quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Requiem indignado por um avôzinho bem disposto


Maryse e Georges Wolinski

Ontem, a escavar ainda e a olhar, estupefacto, o horror do ataque terrorista contra a sede do CHARLIE HEBDO em Paris, tropecei especialmente no nome de uma das vítimas: Wolinski.

Assassinaram Wolinski? Também tinham morto Wolinski?

Sim, era verdade. Ao lado de nomes de cartoonistas mais novos como Cabu, Charb, Tignous, o meu Georges Wolinski estava também naquela mesa sobre que se abateu o selvático fuzilamento pelos dois assassinos mascarados. 

A notícia aumentou o choque que eu já sentia. Wolinski é uma velha referência do desenho satírico francês, com um especial gosto pelo cartoon erótico, com um estilo habitualmente bastante forte e directo ao assunto. Foi, com Sempé - outro grande cartoonista da mesma geração e de género diferente - um dos heróis da minha juventude, em que a cultura francesa ainda pesou muito. Comprei vários dos seus livros. E fui ávido consumidor do seu traço e do seu texto.

Wolinski tinha, agora, 80 anos. Aparece na fotografia acima, em Abril passado, ao lado de sua mulher Maryse, quando saíam da Igreja de Saint-Germain-des-Près, nas exéquias de Régine Deforges, uma escritora sua amiga. Agora, não desenhará mais. E as próximas exéquias serão as suas, por súbita imposição trágica de um bando terrorista.

Poderemos ainda sorrir com os milhares de desenhos que nos legou. Mas já não poderemos experimentar o gozo interminável da sua explosão criativa sobre os dias que ainda virão. Adeus, avôzinho! Fazes falta.

Não há direito.

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