O ambiente que rodeia a visita da Senhora Merkel a Lisboa é sintomático.
Não só é só revelador da nossa mediocridade dirigente e mediática, agindo como basbaques diante da senhoria que visita os súbditos. Seja da parte dos que veneram, seja dos que protestam, os sinais são fundamentalmente os mesmos: inferioridade.
Já tinha sido assim, quando chegou a troika; e assim se repetiu em visitas sucessivas, até Fernando Ulrich ter dado “um berro na mesa” e ter feito acabar com aquele vexame trimestral das conferências de imprensa dos funcionários inspectores-gerais de FMI/CE/BCE. Toda a gente seguia, caninamente, o trio como se fossem os senhores do Mundo e nossos donos.
Mas o ambiente desta visita, hoje, da Chanceler alemã é também demonstrativo do absoluto zero institucional a que chegou a União Europeia.
Desde o Tratado de Lisboa, na esteira do grotesto passo em falso que foi a “Constituição Europeia”, que os chefes dos Executivos dos Estados-membros foram afastados de qualquer função de liderança nas instituições europeias. A sua presença no Conselho Europeu está “subordinada” a esse mistério que é o Senhor Van Rompuy. Os ministros ainda presidem rotativamente às diferentes formações do Conselho, mas os chefes de Governo não chefiam, nem presidem a nada, o que é obviamente um absurdo e um erro monumental. A Senhora Merkel não é nada na União Europeia, mas, afinal, é - ou parece que é - tudo.
Quando hoje olhamos para Merkel como se fosse o poder na Europa, pagamos o preço desses erros e fífias em que fomos afundando institucionalmente a União Europeia nos últimos quinze anos.
O que se passa é muito mais consequência do fracasso institucional da Europa e da abdicação do debate político europeu do que efeito do reforço do poder da Alemanha. Por outras palavras, a Alemanha é forte porque a Europa é fraca.
Faz-nos muita falta uma política externa vigorosa com uma política europeia a sério na linha da frente.
Quanto ao mais, seja muito bem-vinda. E sinta-se bem entre nós.
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