Na segunda-feira, fez-se justiça a Maquiavel. A apresentação de Carlos Magno foi brilhante: fácil de seguir e profunda, muito bem contextualizada quer no seu tempo, quer na transposição para os nossos dias. E, grande conversador que é, ilustrando vários momentos com conversas cruzadas com Jorge de Sena e Francisco Lucas Pires.
Brilhou aquele que, para muitos, é um dos fundadores da Ciência Política contemporânea: Nicolau Maquiavel.
Por mim, aproveitei para desmontar o que chamei de "a armadilha das citações" e que procurei provocar no post de ontem. Como comentei, "a má fama de Maquiavel deve-se mais às citações que dele se fazem mais do que àquilo que realmente escreveu." E também contei a minha experiência de quando li "O Príncipe" pela primeira vez, nos meus tempos de estudante: "Foi assim como, hoje, comprar um jornal que também tenha aderido à moda dos títulos sensacionalistas na primeira página e, depois, verificar que, lá dentro, o jornal tem muito mais conteúdo do que imaginaria. É um misto de desapontamento e encantamento: desapontamento para os que o imaginariam superficial e caceteiro; encantamento por verificar que tinha muito mais alimento do que a montra deixava adivinhar."
Maquiavel merece ser lido. E os seus escritos são mais narrativas, absolutamente frias, de alguns modos da política do que propriamente recomendações. É um erro - um erro de palmatória - ajuizá-lo pelas tábuas da moral, que foi justamente o patamar que ele procurou evitar.
As citações não lhe fazem justiça. E menos ainda os que apenas o citam, sem nunca o terem lido. Esses são os verdadeiros maquiavélicos: só retêm os truques, não o saber.
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