domingo, 12 de fevereiro de 2012

O "euroclismo"


A crendice com que se caminha para o novo Tratado carece de comprovação objectiva. Independentemente dos problemas próprios desse "tratado intergovernamental" - o último truque dos juri-engenheiros de Bruxelas -, tenho as mais sérias dúvidas sobre que resolva o que quer que seja de fundamental e que venha a aplacar os "mercados". Se isso acontecer, serei o primeiro a reconhecê-lo. Mas nada indica que assim seja. É mais um passo vigoroso... no mesmo sítio. Ou seja, corremos o risco de perder mais um bocado de soberania... para coisa nenhuma.

Há dias, num interessante artigo no "Público" - Reinventar a Europa? -, Carlos Gaspar escrevia estas linhas:
«A crise revelou clivagens profundas que dividem uma "Europa do Norte" puritana, protestante e rica e uma "Europa do Sul" generosa, católica e pobre, ou que separam um "bloco germânico" partidário da austeridade de um "bloco latino" defensor do crescimento, ou ainda que opõem a paixão francesa pelo Estado à obsessão alemã com a estabilidade monetária. As linhas de fractura paralisam o processo de integração, ao mesmo tempo que se revela uma convergência entre os populismos e a tecnocracia, que ameça a democracia europeia. A crise já levou à "suspensão da democracia" na Grécia e na Itália, enquanto os partidos populistas eurocépticos ganham terreno em França, na Hungria e na Finlândia (mas não na Alemanha). Por último, as tendências de "renacionalização", que mostraram a sua força logo nos referenda que rejeitaram o tratado constitucional há seis anos, não só marcam o fim das ilusões acerca do "Estado postnacional", como representam um risco sério de inversão da dinâmica de integração.»
Este é o problema: está em crise o espírito europeu. Em bom rigor, está desfeito.

A Europa dá, por todo o lado, sinais de desagregação. É isso que os "mercados" também vêem. E a coisa não vai lá com truques, nem com remendos. Ou abordamos o problema de frente, fundando e consolidando o espírito europeu e liderança comum europeia, ou aguardar-nos-á um terrível cataclismo: o "euroclismo". A casa, um dia, pode mesmo vir abaixo.

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