O discurso dos indiferentes procura, entre outras aguadilhas, alimentar a ideia de que «não, senhor, o feriado do 1º de Dezembro não é nada o feriado da Independência, é o da Restauração». E há quem insista que "a Restauração é uma coisa diferente" e, portanto, não teria a menor importância acabar com o feriado.
Desde logo, esta Restauração não é um negócio de restauração, de turismo e mesa posta. Também não se trata de restauração de móveis ou obras de arte. E tão-pouco é a restauração do Restaurador Olex. É a Restauração da Independência Nacional.
Essa é, aliás, a designação oficial do feriado: 1 de Dezembro - Dia da Restauração da Independência. E o próprio palácio, em Lisboa, ali ao Rossio, que era de D. Antão de Almada e onde conspiraram os 40 conjurados, não tem, hoje, outro nome consagrado senão o de Palácio da Independência.
Como aqui já recordei, Portugal poderia, em abstracto, celebrar colectivamente o valor da nossa independência com referência a um de três momentos históricos principais:
- A Fundação da nacionalidade, no século XII: e, aqui, poderíamos referir-nos à Batalha de S. Mamede, em 24 de Junho de 1128; ou à altura em que D. Afonso Henriques passou a usar o título de Rei, em data incerta de 1140 (havendo também quem refira que o facto ocorreu a seguir à Batalha de Ourique e que esta aconteceu em 25 de Julho de 1139); ou ao Tratado de Zamora, em 5 de Outubro de 1143; ou, ainda, à bula Manifestis Probatum do papa Alexandre III, em 23 de Maio de 1179.
- A crise do Interregno, no século XIV (1383-1385): e poderíamos referir-nos, aqui, às Cortes de Coimbra, que, em 6 de Abril de 1385, designaram o Mestre de Aviz como nosso rei D. João I, rompendo com a sucessão para D. João I de Castela; ou à mais célebre e importante das batalhas contra os castelhanos, a Batalha de Aljubarrota, em 14 de Agosto de 1385.
- A Restauração no século XVII: o 1º de Dezembro de 1640.
Destes três momentos históricos, teoricamente possíveis, a data que Portugal há muito escolheu para celebrar o valor colectivo da Independência Nacional foi precisamente a data de 1 de Dezembro, certamente por se referir ao último tempo em que perdemos a independência e a reconquistámos. Devemos essa celebração e esse feriado a um punhado de patriotas, encabeçados por Alexandre Herculano, em 1861. Por isso, o feriado do 1º de Dezembro é o primeiro dos nossos feriados nacionais e o mais antigo dos nossos feriados civis. O facto atravessou todos os regimes políticos. Até hoje.
Acabar com ele? Não, obrigado!
1 comentário:
A restauração dos Restauradores: para baixo caímos ao Tejo. Para cima subimos pela Liberdade, atravessamos a Fontes Pereira de Melo - o das obras públicas com sentido - para logo descermos pela República abaixo. Lá ao fundo desta, só três alternativas: ou virar à direita para a dos EUA; ou cortar à esquerda para as Forças Armadas... ou seguir em frente para dentro de um buraco - perdão -túnel, tendo por cima de nós a memória da guerra peninsular... para o ano temos mesmo que comemorar o 1º de Dezembro, nem que seja depois de uma jantarada...
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