terça-feira, 3 de março de 2015

A decadência da Amnistia Internacional - e sua usurpação


A Amnistia Internacional é uma grande organização de direitos humanos. Tem um histórico notável de intervenção mundial. Muitos devem-lhe a liberdade e alguma protecção diante de ameaças terríveis. Muitos mais encontraram aí, independentemente dos sofrimentos que sofreram, aquele lastro de solidariedade que nos faz saber não estarmos sozinhos. Lutou, como poucos, pela democracia e eleições livres. Foi uma voz poderosa pelas liberdades fundamentais. Foi, para muitos jovens, escola de aprendizagem solidária e de generosidade cívica, na luta pelos direitos matriciais de palavra e pensamento, de liberdade de crença e de expressão, de acção política livre, contra a prisão, a tortura e a morte por motivos políticos ou de convicção.

Ultimamente, custa vê-la apossada por outras agendas, que dispõem de outras organizações e fora por onde se organizar e manifestar, seja a agenda LGBT, seja a agenda dos "direitos sociais".

Há dias, a Amnistia Internacional levantou a voz, em Portugal, contra a "austeridade" (mais uma...) e apareceu a chamar à primeira linha da sua intervenção «a monitorização e avaliação do impacto das medidas de austeridade em Portugal para que estas não colidam com os direitos humanos.»

O discurso que embrulha tudo isto, mesmo quando aparenta buscar alguma sofisticação e modernidade, não é mais do que o velho jargão marxista da "superioridade" dos "direitos sociais" sobre as "liberdades burguesas", em que se fundaram muitas ditaduras marxistas - e ainda se alimentam as que sobrevivem. É pena. E é pena vê-lo e ouvi-lo sobretudo em Portugal.

Poucos o sabem, mas a grande e influente Amnesty International nasceu por causa de Portugal. Estávamos em 1961. Um advogado britânico, Peter Benenson, indignou-se, quando tomou conhecimento de que dois jovens estudantes portugueses tinham sido presos por fazerem um brinde à liberdade. Escreveu um artigo no The Observer, denunciando os factos; e o artigo teve o que hoje diríamos uma "repercussão viral": foi copiado e replicado em inúmeros jornais por todo o mundo - não havia internet, nem twitter, nem Facebook. E foi daí que nasceu e irradiou por todo o mundo uma rede de pessoas unidas solidariamente em luta pela liberdade e pela justiça.

Custa ver, cinquenta anos depois, que a Amnistia Internacional possa encontrar e alimentar também a partir de Portugal - e das multi-tretas político-partidárias da troika e anti-troika - o caminho do declínio e do ocaso.

E, todavia, há ainda tanta liberdade por que lutar em tanto lado. Há as perseguições aos cristãos no Médio Oriente, na África islamista e nalguma Ásia. Há as terríveis atrocidades que sofrem e o êxodo a que são forçados. Há os assassinatos políticos na Rússia. Há o perigoso e obsceno ressurgimento do anti-semitismo. Há  a loucura da Coreia do Norte. Há presos políticos sofrendo perseguição arbitrária em tantos lugares ainda. Há imprensa amordaçada ou manipulada por regimes autoritários.

Há tanto por fazer nas linhas que fundaram e que justificam a Amnesty International. Ou a palavrinha "Amnistia" já não diz nada a quem manda na organização e a representa?

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