segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Estado de direito ou Estado de escutas?


Há dias, a Ministra da Justiça declarava que «quando fala ao telemóvel era como se falasse para um gravador». Tal e qual…

Vieram a lume escutas a Paulo Portas feitas quando era Ministro da Defesa, que começaram por dar origem a uma transcrição que distorce totalmente o que as escutas dizem (o que aliás revela uma ignorância patética da parte de quem transcreveu) e que são completamente irrelevantes para o apuramento de qualquer crime, que aliás o Ministério Público já declarou não existir.

A mim, fica-me uma questão excruciante: é assim, um ministro sobre o qual não impende qualquer inquérito criminal é posto sob escuta, porque sim?

Quem manda? Quem determina que essas escutas sejam feitas? A que título?

Mas, afinal, que Estado de Direito é este em que uma Ministra considera normal falar ao telemóvel como quem fala para um gravador – e se calhar é mesmo… - e um Ministro é escutado e as escutas, sem qualquer relevância para qualquer inquérito criminal são tornadas públicas e vêm comentadas – aliás, de forma ridícula – em vários jornais?

A cobardia dos políticos – de que José Sócrates falava – chegou a um tal ponto que assistem impávidos e serenos a este despautério, a esta forma sinistra de sequestrar a democracia e o direito de comunicação livre, feita por personagens menores às ordens sabe Deus de que sombria maçonaria, sem reacção, sem fazer nada?

Quem acumula gravações, que só podem ser ilegais? Quem guarda os caixotes onde elas são arrumadas? Quem as autoriza? 

Já se viu que a Ministra da Justiça assiste a este estendal de ilegalidades sem fazer nada, porque, segundo ela, acabou a impunidade menos a de determinadas magistraturas em que não se pode tocar.

O resto do governo e a oposição a que temos direito, chiu, nem um som, não vá tocar-nos a nós…

Ora digam-me lá: não chegou a altura de investigar isto, saber quem fez e meter na cadeia uns tantos procuradores e juízes de instrução completamente desgovernados? Eu acho que chegou!


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