terça-feira, 25 de março de 2014

Fernando Ribeiro e Castro: “Vai ser o meu último mandato!”

A Ana Cid Gonçalves, secretária-geral da APFN - Associação Portuguesa das Famílias Numerosas, escreveu, no mural da página de Facebook do meu irmão Fernando, este testemunho, que aqui agradeço e partilho, de forma reconhecida. É tudo verdade. Também fui testemunha.


“Vai ser o meu último mandato!”
Foi o que o Fernando declarou nas últimas eleições da APFN em que ainda se candidatou a Presidente da Direcção após a nossa insistência para que o fizesse. 
Longe estávamos, ele e nós, de saber do terrível cancro que o viria a levar tão precocemente… 
Conheci-o há 10 anos quando um amigo me pediu que desse uma ajuda na organização do II Congresso Europeu de Famílias Numerosas que se realizou em Portugal em 2004. O Fernando que eu conheci fazia de tudo na APFN: colava etiquetas, atendia telefones, fazia apresentações, escrevia, angariava artigos e compunha o boletim, geria os sócios numa aplicação informática integralmente criada por ele e que ainda hoje usamos... Mas também realizava trabalhos de fundo que exigiam muito tempo de recolha e tratamento de dados, pesquisa e compilação de informação (como os primeiros cadernos da APFN) e até mesmo o desenho conceptual de políticas públicas que hoje se mantém totalmente actual. Isto tudo de forma totalmente generosa e voluntária, noite dentro, após o seu horário de trabalho profissional e contribuindo muitas vezes com recursos próprios seus, como quando correu o país para arranjar delegados a expensas próprias.  
Fui totalmente contagiada por esta energia e generosidade, e um assunto que para mim nem sequer era assunto, passou a ser o assunto da minha vida.  
Sempre admirei a sua frontalidade e transparência. Nada na manga… Tudo o que pensava se conhecia. Muito directo e nada politicamente correcto, afirmava as suas fortes convicções de forma desabrida. Tinha sempre opinião que invocava muito seguramente mas, da mesma forma que o fazia, também era capaz de, no minuto seguinte e com toda a humildade, reconhecer razão na outra pessoa. 
Era muitas vezes mal interpretado, o que às vezes me entristecia. Frequentemente lhe atribuíam palavras, ideias e pensamentos que nunca teve. E ele sabia isso e, também por essa razão, queria que mais pessoas falassem em nome da APFN. 
Totalmente liberto de protagonismos, não procurava as luzes da ribalta. Sempre teve a preocupação e o cuidado de garantir que, como ele dizia, “a APFN não pode ser a Associação do Fernando”. Tudo fez para que tivéssemos uma equipa profissional capaz de dar resposta aos desafios com e sem ele. 
Apesar de profissionalmente ter tido sempre profissões exigentes e trabalhosas em termos de tempo, nunca deixou de dar pronta resposta a todas as necessidades da APFN e acredito que também de outros assuntos como, por exemplo, os da Confederação Europeia de Famílias Numerosas a que também presidia. Milagrosamente, arranjava sempre tempo para responder a todos os assuntos, muitas vezes no minuto seguinte. Extraordinariamente inteligente e rápido.  
Um maravilhoso sentido de humor. Achava tanta graça às nossas palhaçadas que chegámos a fazer capas de boletim falsas e outras brincadeiras só para ouvir as suas gargalhadas estrondosas. Era rara a vez que estávamos juntos e que não brincássemos a propósito de qualquer coisa.  
Mal entrava na sede, dava-se por ele. Acompanhava e estava próximo do nosso trabalho. Valorizava e entusiasmava muito a equipa. Distribuía os louros e agradecia constantemente o trabalho dos outros. 
Muito exigente, pensava em tudo e tudo fazia com enorme dedicação, mas também era muito compreensivo quando alguém falhava e as coisas não corriam exactamente como deviam. Podia até ficar bastante zangado num minuto mas, no minuto seguinte, já não era nada. 
Sempre apaixonado pela sua querida Leonor e pelos seus filhos e netos, vivia aquilo em que acreditava: uma família estável, unida e forte, e muitos irmãos, "é o melhor que se pode dar aos filhos". Os olhos brilhavam e sorriam quando falava deles e falava muitas vezes. 
Foi um visionário e antecipou muito do que hoje vivemos e do que teremos que enfrentar no futuro. Mesmo sabendo das dificuldades, era um optimista com uma enorme alegria de viver. Mas, tal como adorava viver, entregou-se tranquila e corajosamente à realidade de uma morte prematura anunciada.  
Embora sabendo que continuas connosco, sentimos e sentiremos muito a tua falta, Fernando.  
Agradeço muito o tanto que me deste. O exemplo, o testemunho, a força, o entusiasmo… Também tudo o que deste à APFN.  
Ana Cid Gonçalves

1 comentário:

Isabel F.Homem disse...

Obrigado pela partilha que tão bem descreve uma Vida, uma Obra, uma Personalidade invulgar, deixando Vida para Viver e, Continuar."Isto não pode parar" e, no "isto" cabia tudo!