terça-feira, 22 de março de 2016

Fernando, o meu irmão

Nós os dois, numa evocação do nosso pai, em 18 de Maio de 2013.
A doença, que vitimou o meu irmão, tinha-lhe sido detectada três meses antes.
Faleceu em 20 de Março de 2014.

No domingo passado, passaram dois anos sobre a morte do meu irmão. O Fernando morreu novo. Tinha 61 anos. Cá em casa, temos o hábito de contribuir para o equilíbrio da Segurança Social. O meu irmão nunca chegou a reformar-se – creio que não gostaria de o fazer. O nosso pai também: morreu igualmente aos 61 anos. A nossa mãe também não foi encargo público: morreu com 49 anos. Para já, sou o único que vou destoando: fiz 62 no último Natal.

Nestes dois anos, tenho-o lembrado muitas vezes. Custa-me obviamente que a doença o tenha levado de forma traiçoeira e algo acelerada. Eu não estava a contar - nem ele. Mas lembro-me dele sem dor. Lembro-o como uma memória viva que me acompanha. Às vezes parece uma segunda pele, interior. Lembrá-lo é tê-lo comigo.

Em causas cívicas que prossigo, de que algumas também eram dele, essa é uma forma de continuarmos lado a lado, com uma grande cumplicidade. Fazíamos 1 ano e meio de diferença, ele mais velho. Aqueles que sejam dois irmãos com esta diferença de idades, entendem certamente bem o que quero dizer quando falo de "cumplicidade". Crescemos assim. Há dias, vi um vídeo de brincadeiras dos meus dois netos mais novos, ainda bebés, um com 2 anos e meio, o outro com 1 ano e 3 meses – dei comigo a sorrir muito, ao ver como a relação entre eles é a mesma que o Fernando e eu tínhamos.

Essa cumplicidade não acabou. Ficou coxa, desasada, mas não acabou.

Faz-me falta a gargalhada do Fernando. Essa, sim, faz-me falta, porque não a consigo ouvir, nem articular-me com ela. Imaginar não é a mesma coisa.

Faz-me falta esse vulcão de optimismo e de confiança que ele era. Os aborrecimentos, que os teve, não duravam muito no seu espírito, nem conseguiam poluir a sua maneira de ser. Era quase sempre alavanca de ânimo, espírito positivo. Às vezes, irritava de tão positivo que era.

Brincávamos muito um com outro, quando estávamos juntos. Nos dias bons, o non sense, a ironia e o disparate pelo prazer do disparate eram grandes desopiladores, preciosos instrumentos de reconstrução interior. Era frequente contagiarmo-nos um ao outro – a gargalhada era o abre-latas do mau humor. Sumia.

Foi um excelente aluno, grande oficial de Marinha, sólido engenheiro, dedicado professor. Entregou-se de alma e coração, nos últimos anos da sua vida, a uma paixão: a economia do Mar. Uma paixão, que é uma necessidade de Portugal. Oxalá não desfaleça. Para navegar, os barcos e os navios precisam sempre de remos, ou de vento, ou de motor com combustível. Ele era essa energia. E conhecia o rumo.


3 comentários:

Pedro disse...

Apesar de não ter o prazer de o ter conhecido, lembro-me do seu irmão, por vê-lo em várias entrevistas, talvez à RTP ou SIC, na qualidade de presidente da Associação de Famílias Numerosas.
Nessas entrevistas, onde também apareciam os seus filhos, transmitia com imensa paixão e dedicação, os desafios de educar 12 filhos (se não estou em erro), e relatava com bastante humor, as dificuldades de toda a logística envolvida no dia a dia.
Ficaram-me na memória, os sorrisos contagiantes e a alegria dessa imensa família

Augusto Küttner de Magalhães disse...

É a Vida, que como único destino certo, traz-nos a todos e a cada um, a Morte.

Claro que foi muito cedo, claro que ficou muito por fazer.

Mas como Memória continuar o que estava a fazer, é muito positivo.


Força!

Um abraço

Augusto

Luís Gagliardini Graça disse...

Para mim o seu irmao foi e é um exemplo. Um abraço