Fala-se dele há algum tempo. Para a nossa índole, podia chamar-se o Ciclo Sebastião.
Esse outro ciclo já tinha sido anunciado por Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira, os dois ministros que entretanto saíram: Gaspar no início da crise política, Álvaro agora no fim. Em 23 de Maio, Gaspar, com Álvaro ao lado, anunciara: «Chegou o momento do investimento.» E não fosse não ser entendido, sublinhou: «Repito, depois do ajustamento chegou o momento do investimento.» Também os indicadores mais positivos e animadores da evolução da economia que o primeiro-ministro (como outros) referiu no último debate do estado da Nação dever-se-ão já a essa mudança, abrindo nova conjuntura de oportunidade.
Há muito igualmente que comentadores e analistas requeriam esse sinal, mais virado para a economia. Algumas declarações europeias acenavam com a abertura de janelas para essa alameda. E quer o CDS, quer dentro do PSD, a viragem para um novo ciclo era reclamada crescentemente, de forma mais ou menos aberta.
Agora, aí está. Chegou.
No seu discurso de 21 de Julho, o Presidente da República apontou claramente para aí:
«Afigura-se igualmente fundamental que todo o Governo assuma como prioridade o reforço da aplicação de medidas de relançamento da economia e de combate ao desemprego. Num quadro de exigência e rigor, o Governo deverá aprofundar as medidas de estímulo ao investimento e de captação do investimento externo, onde se incluem a estabilidade e a previsibilidade do sistema fiscal.»
Como orquestra afinada, as imediatas reacções do PSD (Pedro Pinto) e CDS (Nuno Melo) responderam em perfeita sintonia ao discurso presidencial, com a mesma palavra-passe: "novo ciclo". O anúncio PSD/CDS é de «diálogo» e «novo ciclo, mais virado para a economia, sustentabilidade e criação de emprego».
Esse novo ciclo começa hoje, simbolizando-se na posse da remodelação governamental que o assinala. E o começo será sem dúvida acentuado e glosado, dentro de dias, com a moção de confiança parlamentar, que, de modo inédito, aliás, foi o próprio Presidente da República a anunciar: «o Governo irá solicitar à Assembleia da Republica a aprovação de uma moção de confiança e aí explicitará as principais linhas de política económica e social até ao final da legislatura.»
Curiosamente, coincidência ou não, são todos os ministros do CDS que tomam posse: o líder do partido, Paulo Portas, que passa a vice-primeiro-ministro; António Pires de Lima, que entra para a Economia; Assunção Cristas, que se recentra na Agricultura e no Mar; e Pedro Mota Soares, que junta o Emprego à Segurança Social. Os comentadores assinalam que a economia fica por conta do CDS. E, vistas as coisas, também a concertação social. Do PSD, apenas as entradas de Rui Machete e Jorge Moreira da Silva para o lugar deixado por Paulo Portas e a vaga aberta pelo desdobramento dos anteriores ministérios de Álvaro Santos Pereira (energia) e Assunção Cristas (ambiente).
Ou seja, o novo ciclo parece CDS. Só pode desejar-se boa sorte.
A chave, porém, além do bom desempenho dos ministros, estará nos 5 mandamentos deste segundo fôlego que Cavaco Silva decidiu dar, como já especifiquei noutro post. E estará sobretudo no essencial de que se fazem as coligações e que, no primeiro ciclo, foi faltando cada vez mais: «garantias reforçadas de coesão e solidez da coligação partidária até ao final da legislatura.»
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