terça-feira, 4 de novembro de 2014

Ai, Timor!


Quando em 1999 fiz parte da Missão de observadores ao referendo sobre a independência de Timor Leste, havia um imenso entusiasmo sobre essa matéria, e tudo parecia possível.

Xanana Gusmão, hoje 1º Ministro, e ex-Presidente da República, estava à época na prisão de Cipinang, na Indonésia, e apelava à calma dos seus seguidores, apesar dos supostos massacres indonésios. 

Em Dili, Baucau ou Viqueque, a nossa missão era vista como libertadora. Parecia que era tudo possível.

Quinze anos depois, tudo mudou. Onde ontem o futuro era, nas belas palavras de Fernando Pessoa, uma
«Linha severa da longínqua costa -
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.»
hoje, há os negócios do petróleo, a corrupção, e a falta de capacidade de se governarem.

Quinze anos depois da independência, Timor Leste nem uma moeda foi capaz de ter. Continua a ter o dólar como moeda oficial…

Choca-me particularmente a incapacidade demonstrada no sector da Justiça, apesar de Portugal ter posto á disposição daquele jovem País a sua capacidade de ajuda, cooperação e formação. Em 2003 inaugurei em Dili um centro de formação judicial pelo qual muito me bati e que foi pago praticamente com verbas do meu Gabinete. Depois, trouxe para Portugal 12 magistrados Timorenses para formação ao longo de um ano, ano e meio no nosso Centro de Formação Judicial. Portugal – o Ministério da Justiça – pagou tudo.

Regressados a Timor, os referidos magistrados, foram sujeitos a um exame só para eles e chumbados. A mensagem estava dada...

Apesar da ajuda da Austrália, do forte empenhamento das Nações Unidas, da forte cooperação Portuguesa, o Governo de Timor continua a comportar-se como uma criança malcriada, com a diferença que lhe aturam as birras porque tem o dinheiro do petróleo, mas um dos PIB’s mais baixos do mundo.

Ainda sonhei, mas de facto, Xanana não é Mandela, não…

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