Nestes tempos confusos e desorientados em que vivemos, várias vezes me tem vindo à ideia o livro do Êxodo.
É o segundo livro da Bíblia, que narra a libertação do povo do cativeiro do Egipto e a sua viagem para a Terra Prometida. Alguns dos seus trechos, na longa travessia do deserto, com todas as dúvidas, hesitações e temores que vão sendo vencidos, são sublimes. Houve um trecho que, um dia, escolhi para o túmulo de Adelino Amaro da Costa e de sua mulher, Manuela, no cemitério de São Martinho das Amoreiras (Odemira) - um trecho que me bateu fortemente e achei particularmente calhado à figura humana e moral do Adelino, precocemente morto.
Surge numa altura em que Moisés está inquieto e assustado com tudo o que Deus lhe pede, naquela difícil condução do seu povo. Moisés resmunga-Lhe esses temores e a sua incapacidade. E Deus dá-lhe esta extraordinária resposta: «A minha face irá diante de ti e dar-te-ei descanso.» (Êx. 33, 14) Fantástico! A minha face irá diante de ti e dar-te-ei descanso.
Às vezes, ocorre-me regressar a esse livro, para buscar rumo e serenidade num quadro em que parece estar tudo em crise e em completa desordem, incluindo valores fundamentais. Neste tempo do tudo em causa, de crise geral de factos e valores, de suportes e referências, de companhias e de destinos, encontro frequentemente, de facto, relendo aqui ou ali, semelhanças espantosas com os dramas e as interrogações do povo judeu naquela longa travessia do deserto.
Há só uma dúvida, porém, que me assalta, nas incertezas e desnortes de hoje: é se, na viagem de hoje, estaremos também a caminho da Terra Prometida ou antes viajando de volta ao fosso da servidão.
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