Na série de divulgação do Manifesto POR UMA DEMOCRACIA DE QUALIDADE, republicamos este artigo de João Luís Mota Campos, hoje saído no jornal i.
Cheira-me que, depois do dia 4, vamos ouvir muitas vezes que «para dançar o tango, são precisos dois».
A lenta marcha dos pinguins amestrados em direcção ao nada…
Ao longo dos meses fui-me pronunciando regularmente sobre o tema das eleições de Outubro. Em 13 de Fevereiro de 2015 antevia que “quando chegarmos a Outubro a maioria vai dizer que cumpriu o programa de governo que apresentou em Junho de 2011, que levou a carta a Garcia, que executou com rigor e mérito o programa da troika, e dirão que «digam o que disserem, salvamos Portugal da bancarrota».
E terão razão.
Dirão mais: que agora entramos noutra era, a era de consolidar os ganhos e de tratar do crescimento económico, reabsorver o desemprego no tecido produtivo e fazer as tais reformas de fundo para que não houve tempo na lufa-lufa do combate extremado contra a bancarrota.
E dirão bem.
E o que propõe a oposição? Nada. Nada de nada. Posso andar desatento, mas a única atitude que lhe detecto, é a dos «refuzeniks», a de esperar com ar indignado que a maioria seja corrida do poder por um povo syrizista que está farto da «austeridade», da troika, dos impostos, dos abusos fiscais, das «privações» e do «risco de pobreza».
Pode ser que sim pode ser que não, mas a verdade é que me começa a parecer que não chega. O tal povo pode estar farto, mas reconhece que o governo cumpriu. Tem isso no activo.”
Em 10 de Junho de 2015, opinei neste Jornal I (“da gratidão e da esperança em politica”) que veríamos em Outubro “um combate duro e bipolarizado que dificilmente deixará espaço para vozes alternativas”, e isto porque “Em Portugal temos neste momento um primeiro-ministro que deverá estar a pensar que o que fez nos últimos quatro anos o recomendam à gratidão popular. Parece-me que Passos Coelho tem algum crédito nessa matéria: com uma vontade inquebrantável, que resistiu a tudo, até aos arrufos irresponsáveis do parceiro de coligação, com uma visão singular no seu objecto – tirar o país da bancarrota –, fez tudo o que era necessário para dobrar este cabo das tormentas.
Outros oferecem um catálogo eloquente de esperanças variadas. Apostam na esperança que uma mudança operará, decorridos estes anos de chumbo do resgate; apontam as falhas no combate à bancarrota (e têm muita razão em muita coisa).
Tanto quanto me posso aperceber, não me enganei muito: à medida que os dias passam, torna-se mais evidente que a campanha gira em volta dos dois temas e que rodopia à volta da «coligação» e do «PS». O resto é folclore político.
Infelizmente para quem ache que podendo ter ambos razão (ou desrazão) lhes falta muito para merecer governar o país, estas constatações têm pouca valia.
Acresce que a campanha em «subcapa» tem outros dois temas: o medo do desconhecido, que é tantas vezes a pior forma de prisão da alma, medo propalado pela coligação, sem qualquer espécie de pudor; e o factor «Sócrates», esse estranhíssimo caso de prisão sem acusação, que indiscutivelmente marcou o mau desempenho do partido socialista.
Cruzaram-se aqui linhas que não podiam nem nunca deveriam ser cruzadas, ao serviço de agendas estranhas mas perceptíveis (no me creo em las brujas, pero que las hay, las hay…).
Não sou candidato a nada, nem cabe aqui fazer campanha a favor ou contra, mas tenho de confessar que, por mim, perdiam ambos: Passos, pelas reformas que não fez e que teve uma ocasião única de fazer, e pelo que fez nas privatizações e na venda consentida de activos nacionais insubstituíveis; Costa, porque se tem revelado incapaz de protagonizar uma esperança e uma vontade nacional credíveis.
Quanto ao resto das gentes que compõem cada um dos campos em disputa, nem vale a pena ir por aí: haverá sempre excepções mas, por grosso, não é gente a quem eu confie o meu futuro nem o dos meus filhos e ao votar num ou noutro, estarei a votar em mais umas centenas que na melhor das hipóteses desconheço, e na pior, conheço bem demais.
Se me perguntarem se quero votar, por exemplo, no segundo da lista da coligação em Lisboa, digo já que não; o terceiro, nem sei quem é.
Ah, como tudo seria diferente se esses cavalheiros e damas tivessem a coragem de se apresentar num círculo uninominal…
Em suma, domingo cada um fará a sua opção e votará em quem lhe parecer melhor, mas uma coisa é segura: depois do dia 4 tudo continuará na mesma, mas sem orçamento do Estado para 2016. Foram quatro anos e meio para chegar a isto!
Cheira-me também, que depois do dia 4 vamos ouvir muitas vezes que «para dançar o tango, são precisos dois». Preciso é ter presente que com a «europa» é mais um «ménage à trois»…
João Luís MOTA CAMPOSAdvogado
ex-secretário de Estado da Justiça
NOTA: artigo publicado no jornal i.
2 comentários:
Chegamos ao fim desta campanha que vem desde Dezembro.....e nada de novo.....Ponto!
Tanto tempoo perdidooo
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