segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Duas ou três coisas que é preciso dizer


Está na altura de tirar o velho Vladimir Ilitch do armário!
A primeira é que «eles» que adoram agora chamar fanáticos e radicais aos "austeritaristas", detestam que lhes chamem radicais a eles.
Vamos lá a decompor isto: desde 2010 que na esteira de alguns Autores americanos, a esquerda europeia começou a chamar austeritaristas aos que defendem a austeridade orçamental na Europa como forma de correcção dos anteriores desmandos orçamentais e do crescimento exponencial das dívidas públicas.
Ser austeritarista passou a ser visto como uma opção maldosa, ideológica, cujo objectivo é beneficiar os de «cima» em relação aos de «baixo», uma nova versão da teoria do «1% contra os 99%»...
A austeridade orçamental, a que a esquerda moderada chama rigor, não foi evidentemente uma opção de ninguém mal intencionado, foi uma necessidade, um expediente, dentro e fora da zona euro, destinado a permitir aos estados funcionar, apesar de tudo.
Para a esquerda, trata-se de uma opção, uma opção ideologicamente motivada. Atribuem essa opção à direita, e portanto é uma opção maldosa, de ricos contra pobres.
Neste ponto, a pergunta a fazer é a de saber qual seria a outra opção, a de pobres contra ricos...
Dito isto, num ponto - e um ponto muito importante - os ideólogos do «libertarianismo» orçamental, têm razão: a austeridade era um expediente correctivo, nunca podia ser encarada como um fim em si mesmo. Ao colocar, por imposição dos alemães, o combate a uma inflação, aliás inexistente, acima dos interesses do crescimento econômico, a ortodoxia financeira acima dos interesses das pessoas, a Europa condenou-se a anos de recessão, anomia econômica, desemprego elevado, falta de horizontes.
Só podia dar mau resultado e deu.
A segunda coisa, é que da parte de quem passou a melhor parte do século vinte a defender teorias de totalitarismo e o esmagamento da pessoa humana, acusar os outros de fanatismo ou radicalismo, é até anedótico.
Não escapa a ninguém a semelhança deliberada entre austeritarismo e autoritarismo. Para a esquerda, uma coisa é a outra.
Mas essa assimilação forçada, implica que haja de facto uma opção libertária ao austeritarismo. Há? Se há gostaria de saber qual é.
Olhando para o programa do novo menino bonito da esquerda, o Syrisa, fica-me a impressão que a opção há-de situar-se algures entre a perseguição à classe média alta (os ricos, com uma fortuna superior a um milhão de euros, essa bolada...) e a nacionalização das empresas ditas estratégicas.
Pensei que na minha vida, depois do 25 de Abril, não voltaria a passar por isto, mas vejo que me enganei: essa esquerda velha e relha, que sonha desde 1917 com uma noite revolucionária, que liquide de vez a burguesia, está aí de novo, cabeça erguida e novos protagonistas, pronta a voltar a liquidar a burguesia.
Em terceiro lugar, começo a descortinar laivos muito claros de um regresso a 75, a esses momentos revolucionários, entre a revolução etíope e a portuguesa e a tomada de Saigão pelos comunistas. Mais os kmers bem vermelhos.

First we take Manhatan then we take Berlin. Pois. 

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