sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A crise da minha vizinha é melhor que a minha



Conheço bem Jo Leinen. Foi meu colega muitos anos no Parlamento Europeu. Alemão do Sarre, europeísta convicto, é um bom homem, inteligente e sério. Mas integra o sector que chamo dos "avancistas", os que mais fizeram para nos meter no enorme sarilho em que estamos na Europa: consideram-se "visionários", mas nunca vêem o passo seguinte. Têm um problema com a realidade e com o chão que pisam.

Na altura em que o conheci e trabalhámos/discutimos em conjunto, ocupava-se sobretudo dos Assuntos Constitucionais. Leio, na imprensa online, que ele chefia, agora, a delegação do Parlamento Europeu na conferência da ONU sobre alterações climáticas, a decorrer em Durban.

É fácil reconhecê-lo quando aparece, aí em Durban, a ser porta-voz do Parlamento Europeu na tese de que "a verdadeira crise do século XXI não é a financeira, mas sim a das alterações climáticas e do aquecimento global"

Quando a Europa e o mundo caminham, a passo certo e cadenciado, para um cataclismo financeiro; quando, na Europa, no Norte e no Ocidente, assistimos a um acentuado declínio demográfico, que gerará prolongada estagnação ou recessão intermitente e crises sociais várias; quando a pobreza e a fome afligem, ainda, vastas regiões do Sul e bolsas cada vez mais preocupantes um pouco por todo o lado; quando o cataclismo financeiro, ainda bem presente no nosso radar, poderá, a acontecer, fazer-nos recuar de várias décadas e mergulhar-nos no absoluto caos - centrar o foco principal nas "alterações climáticas" e na agenda do "aquecimento global"... é obra!

Só um "visionário" do gabarito dos que conheci em Bruxelas/Estrasburgo é capaz de ignorar todas as crises que realmente pisa e aparecer a sustentar que uma outra "crise" é que é a verdadeiramente importante!

No Parlamento Europeu, este tipo de "visionarismo" é muito praticado em todas as áreas. Abundam, aí, os sábios da fantasia e os construtores do faz-de-conta. Não é só no clima e no ambiente, antes fosse.

A ideologia também consiste nisso: nunca ver a realidade como é, mas sempre com a cor dos óculos que temos postos.

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