domingo, 27 de novembro de 2011

Património mundial do nosso coração




Ando com as emoções em sobressalto neste dia em que a UNESCO reconheceu o nosso fado como Património Cultural Imaterial da Humanidades. Porquê? Por causa desse pronome: “nosso”.

Bailam-me na memória, no ouvido e no coração, ecos de Amália – claro! – Carlos Zel, João Ferreira Rosa, Teresa de Noronha, Vicente da Câmara, Maria da Fé, Rodrigo, Frei Hermano, Cristina Branco, João Braga, Carminho, Camané, Kátia Guerreiro, Hermínia Silva, Carlos do Carmo, Mariza, António Zambujo, e tantos outros.

Sirvo-me de um post de Pedro Correia – Talvez o mais belo fado de sempre – para ilustrar com o mesmo vídeo os meus pensamentos.


“A Gaivota”, imortalizada pela Amália, não é o mais belo fado, porque não há só um “mais belo”. É, sem dúvida, um dos mais belos - que são muitos. Seria, graças a Deus, interminável a lista de todos os mais belos.

Muito do que faz a beleza única do fado é a extraordinária pluralidade de variantes, de estilos, de géneros, de vozes, de poetas, de sentimentos, de cor, de sonoridades – e tudo sempre naquele registo único que nos atravessa e marca a alma. Fado não é só dor ou saudade. O fado é dor e riso, saudade e presença, partida e chegada, alegria e lágrima, zanga e ternura, proximidade e distância, olhar e cegueira, sonho e realismo, brincadeira e luto, terra e Deus, festa e sofrimento, ansiedade e repouso, correria e descanso, velho e criança. O fado é a nossa vida.

Nas letras do fado, rivalizando com os que escreveram sobretudo para fadistas, cruzam-se muitos dos nossos maiores poetas: Pedro Homem de Mello, David Mourão-Ferreira, Camões, Alexandre O’Neill, Manuel Alegre, Ary dos Santos, Cesário Verde, José Régio, Pessoa, Sophia.. tantos outros. O que faz bem do fado uma obra de arte completa: a música, o poema, a cor e a luz, a voz, o corpo, a alma.

O fado é Portugal no mundo. É o nosso olhar e sentir de portugueses, de uma forma tão propriamente nossa como essa única guitarra portuguesa. É certamente por isso que, desde por volta do meio-dia de hoje, as lágrimas espreitaram-me várias vezes. Estou feliz!

Obrigado à Câmara Municipal de Lisboa. Obrigado ao Museu do Fado. Obrigado ao Carlos do Carmo, à Mariza, ao Rui Vieira Nery e a todos os que trabalharam com eles, pelo que fizeram e conseguiram para todos nós.

Como nós andamos precisados destas coisas que nos enchem a alma, que nos fortalecem o ânimo e o amor-próprio, que nos rasgam o futuro a partir das nossas raízes.

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