quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O preço de não ir a votos e desaparecer das listas


O preço a pagar por um partido político pelo facto de não se apresentar de todo a eleições nalgum lugar, nem entrar sequer em coligação, é sempre potencialmente elevado e duradouro. Por alguma razão, aliás, a lei eleitoral fixou que as coligações eleitorais se identificam pelos símbolos dos partidos coligados e não por uma qualquer simbologia "ad hoc". É uma norma que, por um lado, protege a transparência política, mas, por outro lado, também protege os partidos do seu desaparecimento e apagamento diante dos eleitores.

Dou um exemplo da história do CDS.

A implantação do CDS no Alentejo foi sempre difícil. Mas, na cidade de Évora, chegou a ter uma expressão relevante. Em 1976, nas eleições municipais, o CDS teve um resultado de 6,5%, não muito longe do PSD, que teve 10,9% no mesmo acto. No distrito de Évora, no mesmo ano, o CDS tinha conseguido - muito a partir do forte núcleo existente na cidade de Évora - um resultado de 8%, não muito longe do PSD, que alcançara 9,2%. Os resultados eram muito encorajadores e auspiciosos, já que, nas eleições constituintes em 1975, um ano antes, o CDS tinha tido no círculo de Évora apenas 2,8%.

Aconteceu, porém, que a primeira Câmara Municipal de Évora eleita democraticamente não tinha maioria, entrou em crise e caiu, levando à realização de eleições intercalares, que ocorreram em Novembro de 1978.

Houve, então, um debate que dividiu o CDS de Évora: de um lado, os que queriam ir normalmente a eleições; do outro lado, os que achavam que era melhor não ir, na ideia de impedir que o PCP conquistasse a Câmara com maioria absoluta. Foi esta linha que ganhou a decisão; e o CDS não foi a votos. 

O facto provocou um vazio, com consequências profundas: o CDS nunca mais foi relevante em Évora e quase desapareceu. Só conseguiu voltar a apresentar-se a eleições locais na cidade de Évora em 1993 - quinze anos depois! - e, a partir de 1997, teve sempre percentagens na casa dos 1% a 3%... Da última vez que foi a votos em Évora, nas autárquicas de 2009, alcançou 2,2%, ainda três a quatro vezes menos do que o prometedor começo de 1976, que foi deitado fora.

As promessas encorajadoras de 1976 esfumaram-se por inteiro naquela decisão desastrada de o CDS não ir a votos em 1978: apagou-se totalmente do boletim de voto, apagou-se do futuro seguinte. O povo diz: "longe da vista, longe do coração". Em matéria de escolhas eleitorais, podemos ecoar: "longe da vista, longe da votação".

3 comentários:

Anónimo disse...

E aos INDEPENDENTES é negado qualquer simbologia própria, entre MUITAS OUTRAS, para impedir que entrem numa coutada que os partidos pensam que é só deles e só a eles é permitido participar.
É por isso que o tribunal sorteia um nº romano favorecendo assim, o "condomínio privado" que os partidos pretendem para si e mais ninguém.
LAMENTÁVEL!!

José Ribeiro e Castro disse...

Compreendo o desagrado, mas não creio sinceramente que isso tenha grande efeito e importância. A menos para aqueles movimentos de independentes que se sintam, afinal, como partidos ou quase partidos e aspirem a institucionalizar-se. Mas, nesse caso, deverão seguir esse caminho.

Fiz e dirigi algumas missões de observação eleitoral no mundo e reparei que há países em que toda a promoção eleitoral é feita à volta do algarismo que identifica também o candidato ou a lista: "vota 2"; "vota 35"; "vota 8".

Isto acontece, sem prejuízo de os partidos, movimentos e candidatos terem os seus próprios símbolos.

Mas, na comunicação eleitoral, eles próprios preferem ser conhecidos e identificados pelo algarismo que lhes corresponde. É o caso de vários países da América Latina. Esse algarismo acaba por ser muito cobiçado; e, naqueles que permanecem em campo, mantém-se de eleição em eleição.

É como que uma espécie do CR7. :-)

Na eleição, o símbolo serve apenas e sobretudo para identificar o quadradinho onde o eleitor vai votar. E, por isso, ainda que perceba o apreço por uma simbologia gráfica imagética, não creio sinceramente que, na prática, seja muito relevante estar lá um símbolo, um número romano ou um algarismo.

Importante é tão-só que o eleitor saiba quem é quem no momento em que vota.

Anónimo disse...

Enquanto Alentejano, revejo-me muito neste post. A aposta nos concelhos alentejanos tem de ser continuo. Precisamos de um CDS por cá.