domingo, 4 de dezembro de 2011

Camarate - os provérbios também se enganam.

Faz hoje 31 anos que morreram tragicamente em Camarate, na queda de um pequena Cessna (matrícula YV-314-P), Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Eram então primeiro-ministro e ministro da Defesa Nacional.

Com eles morreram também, todos carbonizados, as mulheres de ambos, Snu Abecasis e Manuela Amaro da Costa (Manucha), o chefe de gabinete de Sá Carneiro, António Patrício Gouveia, e os pilotos Jorge Albuquerque e Alfredo de Sousa.

Era uma quinta-feira, pouco depois das 20:00 horas, noite de inverno: escura e fria, mas sem vento, nem chuva. Partiam de Lisboa para o Porto, a caminho de um derradeiro comício de campanha eleitoral da Aliança Democrática para as eleições presidenciais que se realizariam no domingo seguinte, 7 de Dezembro. 


Eram todos muito novos: Sá Carneiro tinha 46 anos (menos do que têm hoje Passos Coelho ou Paulo Portas); Amaro da Costa, 37 anos; e Patrício Gouveia, 32. Manucha e Adelino tinham casado havia exactamente 1 ano, 1 mês e 1 dia. 

Ouve citar-se muitas vezes o provérbio português "O cemitério está cheio de pessoas insubstituíveis", para significar que ninguém é insubstituível. Não é verdade. Sá Carneiro e, seguramente, Adelino Amaro da Costa são exemplos de pessoas ímpares, absolutamente insubstituíveis. Os seus lugares foram - é certo - ocupados por outros, mas, em boa verdade, nunca ninguém conseguiu substituí-los. Fizeram sempre muita falta. Os provérbios também se enganam. 

Os funerais foram uma massiva demonstração de admiração cívica e extraordinário afecto popular por ambos os dirigentes da mítica AD. Mas, ao fim de 31 anos, o Estado português ainda não conseguiu explicar, sem margem para dúvidas objectivas, as causas efectivas e as exactas circunstâncias do sinistro. 

As investigações técnicas e policiais, de início, foram uma absoluta vergonha: uma lástima de contradições, precipitação, omissão, erros e incompetência. O processo judicial subsequente foi outra vergonha, com deplorável destaque para a actuação do Ministério Público, sobrepondo o puro preconceito e a obstinação corporativa à fria, aberta e determinada busca da verdade. A oportuna acção penal foi brutalmente prejudicada e, às vezes, bloqueada e impedida.

A Assembleia da República criou já, ao longo dos anos desde 1981, nove comissões parlamentares de inquérito sobre o desastre de Camarate: muitas não puderam chegar ao fim, por efeito indirecto de dissoluções parlamentares. Mas foi através dos inquéritos parlamentares que mais da verdade se foi desfiando e conhecendo. Aguarda-se a constituição da 10ª comissão de inquérito sobre Camarate, que retome e prossiga os trabalhos abruptamente interrompidos em Abril passado. 

Houve sabotagem e atentado. Quem? Porquê? A mando de quê e de quem? Em que exactas circunstâncias? É o que ainda não se sabe. E, havendo crime, já prescreveu. Há um outro provérbio que diz "Quem as faz, paga-as" ou "Onde se fazem, aí se pagam". Confirma-se: os provérbios também se enganam. 

Resta o outro provérbio: "A verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima". Será?

NOTA: Logo, às 19:00 horas, celebra-se missa em intenção de Sá Carneiro, Amaro da Costa e demais vítimas de Camarate, na Basílica da Estrela, em Lisboa. A distrital de Beja do CDS também anunciou para hoje uma romagem ao cemitério de São Martinho das Amoreiras (Odemira), onde estão sepultados Adelino e Manuela Amaro da Costa, com missa na igreja matriz local, pelas 15:30 horas.

3 comentários:

jorge alves disse...

Deus queira que o último provérbio seja verdadeiro para se descobrir quem foram os mandantes.Nesse dia fiz uma coisa que raramento faço chorei.

Filipe Campaniço disse...

Estivemos em S. Martinho das Amoreiras.
Éramos 7 ... para o ano cá vos esperamos.
É bonito jantar em Queluz, é meritório ir à Basílica da Estrela, mas é em S. Martinho das Amoreiras que esses tão devotos deviam estar.

José Ribeiro e Castro disse...

Tem razão, Filipe Campaniço.
Mas o melhor é fazer a romagem a S. Martinho das Amoreiras, na parte da manhã, por volta das 11:00 horas ou meio-dia, tal como se fez no ano passado.
Não só é uma hora mais adequada, como talvez permita que vá mais gente, de entre as que querem estar também na Basílica da Estrela, normalmente ao fim da tarde.