quarta-feira, 28 de março de 2012

Hino da Restauração (III): as duas letras


Single em vinil  com o Hino da Restauração, editado pela
Sociedade Histórica da Independência de Portugal

letra inicial do Hino da Restauração, que fazia parte da peça “1640 ou a Restauração de Portugal”, estreada e publicada em 1861, não corresponde à letra actualmente cantada nas cerimónias do 1.º de Dezembro. A letra actual resulta de uma adaptação feita já na República, após o Decreto de 13 de Outubro de 1910 que instituiu, entre outros, o feriado nacional do 1º de Dezembro, não se tendo conseguido determinar se houve apenas uma alteração ou várias alterações em diferentes momentos do primeiro quartel do século XX.

Algumas das alterações feitas à letra tiveram como objectivo a  actualização e simplificação da linguagem.

Por exemplo, as frases:

“Lusitanos é chegado o dia da redenção. 
Caem do pulso as algemas. 
Ressurge livre a Nação.”

são substituídas por:

“Portugueses celebremos o dia da redenção
em que valentes guerreiros
nos deram livre a Nação.”

Ou ainda: 

“O Deus de Affonso, em Ourique
Dos livres nos deu a lei:
Nossos braços a sustentem,
Pela pátria, pelo rei”

substituídas por:

“A Fé dos Campos d’Ourique
Coragem deu, e Valor,
Aos famosos de quarenta,
Que lutaram com ardor.”

Neste último caso, para além da simplificação da linguagem, foram habilmente retiradas da letra inicial alusões régias, pois, entretanto, o regime político em Portugal mudara. Precisamente, o segundo tipo de alterações respeitou à eliminação de versos que tinham acentuada carga monárquica. Assim, são retiradas quadras inteiras nas quais se fazia referência à Casa de Bragança, numa apologia real que soava desenquadrada no regime republicano. É o caso de: 

“Bragança diz hoje ao povo:
"Sempre, sempre te amarei"
O povo diz a Bragança
"Sempre fiel te serei"”

e de: 

“Excelsa Casa, Bragança
Remiu captiva nação;
Pois nos trouxe a liberdade
Devemos-lhe o coração.”

Importa recordar que a letra original se integrava numa peça teatral escrita e apresentada no tempo da Monarquia, dedicada ao rei D. Pedro V e estreada no dia de aniversário do rei-viúvo D. Fernando II, ao mesmo tempo que o Hino da Restauração era o tema que acompanhava o quadro final de coroação de D. João IV. O fervor monárquico da letra e a sua associação à Casa de Bragança não podiam ser mais ajustados. Porém, a grande popularidade do Hino e o facto de ser tocado sempre nas cerimónias oficiais e populares de celebração do 1º de Dezembro, depois de a República ter instituído o feriado e dado início à sua comemoração solene todos os anos, levou a uma adaptação da letra aos novos tempos. 

Estas alterações na letra são fruto dos tempos, fazem parte da história contemporânea de Portugal, devendo ser contextualizas. E em nada retiram o valor do hino, um cântico à nossa Independência, ao orgulho que temos em ser Portugueses.

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