sexta-feira, 19 de julho de 2013

O blá-blá da mentira


Pode parecer surpreendente tanta dificuldade em estabelecer o compromisso de salvação nacional requerido - e bem - pelo Presidente da República.  

Um país que se precipitou na bancarrota, de que foi salvo mesmo em cima do gong pela troika; um país que tem tido uma evolução muito crítica e difícil, mas sempre na direcção certa, a fim de poder recuperar alguma margem de liberdade financeira; um país que carece ainda de medidas duras e exigentes para reequilibrar o Estado, consolidar as finanças e permitir à economia voltar a crescer; um país que já fez 2/3 do caminho - surpreende que seja tão difícil que os mesmos três partidos que estiveram no estabelecimento do memorando da troika em Maio de 2011 não se entendam em Julho de 2013, para permitir a Portugal concluir com sucesso o restante 1/3 do caminho. Em vez disso, fazem-nos, a todos, correr o risco de ver desabar tudo outra vez, perdendo o que ganhámos com os muitos sacrifícios feitos. O pesadelo de um 2º resgate está aí ao virar da esquina.

O que explica este absurdo é a narrativa de mentira que alguns actores mantêm. O próprio caminho já percorrido tem sido, aliás, mais difícil por isso mesmo: há quem viva ainda em estado de negação ou quem prefira fingir que a realidade não exige medidas tão drásticas quanto é necessário. Há quem tenha medo de reconhecer a realidade. Há quem faça de conta de que dificuldades e desequilíbrios acunulados não têm consequências e não exigem remédios severos.

A dificuldade no acordo de salvação nacional resulta apenas disto: da resiliência do blá-blá da mentira. Se fizessem o acordo de salvação nacional, todos teriam que reconhecer os factos reais e pôr de parte o mero palavreado. Assim, salve-se o palavreado, ainda que se afunde o país. Quem disse que as palavras não matam?

É a necessidade de marketing político de manter e alimentar uma narrativa fantasiosa que leva alguns actores políticos a não reconhecerem a dura realidade do país.

Sem comentários: