É um tipo de personagem bem conhecido do cinema. Diz-se,
aliás, que, ele próprio, na vida real, gosta muito de bons filmes.
Muitos realizadores o representaram nas docas de Nova
Iorque ou de Londres, outros nos labirintos da Xangai antiga, no emaranhado de
Montmartre ou na escuridão de Istambul. Por cá, ganhou o sugestivo nome de Virgolino e é habitual vê-lo no cenário da
Ribeira do Porto ou da Alfama lisboeta.
Esgueira-se para as avenidas, seja a da Boavista ou a da
Liberdade, e exibe-se como um verdadeiro artista a escapar entre os carros. Por
mais intenso que seja o tráfego, Virgolino "curva e contracurva"
nunca se atrapalha: prodigiosas gincanas as que consegue realizar e concluir.
Trata o ziguezague por tu, ciência em que tirou mestrado e doutoramento e
assentou cátedra. Sedutor, é ginasticado no verbo e no corpo, flexível e ágil
nos flic-flacs, perito em mortais à frente e à rectaguarda. Chegou a astro de
TV.
Nas vielas, que são o seu meio natural, é então rei e
senhor. Endeusado pelos seus, ninguém lhe faz frente. E, quando faz, ele
escapa-se sempre: curva aqui, contracurva acolá, Virgolino segue sempre.
Nos anais das crises prolongadas, está bem descrita pelos
autores mais consagrados a chamada "tentação de Virgolino". É um tipo característico e problema célebre.
Problemas: são dois.
O primeiro problema é o de que, quanto mais ganha e mais
se confirma como o campeão da gincana, mais a confiança que Virgolino perde. O
público admira e segue, por vezes extasiado, mas não confia. Fica ansioso. E
espera ou receia que acabe atropelado na curva ou contracurva seguinte.
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