quarta-feira, 28 de março de 2012

Hino da Restauração (II): a origem do hino

Capa do libreto da peça de teatro musical “1640 ou a Restauração de Portugal”,
onde se incluía o Hino da Restauração

Em 1861, sob o impulso da recém-criada Comissão Central 1.º de Dezembro (hoje, Sociedade Histórica da Independência de Portugal), promoveram-se concursos de textos dramáticos sobre a Restauração. 

Logo nesse primeiro ano, concorreram ao prémio três peças:

  • “O Louco d’Évora ou Portugal Restaurado”, de João Ferreira da Cruz. Drama cuja acção decorria em Évora, Almada e Lisboa, entre 1637 e 1640. Estreou no Teatro S. Pedro de Alcântara, em 17 de Dezembro de 1862. 
  • “O 1.º de Dezembro de 1640”, de Alfredo Hogan. Composta por 3 actos, correspondentes aos dias 15 de Outubro, 26 de Novembro e 1 de Dezembro de 1640, tendo como principais personagens os conjurados D. Antão de Almada, João Pinto Ribeiro e Padre Manuel da Maia.
  • “1640 ou a Restauração de Portugal”, de Francisco de Almeida e Araújo, e de Francisco Joaquim da Costa Braga. Estreou no Teatro da Rua dos Condes, a 29 de Outubro de 1861. 


Esta última foi um estrondoso sucesso, facto para que os jornais da época apontam como uma das razões as 14 composições musicais da peça. Destas, destaca-se, pela sua musicalidade e conteúdo, o Hino da Restauração, que encerra a representação, musicado por Eugénio Ricardo Monteiro de Almeida. Este quadro final da peça corresponde à coroação e aclamação de D. João IV.

Dedicada ao Rei D. Pedro V e estreada no dia de aniversário do rei-viúvo, D. Fernando II, esta peça/libreto seria publicada a de 28 de Novembro de 1861. Por seu turno, o hino irá, segundo a historiadora Maria da Conceição Meireles Pereira, tornar-se “ao longo do século uma das composições mais emblemáticas das comemorações da independência nacional”.

O gosto pelo hino foi tal que começou a ser tido como uma canção nacional, deixando de ser cantado apenas na peça. Assim, após 1861, a partitura do hino é publicada e vendida, passando a ser executada por inúmeras bandas. Em várias localidades, por todo o país, tornou-se uso nas peças históricas, muitas delas promovidas pelas delegações da Comissão Central 1.º de Dezembro, cantar-se o hino da Restauração, seguido de vivas à Independência.  Em 1868, o correspondente em Guimarães do jornal “O Pais”, escreve “não posso descrever o enthusiasmo louco, que alli se via, principalmente quando se tocava o hymno da Independência Nacional e se descobria o retrato de Sua Magestade Dom Luis I. Nesta ocasião até as madamas se conservaram em pé nos camarotes.”

Havia mesmo, em certas localidades, desacatos quando alguns dos espectadores não se punham de pé ou não tiravam o chapéu aquando da sua apresentação. A título de curiosidade, refira-se que até o escritor/historiador Luís Augusto Rebelo da Silva foi obrigado a escrever uma carta aberta no jornal “Gazeta do Povo”, em 4 de Dezembro de 1869, a retractar-se de não se ter mantido de pé aquando da entoação do Hino da Restauração na récita do 1.º de Dezembro de 1869 no Teatro São Carlos, facto, diz ele, “que não passara tao somente de uma inocente distracção”.

Segundo testemunhos orais recolhidos, até há bem pouco tempo, no dia 1 de Dezembro, em certas localidades beirãs e alentejanas, fronteiriças, era hábito grupos de homens e rapazes saírem de suas casas pela manhã a entoar a letra do Hino da Restauração, nas chamadas “arruadas”.

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