Mariza e Carlos do Carmo, os embaixadores da candidatura do Fado no âmbito da UNESCO |
Ontem, na sessão de homenagem ao Fado ("Meia Hora de Ouro"), que promovemos na Assembleia da República, para assinalar o reconhecimento pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade, foram estas as palavras com que abri a sessão, como presidente da Comissão de Educação, Ciência e Cultura:
Esta pequena cerimónia na Assembleia da República, por impulso da comissão da Cultura, fecha um ciclo um ano e meio depois. E fecha esse ciclo, como diríamos em linguagem académica, com louvor e distinção.
Há um ano e meio atrás, em 17 de Junho de 2010, ainda na legislatura anterior, o senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, encabeçando os representantes dos órgãos da candidatura, veio apresentar à Assembleia da República este empreendimento: conseguir da UNESCO o reconhecimento do nosso Fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Essa iniciativa prontamente colheu o apoio unânime de todo o Parlamento, como logo foi expresso num voto. E, de novo, na passada sexta-feira, a Assembleia voltou a aprovar um outro voto por unanimidade, desta feita para saudar o êxito total alcançado pela candidatura.
É isso que queremos fazer hoje: exprimir-vos directamente, à candidatura, ao fado, aos fadistas, o nosso reconhecimento e partilhar intensamente a nossa alegria por esta consagração à escala mundial de um bem precioso da nossa cultura popular e da nossa identidade.
Esta distinção aconteceu no tempo certo: se calhar, não podia ter sido mais cedo e não devia ter sido mais tarde.
Recorro a uma imagem. Ouve-se muito dizer quanto o vinho português melhorou nos últimos vinte, trinta anos. E é verdade. Sempre houve bom vinho português, mas, nas últimas décadas, melhorou extraordinariamente; na variedade, nas castas, na qualidade, na sofisticação, no engarrafamento, na apresentação, na rotulagem, no registo próprio de diversas denominações de origem.
Podemos dizer o mesmo do fado. Houve sempre bom fado, muito bom fado. E já havia um sólido percurso de alguma internacionalização e prestígio, onde, por todos, a memória de Amália necessariamente ecoa.
Mas, nas últimas décadas, assistimos a uma contínua renovação e acrescento. Mantendo e valorizando estilos e registos tradicionais, da sua raiz e do seu tronco, o fado não cessou de enriquecer-se por novas vozes, novos géneros, novos instrumentos, novas sonoridades, mais qualidade poética, até novas conjugações melódicas, novos casamentos atrevidos, com a morna, com o bossa, com o jazz, com a balada, com o flamenco. Não receia até cruzar-se, porque é forte, genuíno e próprio. Tem marca única, que brilha sempre.
Por isso, podemos dizer, sem receio de desmentido, que o Fado atingiu em definitivo a sua maturidade, a sua afirmação forte, característica e variada no quadro da cultura global da Humanidade. É isso também que a decisão da UNESCO assinala. É isso também que celebramos hoje: a maturidade do Fado.
Saudamos todos os fadistas, todos os que fazem o fado, todos os que puseram de pé esta candidatura e a conduziram ao sucesso. Saudamos o vosso amor à arte e a vossa dedicação a esta causa. Mas saudamos ainda, sobretudo – e agradecemos –, a vossa competência.
A seguir, falaram, também brevemente, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, e a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, que encerrou com a palavra de ordem da praxe: "Silêncio, vai-se cantar o fado!"
Carlos do Carmo assegurou, com os seus músicos, uma "Meia Hora de Ouro" de superior qualidade e absolutamente inédita. Portugal de parabéns!
Nota: Pode ler outras notas minhas sobre este tema noutro post mais abaixo: Património mundial do nosso coração .
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