domingo, 15 de fevereiro de 2015

A coligação e as sondagens


Nas últimas semanas, nota-se, aqui e ali, que um factor que estará a bloquear a clarificação da decisão sobre se PSD e CDS irão, ou não, em coligação de listas conjuntas às próximas eleições legislativas é a formação das listas e a repartição de lugares entre os dois partidos. E nota-se também a tendência, nalguns jornais, para passar a ideia de que essa arrumação não se faria de acordo com os últimos resultados eleitorais, mas segundo outros critérios, nomeadamente sondagens.

Esta notícia do OBSERVADOR, ecoando uma entrevista anterior ao EXPRESSO do vice-presidente do PSD Matos Correia, é um dos exemplos disso: Coligação: PSD e CDS em guerra de lugares. A notícia colecciona comentários praticamente para todos os gostos, incluindo meus. E só surpreende, na parte em que, aparentemente, dá nota de que haverá anónimos do CDS que achem aquele cenário normal.

A notícia do EXPRESSO deste sábado (ontem, com antecipação na sexta-feira), com o último barómetro da Eurosondagem, também indicia esse aparente estado das conversas. O título da notícia é: Sondagem. CDS é o que mais desce, Marinho o que mais sobe.  E lá vem a "sentença" enunciada: «Se as sondagens forem a pedra de toque nas negociações para o acordo pré-eleitoral da coligação, o CDS não tem bons números para apresentar.»

Ora, isto, a meu ver, é um rematado disparate. 

Nunca vi uma coligação eleitoral de listas conjuntas que se fizesse com base noutro critério que não seja o da repartição e ordenação dos lugares nas listas de acordo com os resultados eleitorais anteriores. Pode, depois, haver, ou não, um ou outro ajuste pontual: cabeças-de-lista; encaixar uma ou outra personalidade independente; acertos específicos nesta ou naquela zona cinzenta. Mas o único critério fiável, objectivo e aceitável é o dos resultados das eleições anteriores e respectivas posições relativas.

Foi assim na Aliança Democrática, a AD original de 1979 - e depois 1980. Era assim no planeamento da fracassada Alternativa Democrática de 1999. Foi assim na coligação Força Portugal para as europeias de 2004. E foi assim também na coligação Aliança Portugal para as europeias de 2014. [Nestas, a repartição deveria ser feita com base nos resultados das europeias anteriores.]

Usar sondagens é o caos e a arbitrariedade. Por um lado, pela sua fiabilidade, ou não. Por outro lado, pela sua variabilidade incessante.

Tomemos esta última sondagem da Eurosondagem no EXPRESSO, onde se diz que o CDS fica mal parado. É verdade: o CDS aparece com um resultado fraco, abaixo dos 7% quando nas legislativas anteriores obteve 11,7%. 

Mas o do PSD também não é grande coisa: aparece com um resultado na casa dos 26%, quando nas legislativas de 2011 alcançou 38,7%... Fazendo as contas, o CDS quebraria para 3/5 e o PSD para 2/3 - a diferença não é grande e, tratando-se de sondagens, entra-se na arbitrariedade.

Veja-se, por exemplo, o último barómetro AXIMAGE (Janeiro 2015), em que a relação PSD/CDS ainda estaria mais deteriorada, com prejuízo para o CDS - o PSD cairia só para 4/5, enquanto a quebra do CDS seria para 2/5. Mas veja-se também o barómetro anterior da Eurosondagem (Janeiro 2015), em que a relação PSD/CDS aparece mais equilibrada, com conforto para o CDS - ambos os partidos cairiam para 2/3 dos resultados de 2011. Sempre haverá sondagens para todos os gostos, palpites e olhares... Ou seja, o caos decisório.

Em resumo:
  • É evidente que foi um erro clamoroso não ter fechado a coligação para as legislativas logo aquando dos Congressos dos dois partidos em Janeiro/Fevereiro de 2014; ou, o mais tardar, aquando da coligação para as europeias de Maio de 2014. Mas isso estou eu farto de dizer. Tudo teria ficado arrumado, em base objectivas e bem conhecidas. Penso, aliás, que a incerteza nessa altura (alimentada pela direcção do CDS) quanto às listas conjuntas nas legislativas de 2015, prejudicou a própria credibilidade da coligação Aliança Portugal e foi um factor adicional a contribuir para o péssimo resultado eleitoral de Maio 2014. Um resultado desastroso.
  • E também é evidente que, quanto mais tempo passa e tem passado, piores, mais críticas e sensíveis e mais difíceis as coisas se tornam politicamente, como também ando a dizer há muito.
  • Mas, dito isto, não vejo como poderá fazer-se para as legislativas 2015 uma coligação de listas conjuntas PSD/CDS, em bases sólidas, objectivas e mutuamente aceitáveis, que não seja com base nos resultados, círculo a círculo, das legislativas de 2011.

1 comentário:

José Ribeiro e Castro disse...

Por um comentário de Maria Mattos num outro post, fui alertado para que já saiu um novo barómetro AXIMAGE (Fevereiro 2015).

Aqui, a distância da soma PSD+CDS para o PS estreita-se, ao contrário do que indicam os barómetros homólogos da Eurosondagem. Mas, na perspectiva analisada no texto do post, as posições relativas entre PSD e CDS não têm modificação significativa, embora melhorando um poucochinho para o CDS.

Esse último barómetro pode ser consultado aqui:

Jornal de Negócios:
http://www.jornaldenegocios.pt/economia/politica/detalhe/ps_continua_a_liderar_apesar_de_cair_ha_quatro_meses_consecutivos.html

Correio da Manhã:
http://www.cmjornal.xl.pt/nacional/politica/detalhe/maoria_absoluta_mais_dificil_para_o_ps.html

Barómetro AXIMAGE:
http://www.legislativas2015.pt/2015/02/13/barometro-aximage-fevereiro-2015/