sexta-feira, 15 de maio de 2015

Notas sobre as eleições britânicas (1): a Escócia

Convidado para participar num debate sobre as eleições britânicas do passado dia 7 de Maio, tive que analisar os seus resultados com atenção. Partilho algumas conclusões a que cheguei, contrariando nalguns casos algumas análises superficiais que ouvi na noite eleitoral e no dia seguinte e que não levavam em conta as particularidades do sistema eleitoral britânico.

As primeiras observações são sobre os resultados na Escócia.


Muitos comentadores disseram que os resultados eleitorais na Escócia tinham sido uma desforra face ao referendo de 18 de Setembro do ano passado: os escoceses tinham virado maioritariamente nacionalistas.

Não há dúvida de que Scottish National Party (SNP) teve uma vitória retumbante e esmagadora, elegendo 56 dos 59 deputados em disputa, na "nação" escocesa. Porém, se o referendo fosse no mesmo dia, o mais provável é que o Não à separação do Reino Unido tivesse triunfado de novo. 

Bem vistas as coisas, os resultados escoceses surpreendem muito pouco; e estão perfeitamente em linha com o referendo de fresca data.

O que se passou é que o SNP limitou-se a concentrar, como era natural e expectável, a totalidade dos votos pela independência da Escócia, tendo atraído os votantes tradicionais de outros partidos nacionais, agora ressentidos como "estrangeiros". Vistos os números, o SNP obteve até menos 160.000 votos do que os que votaram pela independência em Setembro - dizendo de outro modo, 10% dos que votaram pela independência não foram votar no SNP. Em boa parte, isto deveu-se à abstenção que, como é natural, foi menor no referendo, dramático (apenas 15,4% se abstiveram), do que nestas eleições de Maio (abstenção de 28,9% na Escócia).

Quem levou para contar na Escócia foram sobretudo os trabalhistas (perderam 40 de 41 deputados) e também os LibDem (perderam 10 de 11 deputados), que foram, assim, quase completamente varridos da representação parlamentar escocesa em Westminter. O famoso discurso - e corajoso - de Gordon Brown pela unidade do Reino Unido na campanha do referendo, pagou, agora, este preço amargo. E o mesmo, na sua escala, aconteceu com os seguidores de Nick Clegg. Os conservadores já só tinham, há muito, 1 deputado pela Escócia - desde 1997 que tinham sido, aí, "apagados". Agora, Labour e liberais-democratas ficaram reduzidos a isso também - veja-se o interessante quadro abaixo.


Todavia, não esqueçamos as peculiaridades do sistema eleitoral britânico. Num sistema proporcional à europeia, o SNP teria obtido, mesmo nestas circunstâncias excepcionais, apenas pouco mais de metade dos lugares.

Na verdade, o SNP ficou-se pelos 50,0% exactos dos votos. E, embora derrotados, Labour (24,3 %), Tories (14,9%) e LibDem (7,5%) mantêm votações relevantes na Escócia.

Por curiosidade, fui fazer as contas a uma hipótese de a Escócia corresponder a um círculo eleitoral único, em que se aplicasse o método d'Hondt, como em Portugal e em muitos países. Com estes resultados eleitorais, o SNP teria eleito 30 deputados, os trabalhistas 15, os conservadores 9, os liberais-democratas 4 e o UKIP 1.


Sem comentários: