quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Justiça social e eficiência económica

Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de Henrique Neto, hoje saído no jornal i.
A história repete-se, frequentemente em tragédia. Depois do desastre económico e financeiro provocado pelos governos de José Sócrates, o governo do PSD-CDS recuperou parcialmente a economia e a necessária credibilidade internacional à custa de uma enorme insensibilidade social.


Justiça social e eficiência económica


Reconheço que é vulgar as nossas ideias e convicções, muitas vezes velhas de anos, não terem a difusão que mereciam à míngua de uma síntese transformadora. Foi isso mesmo que reconheci na leitura de um texto recente do senador brasileiro Cristovam Buarque que continha a seguinte frase: “Não há justiça social sem eficiência económica.”

O conceito assim expresso pareceu-me revolucionário porque diz em poucas palavras o essencial do que tenho escrito em milhares de páginas ao longo dos anos, propondo uma nova estratégia e um novo modelo económico para o nosso país, tendo como objetivo principal a maior justiça social. Nomeadamente, depois de muitos anos de governos da esquerda e da direita terem obtido resultados medíocres nos dois planos, quer no plano da eficiência económica quer no plano da justiça social.

Durante o século XX assistimos, na generalidade das democracias ocidentais, à alternância de governos da esquerda e da direita, sendo vulgar a alegação de que os governos de esquerda endividam o Estado, frequentemente a níveis insustentáveis, e os governos de direita pagam as dívidas à custa da redução dos benefícios sociais. Não estou certo do rigor da observação em todos os casos, mas não há dúvida de que a direita sempre procurou a eficiência económica à custa da justiça social e os governos do socialismo democrático sempre procuraram a justiça social à custa da eficiência económica, em parte devido ao aumento dos impostos. Ou seja, muito raramente se procurou o equilíbrio entre os dois objetivos, mas foi certamente na Escandinávia que se esteve mais próximo.

Vem isto a propósito dos últimos 40 anos da democracia portuguesa, não havendo dúvida de que os governos do PS foram mais sensíveis à necessidade de promover a justiça social, mas, certamente não por acaso, isso foi feito à custa da economia, através do endividamento, ao ponto de ter sido necessário pedir, por três vezes, ajuda externa, com consequências sociais graves.

A história repete-se, frequentemente em tragédia. Depois do desastre económico e financeiro provocado pelos governos de José Sócrates, o governo do PSD-CDS recuperou parcialmente a economia e a necessária credibilidade internacional à custa de uma enorme insensibilidade social. Segue-se agora o governo de António Costa, cujo objetivo de reposição do poder de compra das classes sociais mais desfavorecidas é compreensível, mas que está longe de ter ideias claras de como melhorar a economia e o investimento.

Perante esta realidade, obviamente simplificada, a pergunta óbvia é se nós, portugueses, estamos destinados a aceitar esta fatalidade de alternância de políticas, digamos, um pouco desmioladas, em que a única constante é o crescimento da dívida? Pessoalmente, tenho-me dedicado a afirmar que não e tenho-o feito através de propostas concretas para uma definição de estratégia euro-atlântica, reformadora do pensamento dominante, e de um novo modelo económico que compatibilize os dois objetivos, eficiência económica e justiça social.

Nesse sentido, é essencial começar por fazer uma profunda reforma política, na linha do proposto no “Manifesto Para Uma Democracia de Qualidade”, o qual tem sido divulgado e defendido nas páginas deste jornal. Porque não havendo, de facto, grande mérito em descobrir a necessidade de compatibilizar os referidos objetivos de justiça social e de eficiência económica, isso só não está a acontecer porque os partidos políticos portugueses são fracamente democráticos e perderam as competências e as motivações essenciais para o compromisso e para o estudo das coordenadas estratégicas do desenvolvimento.

Henrique NETO
Gestor
Subscritor do Manifesto Por uma Democracia de Qualidade

NOTA:
artigo publicado no jornal i.

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