quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Olivença e a "Guerra das Laranjas"

Olivença - muralhas e porta
A questão de Olivença é uma delicada pendência dormente nas relações luso-espanholas. É, não – era! Um alcalde “voluntarioso” do lado espanhol resolveu chutar o tema para as primeiras páginas dos jornais. E inevitavelmente para a primeira linha da política. Agora, procura dobrar a língua, mas o mal está feito e o seu gesto tem tudo menos de inocente.

Nos últimos anos, o ambiente melhorava: com apoio das autoridades regionais extremenhas, a autarquia de Olivença abrira-se à revelação das raízes portuguesas, recuperando e reafirmando traços identitários na toponímia histórica das ruas e em festivais anuais de matriz portuguesa. Simultaneamente, com algum pragmatismo, dos dois lados da fronteira, descobriam-se formas imaginosas de tornear dificuldades políticas, a fim de responder às necessidades das populações - por exemplo, no dossier de  reabilitação de uma  ponte de acesso à vila. Este desanuviamento revelava grande sentido prático e era um processo inteligente, que procurava andar para diante sem ferir o alto melindre político da questão. As autoridades locais e regionais espanholas pareciam interessadas em avivar a especial identidade de Olivença, até para a singularizar na região como pólo específico de procura turística, e circunscrevendo o processo a traços de identidade cultural, sem entrar obviamente pelo delicadíssimo - e potencialmente explosivo - plano político.

Estávamos nós postos neste sossego, quando o "enérgico" alcalde Bernardino Píriz aterra em Olivenza e resolve reabrir a Guerra de las Naranjas. Desde há semanas que éramos altertados para a provocação que congeminou. Até que o PS e autarcas locais do lado português - a meu ver, bem - resolveram agarrar no assunto. Além do disparate político monumental, a iniciativa do novo alcaide oliventino interrompe esforços positivos que os autarcas alentejanos vizinhos conhecem bem e estavam a acompanhar e apoiar. 

"Festejar" a Guerra das Laranjas em Olivença é uma coisa de flagrante mau gosto. Seria um pouco como a Rainha Isabel II ir celebrar a Gibraltar o Jubileu de Diamante no próximo mês de Junho.

4 comentários:

Ibérico disse...

Essa foto não é de Olivença, mas de Elvas.

José Ribeiro e Castro disse...

Muito obrigado pelo alerta e pela sua atenção.
Já substituí a foto.

Epicurismos Visuais disse...

Dr. Ribeiro e Castro, enquanto alentejano e português não podia deixar de me congratular com o seu artigo acerca da questão oliventina. Diz que o PS e bem pegou no assunto e lançou-o para o epicentro mediático. Concordo que a causa de que se fala acaba por aproveitar da referência do PS, a classe política é que mais uma vez vê ensobrada a sua imagem, pejada de populismo e hipocrisia. Relembro que o actual líder socialista esteve como deputado na AR nos 6 anos em que o seu partido esteve no pode. E pergunta-se o que ele ou o seu partido fez para alterar este status quo relativamente a Olivença? Neste período e nesta condição poderia sim ter alterado a ideia de inevitabilidade de que muitos políticos se gostam de apropriar sobre a questão oliventina, apenas para mascarar a sua cobardia de afrontar o tal nuestro hermano, e de agitar esta paz podre entre parceiros de UE, agora mais que nunca, visivelmente interessados em olhar para o seu umbigo, deixando os moribundos à sua mercê!!! Se a memória não me falha, na 2ª legislatura de José Sócrates como 1º Ministro, um deputado do PSD, salvo erro Professor Bacelar Gouveia abordou e bem esta problemática. E o que daí resultou? No Governo actual estão então dois partidos que julgo terem mais sentido patriótico que o PS e até têm mantido alguma coerÊncia quanto a esta questão. Irão agora manter essa postura e, ao contrário do PSagir em conformidade, agora que são os dignos representantes do povo portugês perante a comunidade internacional? O CDS tem ainda maiores responsabilidade com o seu líder como ministro dos negócios estrangeiros. Irá deixar esta clarissíma afronta castelhana À soberania portuguesa em branco? Sendo o CDS um dos partidos mais fiéis ao respeito pela história e pela nossa soberania, irá cumprir esse seu desígnio?
Eu realmente não sou constitucionalista, apenas historiador e arqueólogo, mas quer-me parecer que o argumento muitas vezes evocado tanto do lado de Castela, como dos portugueses menos esclarecidos ou patrióticos, é o de que passados 211 anos os oliventinos identificam-se claramente com a história, língua e cultura castelhana do que com a nossa. Mas pergunto eu se o que está em causa é a sua população ou afinal o seu território? Se o território é nacional e, quer-me parecer que ism, por toda a odcumentação histórica e oficial que sustenta este assunto, o problema dos oliventinos quanto a quererem ser castelhanos não tem qualquer dificuldade de maior. É apenas manterem a sua nacionalidade, sendo emigrantes em terras lusas. Quantos espanhóis não vivem em Portugal, agradecidos pela sua imensa hospitalidade, cultura, clima, etc? Certamente que a França daqui a 30 ou 40 anos não aceitaria que os milhões de árabes ou descendentes de árabes pudessem reivindicar para si a pátria francesa!! A nacionalidade de um território não se pode fazer apenas em função da sua população, sob prejuízo de desvirtuar culturas e identidades ancestralmente formadas.
Enquanto democrata-cristão e simpatizante do CDS apelo a que V.ª/Ex.ª faça o que estiver ao seu alcance para que pelo menos este partido honre os seus compromissos e pergaminhos relativamente À manutenção da dignidade od Estado Português, neste caso seriamente beliscada. Ficaria muito desiludido com o CDS caso não agisse em conformidade com o que este cena representa para nós!!

Anónimo disse...

Esa foto si é de Olivença