quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A maturidade do nosso Fado


Mariza e Carlos do Carmo,
os embaixadores da candidatura do Fado no âmbito da UNESCO

Ontem, na sessão de homenagem ao Fado ("Meia Hora de Ouro"), que promovemos na Assembleia da República, para assinalar o reconhecimento pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade, foram estas as palavras com que abri a sessão, como presidente da Comissão de Educação, Ciência e Cultura:

Esta pequena cerimónia na Assembleia da República, por impulso da comissão da Cultura, fecha um ciclo um ano e meio depois. E fecha esse ciclo, como diríamos em linguagem académica, com louvor e distinção.

Há um ano e meio atrás, em 17 de Junho de 2010, ainda na legislatura anterior, o senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, encabeçando os representantes dos órgãos da candidatura, veio apresentar à Assembleia da República este empreendimento: conseguir da UNESCO o reconhecimento do nosso Fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Essa iniciativa prontamente colheu o apoio unânime de todo o Parlamento, como logo foi expresso num voto. E, de novo, na passada sexta-feira, a Assembleia voltou a aprovar um outro voto por unanimidade, desta feita para saudar o êxito total alcançado pela candidatura.

É isso que queremos fazer hoje: exprimir-vos directamente, à candidatura, ao fado, aos fadistas, o nosso reconhecimento e partilhar intensamente a nossa alegria por esta consagração à escala mundial de um bem precioso da nossa cultura popular e da nossa identidade.

Esta distinção aconteceu no tempo certo: se calhar, não podia ter sido mais cedo e não devia ter sido mais tarde.

Recorro a uma imagem. Ouve-se muito dizer quanto o vinho português melhorou nos últimos vinte, trinta anos. E é verdade. Sempre houve bom vinho português, mas, nas últimas décadas, melhorou extraordinariamente; na variedade, nas castas, na qualidade, na sofisticação, no engarrafamento, na apresentação, na rotulagem, no registo próprio de diversas denominações de origem.

Podemos dizer o mesmo do fado. Houve sempre bom fado, muito bom fado. E já havia um sólido percurso de alguma internacionalização e prestígio, onde, por todos, a memória de Amália necessariamente ecoa.

Mas, nas últimas décadas, assistimos a uma contínua renovação e acrescento. Mantendo e valorizando estilos e registos tradicionais, da sua raiz e do seu tronco, o fado não cessou de enriquecer-se por novas vozes, novos géneros, novos instrumentos, novas sonoridades, mais qualidade poética, até novas conjugações melódicas, novos casamentos atrevidos, com a morna, com o bossa, com o jazz, com a balada, com o flamenco. Não receia até cruzar-se, porque é forte, genuíno e próprio. Tem marca única, que brilha sempre.

Por isso, podemos dizer, sem receio de desmentido, que o Fado atingiu em definitivo a sua maturidade, a sua afirmação forte, característica e variada no quadro da cultura global da Humanidade. É isso também que a decisão da UNESCO assinala. É isso também que celebramos hoje: a maturidade do Fado.

Saudamos todos os fadistas, todos os que fazem o fado, todos os que puseram de pé esta candidatura e a conduziram ao sucesso. Saudamos o vosso amor à arte e a vossa dedicação a esta causa. Mas saudamos ainda, sobretudo – e agradecemos –, a vossa competência.

A seguir, falaram, também brevemente, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, e a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, que encerrou com a palavra de ordem da praxe: "Silêncio, vai-se cantar o fado!"


Carlos do Carmo assegurou, com os seus músicos, uma "Meia Hora de Ouro" de superior qualidade e absolutamente inédita. Portugal de parabéns!

Nota: Pode ler outras notas minhas sobre este tema noutro post mais abaixo: Património mundial do nosso coração .


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