Poucos dias depois de eleições, voltam a ouvir-se as vozes de crise no Sporting Clube de Portugal. Regressou o clamor que os adeptos desejavam afastado para longe e por muito tempo. Já há quem fale de novas eleições dentro de dois meses. Há denúncias de que se quer "afogar" o novo presidente e de haver um "campo minado", enquanto o próprio presidente admite que quererão tirar-lhe o tapete e terá ameaçado demitir-se.
Por detrás de tudo, estão a muito difícil situação financeira e as negociações com a banca, que se sabe ser em muito duras, tendo como pano de fundo uma auditoria à gestão anterior - sim ou não? - e os recursos totalmente comprometidos como garantias, num quadro de hipoteca geral. O quadro não é novo, antes pelo contrário. O novo está apenas em que... não mudou, não muda.
A crise do Sporting Clube de Portugal deveria ter feito soar, há muito, as campainhas de alarme entre quem manda - ou devia mandar - no futebol nacional e superintender no desporto português. Impressiona que este enredo de doença profundíssima tenha atingido, já e tão profundamente, um dos três "grandes", assim chamados. Eram quatro "grandes" até há pouco, lembram-se?
O rol de clubes destruídos por este tipo de peripécias não tem cessado de engrossar: Salgueiros, Farense, Estrela da Amadora, União de Leiria. Outros mudaram radicalmente de vida como o Campomaiorense, enquanto outros mergulharam no abismo e procuram recuperar, como o Boavista. E os fantasmas da crise atormentaram ou atormentam outras marcas fortes como Belenenses, Vitória de Setúbal e Olhanense. A lista da aflição é mais longa. Chegou ao topo com o Sporting. Não é difícil imaginar que, se surgir algum abalo significativo, possa também escancarar e pôr a nu debilidades do Benfica e do Porto.
Por isso, desde pelo menos 2003, que sustento a necessidade de um Livro Branco do Futebol, expondo as razões por que falharam vários mitos "empresariais" e de "gestão-maravilha" do desporto profissional e servindo de base a uma reforma sustentada e sustentável do sistema desportivo entre nós.
Mas o mais curioso é como a crise sportinguista e, em geral, a do futebol, é uma alegoria da crise mais profunda que afecta todo o país - e a Europa. Também é uma crise de endividamento, com muita imprevidência e irresponsabilidade, e de modelo económico errado e insustentável. Não faltou muito oportunismo e alguma desonestidade à mistura, assim se tendo gerado um quadro geral de ruína financeira e de dependência de terceiros. Até no Sporting já se fala de troikas... E está a ver-se como nem eleições resolvem o problema. Pelo contrário: semeiam ilusões, aumentam a frustração.
Nada disto é novo. E também não é por acaso.
1 comentário:
Subscrevo totalmente. Muitos esperavam uma grande mudança no sporting cp após as eleições, mas as coisas não são assim tão fáceis... Haverá um longo caminho pela frente, por certo.
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