O jornalista José Vítor Malheiros escreve, hoje, um artigo forte no PÚBLICO - Recordes e mentiras. O artigo começa assim:
«Número de desempregados bate recordes. Número de desempregados jovens bate recordes. Número de falências bate recordes. O número de estudantes sem bolsas e a fuga de cérebros batem recordes. A emigração e o regresso de imigrantes aos seus países de origem batem recordes. O número de sem-abrigo e o número de pessoas que pedem ajuda alimentar batem recordes. O número de famílias que não conseguem pagar as suas hipotecas aos bancos e que não conseguem pagar escolas privadas bate recordes. O número de suicídios bate recordes. O aumento das taxas moderadoras e os cortes nos subsídios de desemprego e no rendimento social de inserção batem recordes. Os cortes na participação nos medicamentos batem recordes. O número de desempregados sem direito a subsídio e o número de doentes com cancro que abandonam tratamentos por falta de dinheiro batem recordes.
Estes são alguns dos recordes que o país bateu nos últimos dias. Apenas nos últimos dias e fazendo uma pesquisa superficial na imprensa. Não são todos. São apenas alguns dos que são mais fáceis de medir.»
José Vítor Malheiros é um homem sério, com pontos de vista próximos dos da oposição. O seu texto ignora o fundamental e inescapável: na situação a que anos consecutivos de políticas de esquerda e a governação PS conduziram o país, ficámos condenados a prosseguir uma consolidação orçamental "a frio", com efeitos imediatos que são, na verdade, duríssimos. Desperdiçámos oportunidades melhores e, agora, não temos outro remédio. Não temos mais dinheiro. Ficámos carregados de dívidas. E quem nos financiava também teve que fechar a torneira. Já aqui escrevi sobre isso. Por exemplo, aqui: Saiu-nos o Zé errado; ou Folgas & almofadas, Cia. Lda.; ou Soluções e pesadelos.
Ter que adoptar Orçamentos de Estado que, consabidamente, concorrem para a recessão e a restrição de remunerações e de prestações sociais é estar consciente de que o país tem por diante uma travessia muito difícil. É indispensável; mas, na verdade, duro.
A diferença entre prevê-lo e agora é que, agora, já estamos a fazer essa travessia.
É duro, mas não podemos falhar. Vão ser precisos nervos de aço. E cabeça fria.
2 comentários:
Será então assim: penosíssimo e inevitável.
Pena é que os que nos trouxeram até este ponto estejam, apesar disso, absolutamente impunes e vivendo aboletados em generosas prebendas fornecidas pelo estado ou empresas dessas que têm peculiares relações com o estado (não escrevo "estado" com "e" minúsculo, antes o faço deliberadamente), continuando a vomitar sobre todos nós as mais repugnantes inanidades e fazendo-o com uma revoltante sobranceria.
Não, a responsabilidade política não chega! Não chega quando o povo chegou a este ponto e é massacrado impiedosamente por um fisco insaciável e despudorado, não hesitando em arrastar os "sujeitos passivos" (nojenta designação) no lamaçal da desonra, e um estado que, afirmando ter que dar cada vez menos, exige cada vez mais.
Falta moral, falta digniddade, falta estatura.
E enquanto o povo é assim destroçado: os pobres ainda mais pobres; a classe média desfeita sem o menor freio; os ricos permanecendo confortavelmente longe de tudo isto (e não os diabolizo por serem ricos, apenas constato o óbvio), há uma classe de filhos dilectos do regime, detentores de cartão de partido ou de há muito ligados à promísqua gestão do sector empresarial do estado (e não só) que adquire imparavelmente a mais repulsiva ostentação de meios e de modos que nem sequer procura tornar um pouco mais discreta.
E enquanto se afirma, custe o que custar, o princípio de pacta sunt servanda perante o crime inimaginável das PPPs, das "rendas" de certas empresas, etc., etc., esse princípio é liminarmente afastado perante as relações e o rendimento do trabalho. Se necessário ao final do dia de uma véspera de feriado.
Não é só a substância das coisas que é questionável. É também a forma. A falta de um elementar módico de decência, de lisura, de humildade, dos governantes perante os governados. A absoluta relatividade da palavra dada; pior, a sua irrelevância encarada sem um assomo de vergonha. Era assim há um ano; começa a ser assim, com equiparável desfaçatez, no tempo presente.
Tudo isto revolta, repugna e (a palavra, bem sei, foi apropriada pela esquerda, mas aplica-se) indigna.
Costa
As responsabilidades de Sócrates e do PS são inegáveis e só a ignorância ou a má fé não as têm em conta.
Mas resta saber se os sacrifícios que estão a ser pedidos são bem administrados, com prudência, com moderação, equitativamente repartidos e no fim verificar se serviram os seus objectivos.
Queira Deus que tal se confirme, para bem do nosso desgraçado Portugal e das novas gerações, principalmente, que vivem anos de incerteza, de abusos, de precariedade laboral e social, como nunca havíamos sonhado possível.
Caso contrário, o Regime entrará em completo descrédito e não será repetindo eleições ad nauseam que se alcançará a sua redenção.
Será preferível viver em Democracia, mas a desorganização económica e social, a persistirem, acabarão por cobrar o seu preço e a União Europeia não quererá por certo pagá-lo, como já hoje parece evidente.
Talvez os Portugueses, ante a perspectiva do desastre nacional, com a manutenção de um Regime corrupto, ainda sejam obrigados a ensaiar alguma solução política menos canónica.
Quem poderá afastar tal hipótese, na iminência de um colapso económico, social e político ?
Isto não é apelar a nenhum golpe, mas antes a uma resquício de sensatez, porventura ainda sobrante nas cabeças da nossa classe política, porque, tenhamos presente, são os Regimes devem servir a Nação e não o contrário.
António Viriato_10-04-2012
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