Atocha, Madrid - 11 de Março de 2004 |
Era mesmo verdade. Como, ontem, aqui receei, as instituições europeias revelam uma tendência preocupante para se esquecerem da memória das vítimas do terrorismo, um flagelo terrível. Quer o terrorismo, quer a falta de memória.
EL PAÍS, 12 de Março de 2004 |
Ontem, assinalou-se pela décima vez o Dia Europeu em Memória das Vítimas do Terrorismo, no 11º aniversário dos atentados de Atocha, em Madrid. A data solene e memorial foi estabelecida em 2004; e começou a celebra-se em 2005.
Atocha, Madrid - 11 de Março de 2004 |
Ora, passando em revista o dia de ontem, constata-se que só a Comissão Europeia assinalou - e creio que modestamente, pois nada ecoou pela imprensa - a data memorial. O que a Comissão fez está resumido aqui, nesta página de entrada e de informação, incluindo remissões para os discursos do comissário Dimitris Avramopoulos e da comissária Věra Jourová, num evento organizado para o efeito, em Bruxelas, bem como para vídeos com depoimentos de vítimas do terrorismo e a prévia mensagem geral da Comissão, que já ontem publicáramos. Está de parabéns, em qualquer caso, a Comissão. Pela minha parte, obrigado.
A ilustração da página especial da Comissão Europeia não deixa, porém, de ser significativa e sintomática: é ilustrada por uma fotografia dos líderes políticos que encabeçaram a grande manifestação em Paris, no passado 11 de Janeiro deste ano, a seguir aos atentados contra o Charlie Hebdo e o supermercado judeu.
É como quem diz - "Foi gira a festa, pá." - e pensa que, em consequência, já não é preciso fazer mais nada de muito relevante quando chega, propriamente dito, o Dia Europeu em Memória das Vítimas do Terrorismo. De 11 de Janeiro para o Conselho Europeu extraordinário de 12 de Fevereiro, e de 12 de Fevereiro para 11 de Março, a União Europeia, a pouco e pouco, foi-se esquecendo de lembrar.
Ontem, num debate na Assembleia da República, sobre questões europeias não deixei de abrir a minha intervenção, abordando o tema. E lamentando a fragilização do dia e da memória. Pode ver aqui o vídeo:
É que, na verdade, nem sequer o pomposo Coordenador Contra o Terrorismo, no âmbito do Conselho, o Sr. Gilles de Kerchove, fez ou disse o que quer que seja, como podemos verificar ao consultar de novo a sua página. Deve ter estado muito ocupado no dia 11 de Março, mas certamente a tratar de outros assuntos que não de terrorismo... Um homem atarefado.
O mesmo concluímos ao rever o que se passou ontem no Parlamento Europeu, que está reunido em plenário em Estrasburgo. Em quase 15 horas de debates, não houve, aparentemente, um só minuto para evocar e assinalar o dia. Extraordinário! Revelador, sobretudo.
Enquanto estive no Parlamento Europeu, várias vezes me ocupei do assunto e lutei contra a derrapagem que descafeína a data solene. Sei que, pelo menos outro deputado europeu, o Diogo Feio, fez esforços e alertas similares, no mandato seguinte. Ainda agora, fazendo uma busca, encontrei registo de uma sua oportuna pergunta parlamentar em 2011 e da resposta que recebeu. Mas, como o Diogo Feio também saiu, parece que já ninguém está lá que se interesse.
Vamo-nos lembrar das vítimas apenas quando for o próximo atentado. E até aí... pouco. Está sempre a acontecer.
Esta Europa sem memória, nem linha, nem coração é a Europa que não presta.
Monumento em Madrid |
Pormenor do memorial junto à estação de Atocha, Madrid |
2 comentários:
A Comissão Europeia lembrou as vitimas do terrorismo dia 11 de Março - http://ec.europa.eu/news/2015/03/20150311_2_en.htm -
http://ec.europa.eu/commission/2014-2019/jourova/announcements/commissioner-jourovas-speech-11th-european-day-commemoration-victims-terrorism_en
http://europa.eu/rapid/press-release_STATEMENT-15-4580_en.htm
Agradeço a sua nota.
Porém, eu próprio refiro isso no texto, se ler com atenção. E agradeço. Incluo, de resto, vários, links.
Também já o tinha referido noutro post anterior:
http://avenida-liberdade.blogspot.pt/2015/03/dia-europeu-em-memoria-das-vitimas-do.html
A Comissão Europeia foi a excepção.
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