualquer das soluções oferece a possibilidade de consumir a energia eólica excedentária. Ou seja, produz-se energia a mais, sem necessidade, mas arranja-se uma forma expedita de a escoar. Os consumidores portugueses cá estão para pagar. O custo elevado desta pretensa solução é coisa que não interessa, nem ao lóbi eólico, nem às autoridades que suportam esta situação. Que a energia em excesso seja vendida a Espanha, ou mesmo, no futuro, além Pirenéus, a preços bem mais reduzidos, eventualmente zero, como já aconteceu nas interligações com Espanha, isso não importa aos produtores eólicos. Já venderam tudo em Portugal a valores entre 90 e 100 Euros/MWh.
É ainda necessário ter em conta o contributo que as eólicas têm vindo a dar para o acréscimo do tristemente célebre “défice tarifário”, uma dívida que impende sobre a cabeça de todos os consumidores domésticos nacionais sem que estes tenham feito nada que a justifique, a não ser viverem num país em que o respeito pelas pessoas não tem grande tradição. De facto, com ou sem interligações nos Pirenéus, quando a energia injectada na rede nacional tem os preços praticados pelos produtores eólicos, e quando as quantidades são cada vez maiores, acentua-se a diferença entre custos realizados e custos previstos pela entidade reguladora para a EDP Serviço Universal e o défice tarifário vai aumentando todos os anos, ainda que o governo não intervenha pontualmente para conter os aumentos preconizados pela entidade reguladora.
É bom recordar que o défice tarifário teve a sua “estreia” em 2006, quando o governo Sócrates limitou o aumento das tarifas a 2,3%, contrariando a proposta da entidade reguladora, que era de 14,7%. O governo fez um brilharete perante os eleitores, mas os consumidores não ganharam nada com isso. Apenas viram adiado o pagamento do mesmo aumento, uma vez que lhes foi imputada uma dívida à EDP de cerca de 420 milhões de Euros. Uma dívida a pagar em suaves prestações mensais, nos 10 anos (depois 15) seguintes, mas com juros. Ou seja, foi criado um maná para bancos e intermediários financeiros que se perfilaram para “comprar” a dívida tarifária à EDP. E a EDP, obviamente, tem feito a titularização dessa dívida como lhe compete.
Ironicamente, pode dizer-se que, embora obrigados, os portugueses começaram nessa altura, também na electricidade, a viver acima das suas possibilidades. Actualmente o défice tarifário vai já perto de 5.000 milhões de Euros e está a tornar-se um problema muito sério. Por sinal, no actual governo houve um secretário de Estado que teve a pretensão de pôr cobro a esta situação. Foi despedido sem apelo nem agravo e segundo fontes geralmente bem informadas, o despedimento foi celebrado com espumante pelo lóbi eólico.
E aqui entra o aspecto mais reprovável, para não dizer indecoroso, deste processo : o governo português sabe perfeitamente disto tudo! Os nossos representantes governamentais vão para as reuniões trilaterais, ou multi-laterais, para defender, não os interesses dos portugueses em geral, mas sim os interesses do lóbi eólico. Vão os deste governo, do PSD e do CDS, mas, a avaliar pelas declarações dos actuais responsáveis socialistas pela área da energia, se o próximo governo voltar a ser do PS, teremos mais do mesmo.
Na verdade, os portugueses não podem esperar nada de governos capturados por lóbis, neste caso pelo lóbi eólico, ou, de uma forma mais geral, pelo lóbi das renováveis. Por uma razão simples : o lóbi das renováveis é o mesmo que o do alarmismo climático, o qual (ainda) tem muita força a nível internacional. E o alarmismo climático, que se adapta perfeitamente ao verso do poeta Aleixo, tem sido a principal justificação para os preços inflacionados das energias renováveis.
Jorge PACHECO DE OLIVEIRAEngenheiro electrotécnico
N.E. - Os destaques a negrito (bold) são da responsabilidade do editor.
12 comentários:
Parabéns, JPO.
Parabéns, JRC.
Excelente fotografia do nosso pobre País e de quem manda nele, mas ainda não está preso nem foi ouvido na AR.
LCS
"...Mas o lóbi eólico está inquieto."
Não me parece. O lóbi que deve estar inquieto é o dos combustíveis fósseis. São obrigados a "...desligarem alguns dos seus geradores, ... em geral os hidráulicos ou os geradores térmicos com turbinas a gás natural." E assim vai continuar até eventualmente serem todos faseadamente extintos. As negociações climáticas da UNFCCC em Paris deste ano estão a deixar muita gente à beira de um ataque de nervos - os que não sabem como aproveitar as oportunidades da transição para uma economia de baixo carbono e só vêm ameaças e riscos pela frente. Esse tipo de pessimismo e derrotismo é felizmente apenas característico de uma minoria em Portugal. Todos os outros já se estão a virar com otimismo e expetativa para soluções prometedoras de eficiência energética, micro e miniprodução (geração descentralizada), smart grids, veículos elétricos, receitas no mercado de carbono, venda de licenças de emissão, diferenciação de produtos e serviços com vantagem competitiva por via de menor incorporação carbónica, maior regulamentação ambiental/de carbono etc. etc. Portanto isto não vai nada tudo para a fossa, os que forem são os que estão obsoletos e não se souberam adaptar às novas circunstâncias (alarmistas ou não, isso não importa). É o mesmo de sempre, não é a primeira vez - quando veio a revolução industrial também houve uma falta de aproveitamento e Portugal perdeu o comboio. Vamos a ver se desta vez o apanhamos!
Percebe-se que o leitor Afonso S. acredita piamente nas teses do IPCC relativas ao aquecimento global de origem antropogénica. Acerca disso não vou pronunciar-me uma vez que estas teses assumiram, para muitas das pessoas que nelas acreditam, características de uma verdadeira religião e não se consegue demover ninguém das suas crenças religiosas. Mesmo que o Hemisfério Norte esteja há alguns meses sob uma violenta vaga de frio, quem acredita nas teses do IPCC continua a pensar que a responsabilidade é do dióxido de carbono oriundo da queima de combustíveis fósseis. Não há argumentação possível...
Relativamente à energia eólica, parece-me que o leitor Afonso S. terá lido o meu texto com pouca atenção. O que escrevi desenvolve uma relação clara entre causa e efeito, para justificar o interesse do lóbi eólico relativamente ao reforço das ligações através dos Pirenéus.
Ainda hoje uma notícia do jornal “i”, intitulada “Cimeira de Madrid - Espanha e França anunciam três novas interligações eléctricas”, contém o seguinte parágrafo :
"As interligações eléctricas Espanha-França assumem grande importância para Portugal, que independentemente das ligações com o país vizinho tem de contar com a ligação através dos Pirenéus para poder exportar para o resto da União Europeia electricidade gerada a partir de energias renováveis."
Como já expliquei no texto em apreço, mas não me importo de repetir, os produtores de energias renováveis em Portugal (leia-se eólicas) não vão vender energia nenhuma do outro lado dos Pirenéus. Eles vendem apenas em Portugal !! E vendem aos portugueses, através da EDP Serviço Universal, a preços da ordem do dobro dos preços formados no mercado ibérico. Não conheço ninguém que concorde com isto, a não ser os promotores eólicos.
E mais : a parte da energia eólica nacional que vier a ser vendida além Pirenéus, pela EDP, vai ser paga a um valor irrisório pelos franceses, pois estes dispõem de energia abundante e a preços reduzidos. Mas, obviamente, aceitarão a energia que lhes for oferecida a preços ainda mais reduzidos. Como, aliás, têm feito os espanhóis, que por vezes a aceitam a preço zero. Os portugueses já a pagaram, e bem. Só pode concordar quem ganha com o negócio.
A energia de origem eólica que chegar aos Pirenéus é energia excedentária em Portugal, a qual só é injectada na rede nacional porque os produtores eólicos têm uma capacidade instalada superior à que seria aceitável. As interligações com França são apenas um pretexto para continuarem a dispor de parques eólicos com capacidade excessiva e até para a aumentarem. Este é que é o tema em análise.
Jorge Pacheco de Oliveira
Caro "escritor", obrigado pelos comentários. Passo a esclarecer:
"Percebe-se que o leitor Afonso S. acredita piamente nas teses do IPCC relativas ao aquecimento global de origem antropogénica..."
Não sei como é que isso se possa "perceber" daquilo que escrevi. Isso é uma falácia argumentativa que visa apenas desacreditar quem o contradiz, aos seus próprios olhos e aos dos que o apoiam cegamente, se é que os há. Fá-lo para se sentir melhor? É triste. Ademais, é irrelevante o que penso do IPCC assim como o é o que o senhor pensa porque tanto quanto eu saiba, nem eu nem o Sr. somos cientistas com publicações reconhecidas nessa matéria. Pesquisei o seu nome no Google e não me apareceu nada na área das ciências do clima.
Mas se é assim, também posso escrever (e sem acrescentar nada à discussão):
Percebe-se que o escritor Jorge Pacheco de Oliveira acredita piamente nas teorias da conspiração ridículas, não-cientificamente fundamentadas, de que não há aquecimento global de origem antropogénica e é tudo uma vigarice. Acerca disso não vou pronunciar-me uma vez que estas teses assumiram, para muitas das pessoas que nelas acreditam, características de uma verdadeira religião e não se consegue demover ninguém das suas crenças religiosas.
E até posso acrescentar no mesmo tom, que o comentário acerca da "violenta vaga de frio" que usou como pseudoargumento para desmontar a teoria das alterações climáticas é ridículo porque revela que o escritor nada percebe de modelos climáticos, muito menos da diferença entre os conceitos weather/climate e climate variability/climate change.
Mas não se preocupe porque do lado de quem terá razão apoiada na ciência haverá sempre "mais argumentação possível..." O que não faltam por aí são cursos e publicações científicas acerca do clima e de como são testados, atualizados e validados os modelos climáticos. Se para si é questão de fé, então acredite no que quiser. Está com sorte, na democracia do estado laico está no seu direito.
Voltando ao tom sério: Para "o tema em análise" (ou para o negócio de muitos Portugueses), não faz sentido nenhum fingir que o IPCC não existe ou que está errado. Isto é porque em termos práticos, para que o país e as empresas sejam competitivas há que saber adaptar, inovar, reduzir custos, riscos e aproveitar oportunidades. Isso não é difícil de entender.
Claro que o lóbi eólico pode ter interesse nas interligações elétricas de que estamos a falar. O que não está fundamentado é que essa relação seja perversa ou maligna, como o senhor dá a entender. O lóbi das eólicas é tão perverso como qualquer outro que o senhor discorde. O próprio Sr. Jorge Pacheco de Oliveira está aqui mesmo a fazer campanha, e quiçá, lóbi, contra o lóbi das eólicas em Portugal. Se não gosta de lóbis pode mudar para outro país menos democrático, mas se gosta de exercer o direito de fazer lóbi então vai ter de aprender a tolerar os lóbis dos outros, especialmente os que pelos vistos estão a ganhar. Desde que seja dentro dos limites da legalidade, é isto mesmo que é a democracia. A participação de grupos empresariais, de cidadãos, de ONGs ou de outro género na democracia é de salutar.
De resto, mais uma vez é preciso contextualizar a discussão com (quer goste quer não goste) as políticas europeias para a energia e para a mitigação das alterações climáticas. A própria França terá de incorporar mais energias renováveis no seu mix energético. Há metas e compromissos a serem estabelecidos e é óbvio que quem ganha com o negócio é que se está a rir e a abrir garrafas de champagne. Os que não souberam vingar no contexto e apostaram em lóbis que perderam ficam obviamente pior e a lamentar-se, queixando-se de que a culpa foi do árbitro, leia-se o IPCC.
Não duvido que a capacidade instalada de eólicas em Portugal está artificialmente suportada por políticas e custos que nos cabem a muitos, mas na conjuntura global percebo o esforço de transição que é necessário fazer para uma economia de baixo carbono. As contas à economia não devem ser feitas como o fazem as empresas ou os políticos: não é a 4 anos ou 10 ou 20, é a longo prazo e sem externalidades (como a poluição, os direitos sociais e sim, se for caso disso, os impactes das alterações climáticas).
Se assim não fosse e ganhassem outros lóbis, então, para minha autorrecreação e usando da falácia da derrapagem, estaríamos todos ainda agora na economia baseada na lenha ou no carvão, ou na escravatura. E já todos vimos que quando há uns que se agarram em demasia "à tradição" contra a vontade da maioria, até guerras violentas se fizeram.
Deixe-se lá do azedume contra o lóbi das renováveis. A minha recomendação é o saber do povo "Se não os consegues vencer, junta-te a eles."
Seria interessante que Afonso S. nos explicasse por que se esconde atrás de um efectivo anonimato. Tem necessidade disso? Há alguma coisa que o embarace?
E seria ainda mais interessante que Afonso saísse de trás desse anonimato e se apresentasse aqui com a própria cara.
Pesquisei o seu nome (Afonso S.) no Google e não me apareceu nada: nem na área das ciências do clima, nem noutra qualquer. Não existe.
Querer fazer debates sérios escondido como anónimo é uma contradição em si mesmo. Não dá. Só debatem realmente os que se apresentam.
Por mim, tendo a considerar mesmo que intervir como anónimo é uma cobardia, sobretudo quando não se transmite qualquer informação objectiva e minimamente útil, mas se entra unicamente a provocar um interlocutor, leal e honesto, que a si mesmo se apresenta com verdade.
O anonimato electrónico é, em si mesmo, um embuste. Normalmente usado para transmitir outros embustes e sempre, sempre para fugir a qualquer tipo de responsabilidade.
Vá lá, deixe-se disso, Afonso S.! A menos que esteja a viver debaixo de alguma ditadura ou sob ameaça; ou que queira “mudar para outro país menos democrático”, como finge preocupar-se.
Tem medo de quê? Ou será vergonha?
Explique-nos, para ao menos quem o lê poder entender.
Muito bem apresentado pelo Jorge Pacheco de Oliveira. Certeiro e didáctico.
Os lóbis são legítimos e desejáveis, desde que não entrem no meu bolso sem eu ter dado autorização ... que neste caso é o caso do lóbi eólico.
João de Jesus Ferreira
Talvez esta seja a parte mais importante do artigo: "O reforço das interligações com França tem o mesmo objectivo que a construção de albufeiras com grupos hidráulicos reversíveis, uma decisão do governo Sócrates.".
Não será de pôr de parte o que as renováveis e sobretudo os outros CMECs (Custos de Interesse Económico Geral, não referido em detalhe no artigo) contribuem para o Défice Tarifário. Mas os custos que as potenciais barragens do Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) representam, podem ainda ser evitados substituidos pelos investimentos nestas interligações. E neste contexto talvez uma EDP ou Endesa se sintam mais inquietos que os lobbies eólicos. Por um sistema mais eficiente e também mais económico.
Peço desculpa por contrariar várias posições (parece-me correta a posição descrita por Vital Moreira no económico.sapo), e licença para apresentar alguns elementos que me parecem de interesse público. Não pretendo tomar partido por ou contra qualquer lóbi, seja renovável, importador de combustíveis fósseis ou nuclear. Apenas apresentar questões técnicas.
1 – a fatura energética de Portugal não parece sustentável uma vez que importa cerca de 75% da energia primária que consome (fundamentalmente para transporte rodoviário)
2 – sendo assim, não parece incorreto aumentar a taxa de produção renovável (eólica e hidráulica, sendo que ainda há potencial para instalação de 5.000 MW) desde que o seja de forma integrada em todo panorama energético e de transportes
3 – é evidente que para isso devem alterar-se os dogmas financeiros que condicionam o défice tarifário e a remuneração do MWh a 100 euro. É razoável, considerando o aumento da potencia instalada, remunerar o MWh a 50 euro.
4 – de forma análoga ao que já foi proposto para as famosas PPP , beneficiando das baixas taxas de juro, “adquirir” aos bancos as PPP, e redução da rentabilidade de 16% para 3%, podendo encarar-se um programa de aquisição de ativos ao dito lóbi eólico, desvalorizados com base na referida remuneração
II parte
5 – as razões para aumentar na Europa a taxa de renováveis não são apenas as das alterações climáticas. Primeiro, trata-se de reduzir a importação de combustíveis fósseis (a dependência do exterior da Europa em energia primária é 50%). Além disso, o preço baixo do nuclear francês não deve poder manter-se: as centrais nucleares estão obsoletas do ponto de vista da segurança e a sua atualização já foi estimada em 30.000 milhões de euros. Acresce que a construção de centrais nucleares novas, de maior segurança, serão caras e a remuneração do MWh consequentemente elevada (é a experiencia da noca central finlandesa).
6 – tal como pode ver-se nas ligações que junto, a recomendação europeia é a de que 10% da ponta de potencia elétrica consumida possa estar interligada com países vizinhos. Apesar da recente inauguração de 64km de cabos enterrados de muito alta tensão contínua para interligação das redes francesa e espanhola, também ilustrada nas referidas ligações, o valor da interligação Espanha-França ainda é menos de metade do objetivo (prevê-se o lançamento de cabos de muito alta tensão contínua no golfo da Bizcaia) e entre Portugal e Espanha ainda pior (daí a expressão “ilhas energéticas”). O custo de uma interligação com esta solução técnica é da ordem de 10 milhões de euros por km, obviamente sujeito a financiamento comunitário.
7 – voltando ao excesso de potencia renovável instalada e repetindo que se trata de assunto que exige o seu estudo devidamente integrado no panorama geral energético e de transportes, a utilização desse excesso poderá ser feita através da exportação (obviamente resolvendo o assunto das altissimas remunerações do MWh e beneficiando da vontade expressa de Juncker de “ajudar” à solução do problema das interligações) e do armazenamento. O consumo poderá ainda ser otimizado através da alimentação da rede ferroviária (recordo que o atual tráfego aéreo de passageiros entre Lisboa e Madrid e Lisboa e Porto está associado a desperdício energético, dada a menor eficiência do transporte aéreo quando comparado com o transporte ferroviário).
8 - O armazenamento poderá ser feito nas tais albufeiras reversíveis (exige obviamente financiamento comunitário maioritariamente a fundo perdido), e através da carga de baterias ou de produção descentralizadas de hidrogénio (é a eletricidade que é transportada do local de produção de energia elétrica para o local de carga ou de produção de hidrogénio). Quer as baterias quer o hidrogénio poderão ser localmente aplicados em transportes (postos de abastecimento de combustível já em funcionamento nalguns países da Europa, nomeadamente para abastecimento de autocarros elétricos de baterias ou de células de combustível). O armazenamento através do hidrogénio poderá ainda ser rentabilizado através do aquecimento doméstico por células de combustível.
9 - Embora o rendimento da produção de hidrogénio seja baixo, a vantagem é a de poupar a importação de combustíveis fósseis. O inconveniente é exigir um controle de custos a empresas ou financeiras privadas mais interessadas no lucro ou com dificuldade em competir com os preços da eletricidade espanhola ou francesa, ou a empresas participadas públicas (caso da espanhola REE e da francesa RTE) que possam não deter o “know-how”necessário (o que não parece ser o caso da REE e da RTE; no entanto, Juncker disponibilizou-se para agilizar um gabinete de apoio técnico para estudas as interligações).
F.Santos e Silva
http://economico.sapo.pt/noticias/uniao-europeia-da-energia_212653.html
http://fr.wikipedia.org/wiki/INELFE
http://www.euractiv.es/noticias/noticia.php?noticia=9610
http://www.ree.es/es/red21/refuerzo-de-las-interconexiones
http://www.revistaentrelineas.es/27/noticias/francia-y-espana-apuestan-por-la-interconexion-submarina-por-el-golfo-de-vizcaya
No meu texto, tratei apenas de uma questão. O leitor F. Santos e Silva introduz muitas outras. Nalgumas estou de acordo com a opinião manifestada e noutras não, mas uma resposta completa seria extremamente extensa. Julgo que não é este o local nem a oportunidade para tanto.
Não obstante, há uma observação que não posso deixar de fazer : o leitor F. Santos e Silva, no seu entusiasmo, parece ignorar que a EDP e a REN já não são empresas públicas e que todas as estratégias sugeridas para o sector eléctrico têm de passar pela aprovação dos seus accionistas.
Jorge Pacheco de Oliveira
Certeira, a sua observação, caro J.Pacheco de Oliveira. Dá-se de facto o caso de eu ainda pensar que a eletricidade é um assunto estratégico de interesse nacional e, portanto, que as empresas de referência deveriam ter uma participação pública significativa, tal como a REE e a RTE. No entanto, conto, talvez ingenuamente, que a política energética europeia poderá "ajudar" os atuais acionistas no interesse público.
Cumprimentos
F.Santos e Silva
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