domingo, 12 de fevereiro de 2012

Comemorações do 1º de Dezembro

Outra ideia posta a correr é a de que "não se celebra o 1º de Dezembro" e, por isso, já seria muito bom que se passasse a celebrá-lo. Sem dúvida que as celebrações são importantes,. É fundamental dar mais dignidade  e projecção ao verdadeiro Dia de Portugal que é a Festa da Independência Nacional. Mas não certamente à custa do feriado e do seu completo apagamento do calendário oficial.

Além disso, é uma ideia feita, errada, a de que há longuíssimos anos que não se festeja o 1º de Dezembro. Já aqui pus umas fotos que mostram Manuel de Arriaga e Afonso Costa em solenes celebrações do 1º de Dezembro, nos tempos da 1ª República. Na época do Estado Novo, pelos menos nos anos '60 e '70, o 1º de Dezembro também foi sempre celebrado com desfiles pela Avenida da Liberdade. E, a seguir ao 25 de Abril, o 1º de Dezembro foi agarrado pela sociedade civil, que, respondendo a chamamentos da jornalista Vera Lagoa, fê-lo pólo de grandiosas manifestações populares em desfiles de rua pela Avenida da Liberdade, nos primeiros anos de implantação da democracia. Tempos exigentes, de luta e afirmação pela liberdade.

As celebrações oficiais do 1º de Dezembro, com presença de altas autoridades, prosseguiram, aliás, no regime democrático, até anos bem recentes, como as fotografias abaixo documentam. Seria apenas, salvo erro, no segundo mandato presidencial de Jorge Sampaio que seriam interrompidas, por razões ou pretextos nunca completamente esclarecidos. Há quem diga que terá sido por causa de uma embirração qualquer, depois de umas manifestações de uns adeptos da causa de Olivença, que teriam deixado Sua Excelência agastado.

Está na hora de reparar esse agravo contra o espírito e a festa da Independência Nacional. E não de o agravar ainda mais, com o fim do próprio feriado nacional.

O 1º de Dezembro, celebrado há poucos anos, na Praça dos Restauradores

O 1º de Dezembro, celebrado há poucos anos, na Praça dos Restauradores


6 comentários:

Kruzes Kanhoto disse...

O cancro da produtividade não são os feriados nem as pontes. O nosso problema é não haver empresários. Por cá apenas temos patrões o que é algo completamente diferente.

victor leitão disse...

Dr, Ribeiro e Castro

Ouvi-o agora na SIC Notícias e tenho que o corrigir o que infelizmente a jornalista não fez.
O dia mais importante de Portugal é o 5 de Outubro uma vez que foi em 1143 pelo tratado de Zamora que Portugal foi declarado independente do reino de Castela e Aragão, embora o Papa só mais tarde o tivesse ratificado.

Melhores cumprimentos.

Victor Leitão

SEXTANTE disse...

Não comemorar uma data como o 1º de Dezembro é como não comemorar o dia do nosso nascimento.
Não comemorar o dia do nosso nascimento seria como esquecer os nossos pais que nos deram um dia, lá atrás....a possibilidade de vivermos a felicidade de agora vivermos e sermos livres de qualquer tutela.
Devemos preservar a MEMÓRIA dos dias em que alguns de NÓS deram a Portugal de ser o que somos agora.
VIVA o 1º de DEZEMBRO!

Anónimo disse...

Estou completamente de acordo. A feriados que não deviam acabar e este é um deles, assim como o feriado religioso do Corpo de Deus.

rfelix disse...

Fui aluno do CM e lá se houve algum feriado que nos ensinaram a valorizar foi exactamente o 1º de Dezembro, pois é o dia da Restauração da Independência ou seja o dia em que Portugal acabou com 60 anos de dominio Filipino.
Para relembrar os esquecidos e muito resumidamente, quando D. Sebastião desapareceu em Alcacer Kibir Portugal entra em crise de sucessão, os Espanhois aproveitam e a partir dessa data inicou-se através da Dinastia Filipina 6 décadas em que Portugal não seria mais que uma provincia Espanhola.
Finalmente no dia 1º de Dezembro de 1640 os Portugueses revoltam-se matam e mandam Miguel de Vasconcelos (o traidor) pelos claustros do Terreiro do Paço e D. João iV passa a reinar em Portugal.
É exactamente isso que se comemora no Colégio Militar a Restauração da Independência de Portugal, talvez o dia mais importante no nosso País não entendo porque desvalorizar uma data tão importante anulando esse dia como feriado representativo da nossa LIBERDADE e EXISTÊNCIA DE PORTUGAL, esta data para mim é até mais importante que o 25 de Abril e ninguém fala em acabar com o 25 de Abril como feriado - MEMÓRIA CURTA, DESVALORIZAÇÃO OU IGNORÂNCIA ?...

José Ribeiro e Castro disse...

Conheço bem a posição expressa acima por Victor Leitão, que agradeço. Mas não estou de acordo.

Como procuro explicar no post "O feriado fundador", mesmo se quiséssemos celebrar a Fundação, em vez da Restauração (o que estaria certo), poderia haver várias datas para escolher: 1128, 1139/1140, 1143 ou 1179. Isto é, não seria só a data do Tratado de Zamora que se imporia.

Mas isso também é passar ao lado do problema com que estamos confrontados.

O que escrevi é isto:

Portugal poderia, em abstracto, celebrar colectivamente o valor da nossa independência com referência a um de três momentos históricos principais:
1 - A Fundação da nacionalidade, no século XII: e, aqui, poderíamos referir-nos à Batalha de S. Mamede, em 24 de Junho de 1128; ou à altura em que D. Afonso Henriques passou a usar o título de Rei, em data incerta de 1140 (havendo também quem refira que o facto ocorreu a seguir à Batalha de Ourique e que esta aconteceu em 25 de Julho de 1139); ou ao Tratado de Zamora, em 5 de Outubro de 1143; ou, ainda, à bula Manifestis Probatum do papa Alexandre III, em 23 de Maio de 1179.
2 - A crise do Interregno, no século XIV (1383-1385): e poderíamos referir-nos, aqui, às Cortes de Coimbra, que, em 6 de Abril de 1385, designaram o Mestre de Aviz como nosso rei D. João I, rompendo com a sucessão para D. João I de Castela; ou à mais célebre e importante das batalhas contra os castelhanos, a Batalha de Aljubarrota, em 14 de Agosto de 1385.
3- A Restauração no século XVII: o 1º de Dezembro de 1640.
Destes três momentos históricos, teoricamente possíveis, a data que Portugal há muito escolheu para celebrar o valor colectivo da Independência Nacional foi precisamente a data de 1 de Dezembro, certamente por se referir ao último tempo em que perdemos a independência e a reconquistámos. Devemos essa celebração e esse feriado a um punhado de patriotas, encabeçados por Alexandre Herculano, em 1861. Por isso, o feriado do 1º de Dezembro é o primeiro dos nossos feriados nacionais e o mais antigo dos nossos feriados civis. O facto atravessou todos os regimes políticos. Até hoje.