A troika não tem - creio eu - nada a ver com estas tentativas deploráveis de mandar pela escada abaixo o feriado nacional do 1º de Dezembro. E que tivesse...
Mas perguntem à troika se imporia à Alemanha jogar fora o feriado do 3 de Outubro, que celebra a reunificação alemã em 1991. Perguntem à troika se submeteria a Bélgica a revogar os seus feriados de 21 de Julho e 11 de Novembro, que comemoram, respectivamente, a coroação do primeiro rei belga em 1831, depois da independência dos holandeses, e o Armistício no fim da guerra 1914-18. Perguntem à troika se imporia à Bulgária deitar fora os feriados de 3 de Março e de 22 de Setembro, que evocam a autonomia do Império Otomano e, finalmente, a independência, em 1878 e em 1908. Perguntem à troika se exigiria de Chipre o desaparecimento do feriado do 1º de Outubro, que festeja a independência do império britânico em 1960 – ou até um só que fosse dos outros dois feriados da independência grega, que também se celebram em Chipre. Perguntem à troika se exigiria da Croácia riscar do calendário o feriado de 25 de Junho, que lembra a declaração de independência face à ex-Jugoslávia, em 1991. Perguntem à troika se imporia à Eslováquia desfazer-se do feriado do 1º de Setembro, que celebra a adopção da Constituição de 1992, consolidando a separação da Checoslováquia – ou até um só que fosse dos outros quatro feriados nacionais que celebram o valor da independência nacional. Perguntem à troika se sujeitaria a Eslovénia a suprimir o feriado do 25 de Junho, que saúda a sua independência da ex-Jugoslávia em 1991. Perguntem à troika se exigiria da Estónia banir os feriados de 24 de Fevereiro e de 20 de Agosto, que lembram a sua independência da Rússia e da União Soviética, em 1918 e em 1991. Perguntem à troika se obrigaria a Finlândia a abolir o feriado do 6 de Dezembro, que assinala a independência da Rússia em 1917. Perguntem à troika se exigiria da França um ou ambos os seus dois feriados de 11 de Novembro e 8 de Maio, que celebram a vitória e a paz em 1918 e em 1945. Perguntem à troika se vergaria a Grécia a abolir os feriados de 25 de Março e de 28 de Outubro, que festejam a independência do Império Otomano e a rejeição do ultimato fascista de Mussolini, em 1821 e em 1940. Perguntem à troika se reclamaria da Holanda o fim do feriado de 5 de Maio, que festeja a derrota do nazismo e da ocupação alemã, também em 1945. Perguntem à troika se vexaria a Hungria, fazendo-a abolir o feriado do 20 de Agosto, que celebra a coroação no ano 1000 de Santo Estêvão, o primeiro Rei dos húngaros. Perguntem à troika se vergaria a Itália a abolir o feriado do 25 de Abril, que comemora a libertação da Alemanha nazi, em 1945. Perguntem à troika se exigiria da Letónia banir os feriados de 18 de Novembro e de 4 de Maio, que lembram a sua independência da Rússia e da União Soviética, em 1918 e em 1990. Perguntem à troika se reclamaria à Lituânia a eliminação dos seus feriados de 16 de Fevereiro e de 11 de Março, que celebram a sua independência da Rússia e Alemanha e da União Soviética, em 1918 e em 1990. Perguntem à troika se forçaria o Luxemburgo a prescindir do feriado do 23 de Junho, que celebra a nova dinastia luxemburguesa e a separação do trono holandês, desde 1890. Perguntem à troika se imporia a Malta desfazer-se do feriado de 21 de Setembro, que comemora a independência dos britânicos em 1964 – ou até um só que fosse dos outros dois feriados nacionais que celebram o valor da independência nacional. Perguntem à troika se sujeitaria a Polónia a abolir o feriado do 11 de Novembro, que comemora a restauração da independência polaca em 1918. Perguntem à troika se forçaria a República Checa a desfazer-se do feriado do 18 de Outubro, que celebra a sua independência, adquirida em 1918 – ou até um só que fosse dos outros três feriados nacionais que festejam também o valor da independência nacional. Perguntem à troika se pediria à Roménia que acabasse com o seu feriado do 1º de Dezembro, que festeja a união, em 1918, da antiga Roménia e da Transilvânia. Perguntem à troika se obrigaria a Suécia a jogar no lixo o feriado do 6 de Junho, que recorda a separação e independência a partir da União de Kalmar, em 1523.
Perguntem também à troika pelo nosso 1º de Dezembro, que comemora a Restauração da Independência de Portugal em 1640. Incomoda? Ou então, como se trata, ali acima, de vinte e dois países da UE-28, perguntem mesmo à vinte-e-doika.
Acabar com o feriado do 1º de Dezembro. Não! Não pode ser a sério.
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