segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Um príncipe, dois príncipes, três príncipes


Nicolau MAQUIAVEL (1469-1527)
«Uma guerra é justa quando é necessária.» 
«Tornamo-nos odiados tanto fazendo o bem como fazendo o mal.» 
Estas são duas das mais conhecidas citações de Maquiavel. Podia citar outras, tiradas já de “O Príncipe”, a sua obra de referência:
«Os homens hesitam menos em ofender quem se faz amar do que em ofender quem se faz temer; porque o amor é mantido por um vínculo de obrigação que, por serem os homens pérfidos, é rompido por qualquer ocasião em benefício próprio; mas o temor é mantido por um medo de punição que não abandona jamais.» 
«São tão simples os homens e obedecem tanto às necessidades presentes, que quem engana encontrará sempre alguém que se deixa enganar.»
«As injúrias devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, saboreando-as menos, ofendam menos: e os benefícios devem ser feitos pouco a pouco, a fim de que sejam mais bem saboreados.»
«Os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do património.»
«Todos vêem o que pareces, poucos percebem o que és.»
Com esta introdução, não é difícil perceber por que motivo “O Príncipe” é ainda hoje considerado um manual de referência do cinismo político, mesmo o manual de referência do cinismo político. Nem custa entender a razão por que a palavra “maquiavelismo” ganhou o significado que todos lhe atribuímos: política feita sem moral, por pura razão fria de poder; ausência absoluta de ponderações éticas e puro imperativo prático de conquista, de conservação ou de reforço do poder. 

Mas será mesmo assim? Foi isso que Maquiavel escreveu? E é isso que dele devemos guardar hoje?

Nicolau Maquiavel foi um escritor, diplomata e pensador político, que viveu em Florença entre os séculos XV e XVI. Conheceu o apogeu da era dos célebres Medici e acompanhou os seus altos e baixos. Esteve próximo do poder, também junto dos não menos célebres Borgia, na Romanha, mas sofreu também a perseguição: esteve preso e chegou a ser torturado. Muitos dos seus  textos, como “O Príncipe”, são escritos já depois de retirado, nos últimos anos da sua vida, registando o saber da longa experiência adquirida e vivida, ou compendiando escritos avulsos da sua carreira. Conselheiro de príncipes, Maquiavel foi, ele próprio, um príncipe do pensamento político do Alto Renascimento e marcou um registo que nunca mais se apagou. Até hoje.

Para nos falarmos de “O Príncipe”, na sessão de hoje do ciclo POLÍTICA E PENSAMENTO: A VOZ DOS LIVROS, na Livraria Férin, convidámos outro príncipe: Carlos Magno. 

Carlos Magno é um príncipe do jornalismo português. E, hoje, como presidente da ERC, é mesmo o príncipe dos príncipes.

Homem do Porto (que é, desde 2009, bem ditas as coisas, a minha cidade de eleição), aí se licenciou em Jornalismo e andou também pela Filologia Germânica e pelas Línguas e Literaturas Modernas. Especializou-se em Filosofia da Comunicação e ensina no Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM), em Lisboa, bem como na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica, em Braga. Leccionou outras matérias da sua especialidade na Escola Superior de Jornalismo do Porto (a sua escola), no ISAG do Porto, no Instituto Superior Miguel Torga e no Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais (IESF).

Como jornalista, começou na Rádio Universidade e fez uma longa e sólida carreira na Antena 1, RDP - aí chegaria a Director-Adjunto de Informação e foi comentador permanente até há poucos meses, bem como na RTP. Foi também editor do Expresso, fundador da TSF, onde chegaria a administrador e director, membro da direcção do Diário de Notícias e fundador do canal de televisão por cabo que deu origem à RTP-N, hoje RTP-Informação. Onde? No Porto, claro! 

É um conversador inveterado e um entrevistador temível. Pedimos-lhe justamente para vir conversar connosco.

Nos tempos da TSF, Carlos Magno teve um programa de análise política que se chamou “Freud & Maquiavel”. Começa aí a história do convite de hoje. E, em 2007, interrogado pelo JN, Carlos Magno diz o seguinte: «Li Maquiavel pela mão de Jorge de Sena que defendia a tese de que verdadeiramente maquiavélico era o Príncipe. O Carlos Amaral Dias ensinou-me a ler Freud. E com ele percebi que se o Maquiavel fosse vivo seria hoje um «spin doctor» do marketing político.»

É esta ideia, uma ideia atraente, transplantando Maquiavel e o maquiavelismo para a política dos nossos dias, que desencadeou o desafio que fiz a Carlos Magno. Queria o seu olhar de jornalista e de estudioso, que sabemos que também é.  

Mas, há dias, acresceu outro motivo de interesse. Perguntava eu ao Carlos Magno que livro preferia que aqui estivesse, de entre as várias edições portuguesas de “O Príncipe” de Maquiavel. E perguntava-lhe se preferia a edição da Presença, ou a da Temas e Debates, ou a da Europa-América, ou outra ainda. Carlos Magno respondeu-me na volta: «A edição da Europa-América é fundamental: é que tem o comentário de Napoleão Bonaparte.»

Distracção minha. Eu devia ter calculado. Para quem se chama Carlos Magno, só podia ter préstimo o comentário de Napoleão Bonaparte ou mais acima. Em rigor, Carlos Magno e Napoleão são colegas. A palavra, portanto, ao jornalista, estudioso, príncipe e imperador.

Às 18:30 horas, na Livraria Férin, ao Chiado em Lisboa, com apoio e cobertura especial do jornal i e da Antena 1. Até já!


Sem comentários: