Fui fundador da FTDC - Federação dos Trabalhadores Democrata-Cristãos. Fui o autor material do seu Manifesto de Fundação. É um dos aspectos menos conhecidos do meu currículo, mas um dos que mais me orgulho.
Estávamos em 1978, no rescaldo das lutas contra a unicidade, da crise do movimento sindical e da "Carta Aberta". Estava a constituir-se a UGT - União Geral de Trabalhadores. A tendência sindical personalista democrata-cristã fez parte desse movimento de democracia sindical, que rasgou uma via própria contra a hegemonia da CGTP-Intersindical. Os sindicalistas democrata-cristãos estavam sobretudo na função pública, nos bancários e nos professores. Mas havia-os noutros sectores ainda: têxteis, rodoviários, etc.
O modelo democrata-cristão é claramente contrastante do sindicalismo mais tradicional entre nós, de matriz comunista ou esquerdista, historicamente revolucionário, baseado na luta de classes e virado para a confrontação. Na linha da doutrina social da Igreja, o que sustentamos é um sindicalismo de concertação, como o que tão boas provas deu na Alemanha e tem também bons exemplos entre nós - não por acaso, a Auto-Europa, por exemplo.
Ocorreu-me a importância do regresso e do reforço dessa linha, nesta semana em que, de modo corajoso e patriótico, a UGT assinou o acordo de concertação social. A lucidez e a responsabilidade da UGT merecem ser aplaudidas. Mas importa entender o passo da UGT também como uma chamada. Os trabalhadores portugueses deveriam corresponder ao sinal e engrossar as fileiras da UGT.
Uma coisa é estarmos dispostos a suportar e partilhar os sacrifícios que a situação do país exige, a fim de superar a exaustão financeira e o aperto económico, lançando novas bases e novo quadro para o crescimento e o emprego. Outra coisa bem diferente é aceitarmos e favorecermos reformas e mudanças que levassem à destruição completa do modelo social e à criação de um quadro injusto, totalmente desregulado e socialmente desequilibrado. Por outras palavras, a gestão da crise é marcada pela sua transitoriedade - passado o aperto, importará estar em condições de retomar a senda do progresso social. Reformar sim, mas para melhor - um quadro novo mais sustentável e sólido, com dinamismo económico e justiça social.
O que fará, em última análise, a diferença entre um cenário e outro será a força e o prestígio do sindicalismo democrático, bem como a capacidade de este atrair e enquadrar as novas gerações num sindicalismo novo, ajustado ao quadro da economia moderna. Um desafio enorme - que vale bem a pena. Com sindicatos democráticos fortes, os que vivemos do trabalho poderemos aspirar a um futuro com crescimento e justa repartição da riqueza. Sem eles, será enorme o risco de sermos presa fácil do oportunismo económico e da anarquia financeira.
Está na hora, por conseguinte, de engrossar a UGT. Está na hora de dar mais músculo ao sindicalismo democrático. E pode ser também a hora da FTDC. Para fortalecer o sindicalismo de concertação. Para preparar e garantir o futuro.
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