segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A propósito de palhaços

Este comentário está «ligeiramente» atrasado, mas não perdeu actualidade, uma vez que, para parafrazear aquele senhor que é vice-primeiro-ministro, continuamos em época de tiro ao Cavaco.
Não! Não faz rir...
Li há dias no semanário The Economist um surpreendente artigo sobre a repulsa que causa a um grupo de pessoas alguém que vestido de fato e gravata ostente umas meias brancas de desporto...
Durante anos os homens do consulado Cavaquista foram identificados como os "homens das meias brancas", um compacto da ideia de que se tratava de um bando de arrivistas e oportunistas, sem modos nem maneiras, que comia de boca aberta e não se sabia vestir.
Na base desta maravilhosa visão do racismo social de uma certa elite Lisboeta que pensa que é a ultima coca cola do deserto, está a repulsa pela ascensão social da meritocracia dos antigos alunos das escolas industriais e comerciais.
Aníbal Cavaco e Silva transformou-se no ícone de tudo aquilo que essa elite que se julga bem pensante odeia nos "homens das meias brancas" .
Vem isto a propósito de que Miguel Sousa Tavares, expoente encartado dessa elite, escritor de romances, comentarista político, ex-advogado e "homme mondain" desta Lisboa queirosiana, aqui há uns tempos, num repente, decidiu chamar palhaço ao Presidente da República.
Não que tenha sido inteiramente consciente, até confessa que se excedeu, só lhe faltando invocar o beneficio do álcool, mas agora que disse e está dito acrescentou que palhaço, palhaço, não será, mas lá que não tem consideração pelo homem, não tem. OK.
Já Daniel Oliveira, moralista e indignado crónico, comentador de casos sociais de profissão, vai mais longe: que não senhor, que o dito é mesmo um palhaço no sentido que o dicionário dá à palavra, que é burlesco, que faz rir, e etc.
Devo dizer que ainda bem que MST e DO acham graça e se riem com Aníbal Cavaco e Silva: rir é o melhor remédio, como diziam as saudosas selecções do Reader's Digest.
Mas teremos de convir que o riso deles, é um bocadinho deslocado, boçal mesmo. Na verdade, nada em Aníbal Cavaco e Silva faz rir.
Pode inspirar ódio, amor e devoção, fidelidades políticas quase servis, irritação, mas riso?
Só um imbecil (ver definição no dicionário, para não se sentirem ofendidos) encontraria motivos de riso ou de burlesco no nosso actual presidente desta república.
Vejamos: ACS teve uma juventude pacata, licenciou-se em economia, cumpriu a sua comissão de servico militar em África, como alferes, doutorou-se em economia em Birmigham, ingressou como quadro superior no Banco de Portugal, dedicou-se a dar aulas de economia na universidade.
Nada que faça rir, até aqui.
Ainda novo, foi ministro das finanças de Sá Carneiro e fez um nome para si próprio.
Em 1984 explodiu de repente na política nacional, quando arrancou a presidência do PSD com duas ideias simples: a primeira, de que uma vez eleito, poria termo imediato ao desastroso projecto de bloco central em que o país estava enterrado; a segunda de que para mudar o país, carecia de um Presidente capaz e que o seu candidato era Diogo Freitas do Amaral. Um simples discurso que mudou em horas a vida política nacional.
As eleições de Outubro de 1985 deram-lhe uma maioria relativa. O que fez como primeiro ministro entre 1985 e 1987 garantiu-lhe a maioria absoluta de 1987. Entre 1985 e 1992 mudou o país. Em 1991 tinha obtido a sua segunda maioria absoluta. Na política portuguesa nada semelhante tinha acontecido até então.
Em 1995 deixou o cargo de primeiro ministro e candidatou-se a presidente da republica. Perdeu. Voltou em 2005, recandidatou-se e venceu as eleições. Repetiu em 2010.
Presidente da República reeleito viu-se na contingência de ter de lidar com a mais grave crise económica e social com que Portugal se defrontou em muitas décadas. O que é que nisto tudo pode fazer rir MST e DO, é para mim um mistério.
Não gostam do personagem e estão no seu pleno direito. Mas, rir? Lá diz o povo que "muito riso, pouco siso".
Que a esquerda odeia ACS não é novidade. Qualquer pretexto seria bom para lhe chamar palhaço ou outra brutalidade qualquer. Agora não seria mau que tivessem na devida conta que quem quer ser respeitado é bom que se dê ao respeito e a melhor forma é começar por respeitar os outros. O desrespeito, como MST devia saber, contem em si os germes do ódio, da boçalidade enfática, da represália amargosa.

Em suma, as vossas palhaçadas não nos fazem rir, mas a prazo terão um preço elevado. 

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